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“As redes sociais são uma extensão da personalidade humana”, diz o psicoterapeuta Tiago Souza

Estamos vivendo uma nova era nas relações humanas, através da internet. Somos conectados uns aos outros pelas redes sociais e a adaptação aos novos tempos se faz necessária para utilizarmos as redes de forma mais saudável. Conversamos com o psicoterapeuta Tiago Souza que abordou de forma didática esse assunto tão necessário para a realização desse reajuste, com o objetivo de termos mais qualidade de vida no mundo virtual.

Milénio Stadium: Qual o impacto das redes sociais na vida das pessoas?
Tiago Souza: As mídias sociais estão fazendo mudanças permanentes na vida das pessoas, principalmente nas relações. Elas estão aí para formar grupos, por exemplo: o Facebook que nasceu para estreitar as relações entre estudantes de uma determinada faculdade, surgiu no intuito de reunir este grupo em específico. A partir daí o Facebook invadiu a vida familiar, a profissional, e é inevitável não participar dela. É no mínimo incomum não fazer parte disso e estamos num momento que precisamos nos educar para não sermos controlados e mostrar ao mundo como queremos ser apresentados.

MS: As mídias sociais às vezes têm o papel de vender uma vitrine da perfeição. Corpos perfeitos, vida perfeita, viagens pelo mundo, enfim, uma infinidade de situações que podem gerar nas pessoas ansiedade e depressão por não conseguirem alcançar essa perfeição. Como se esquivar dessa falsa vitrine?
TS: Ontem mesmo eu vi uma reportagem falando sobre isso, apresentando uma pesquisa que foi feita em Montreal e publicada no jornal da American Psychiatry, que fala dos riscos da depressão, principalmente nos adolescentes, pelo uso excessivo e não educado das mídias sociais. Muitas vezes vemos aquela vida perfeita mostrada nas timelines que nos deixam com um vazio existencial, e esse sentimento é gerado principalmente em adolescentes que estão desenvolvendo a sua identidade. Pensando nisso, são dois aspectos que precisam ser analisados: a mídia social é uma extensão da minha vida, então eu preciso, antes de mais nada, me conhecer, entender o que eu sou e o que falta em mim. A partir desse momento, partimos para o próximo passo que é o controle do que eu quero ver nas redes sociais. Entender quais são as potenciais funções benéficas da mídia social é extremamente importante.

MS: Há um movimento de grande intolerância no mundo virtual – isso pode se estender para vida real?
TS: Sem dúvidas. Se eu tenho a tendência de ser agressivo com os outros, eu vou fazer a mesma coisa na vida virtual. Mas fato é que os comentários desmedidos podem trazer consequência severas, inclusive no âmbito profissional. E pensando de maneira macro, a manipulação de informação pode criar tendência e influenciar nações no destino político, econômico e social.

MS: Você acredita que as redes sociais demonstram um aspecto da personalidade humana?
TS: Posso dar o exemplo do LinkedIn que acho um ponto muito positivo, inclusive. Essa plataforma tem um objetivo específico de mostrar o lado profissional, e é somente isso que o usuário deseja apresentar: o aspecto profissional. O que eu quero dizer é que as redes têm um papel de extensão da sua personalidade, mas ela não pode substituir as relações interpessoais. Porque a mídia social não me dá calor humano, contato, e se a vida digital passa a ser mais importante que a vida em carne e osso, aí existe um problema.
Outro ponto importante sobre este tema é que conhecemos muitas pessoas que pessoalmente achamos ser inteligentes, sensíveis, de bom caráter, congruentes em suas conversas, mas quando nos deparamos com algumas de suas postagens nas redes, ficamos chocados. Ou seja, a mídia social faz com que um fragmento de uma opinião na qual não concordamos reduza a pessoa naquele comentário. E essas opiniões polêmicas das outras pessoas sempre existiram: é que em algum momento da vida, quando não tínhamos a internet, grande parte da vida das pessoas continuavam privadas.

MS: É um erro não se preocupar com o julgamento alheio ao emitir uma opinião nas redes sociais?
TS: Eu não acredito que seja um erro e sim que seja uma questão pessoal. Se a pessoa não se importa com o que ela escreve, está tudo bem. Pode ser que haja uma consequência, como o afastamento de amigos, seja na vida virtual, seja na real e também consequências jurídicas.

MS: Quais são os aspectos positivos das mídias sociais?
TS: Nós estamos na era da cidadania digital. Então é preciso que a gente desenvolva mecanismos de educação, de instrução, de mentorado em relação à mídia social e à vida digital como um todo, porque essa nova mídia nos dá oportunidades profissionais, de fazer conexões com outras pessoas, vencer isolamento, de tratar doenças mentais. As plataformas digitais nos ajudam a difundir muitos benefícios e informações com o mundo inteiro, em questão de minutos.

MS: Qual o recado que você deixa para o consenso entre as gerações antes e depois da era digital?
TS: Nós estamos vendo uma transformação nas relações interpessoais por conta da questão da mídia social. Muitas pessoas estão sofrendo hoje porque não estão tendo controle sobre como lidar com a vida digital. E precisamos entender a importância de ter uma conversa muito aberta entre os membros da família, com o objetivo de entender como fazer melhor uso das redes. As gerações anteriores não entendem da mesma maneira que as gerações futuras entendem a vida digital. Talvez seja uma oportunidade para a gente ter uma conversa face a face sobre esse novo modo de vida. E precisamos entender que a vida digital nunca pode substituir a vida real. Ela nunca vai nos dar calor humano, o toque, e os momentos prazerosos da vida real. A mídia social tem que ser um instrumento para ajudar no aprimoramento das nossas relações, e a partir do momento que notamos isso como um prejuízo, temos que procurar ajuda. Nos conhecer é fundamental para o equilíbrio real e digital.

Adriana Marques

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