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“As perspetivas para este ano são fracas, mas estou a ver que no próximo ainda vão ser piores”

A pandemia e a agricultura

A pandemia pela qual todos passamos tem tido, e terá ainda, várias consequências na vida de todos. Temos consciência, desde já, que nos espera um recomeço vagaroso e incerto. Há, no entanto, setores profissionais que estão a ser muito prejudicados e que, mesmo que não façamos parte deles enquanto trabalhadores ou proprietários, seremos também nós afetados. É o caso da agricultura e da pecuária.

Nesta edição do jornal Milénio Stadium, onde falamos da importância da renovação proporcionada pela primavera, conversámos com Carlos Gonçalves, agricultor plenamente conhecedor da área e que nos diz como tem sido e como será lidar com a crise que este surto da Covid-19 criou e criará no setor agrícola.

Milénio Stadium: De que forma a agricultura foi/tem sido afetada pela pandemia causada pela Covid-19?

Carlos Gonçalves: Tem sido afetada como quase todos os outros setores. As pessoas não compram, temos gado que não se pode vender, não se pode cultivar da mesma forma – não é o meu caso, mas os lavradores não têm gente para cultivar as terras.

MS: As associações de agricultores pediram ao Governo apoio no total de 2.6 mil milhões de dólares. No entanto só tiveram, até agora, 250 milhões. Quais são as vossas necessidades e em que medida o dinheiro pedido vos iria/irá ajudar?

CG: Eu sou um lavrador “part-time” (risos), por isso não é propriamente o meu caso, mas os agricultores precisam realmente de muito mais porque tem que se comprar muito mais ração para os animais que não se podem vender, por exemplo, além disso este ano não se pode semear como nos anos anteriores. Vamos sentir a falta no próximo ano de alimento para os animais e também para as pessoas, porque como sabe da lavoura é que sai tudo. Penso que o primeiro-ministro Justin Trudeau está a ajudar muitos setores e a deixar este da agricultura para trás. Acho que se devia ter um pouco mais de consideração pelos lavradores porque são eles que nos trazem tudo no que aos alimentos diz respeito.

MS: De que forma se consegue garantir que as regras de segurança, nomeadamente a distância entre funcionários, acontecem neste meio?

CG:  Bem, o lavrador sempre consegue ter mais distância do que outros setores, porque é campo livre, ar livre, tem por isso mais possibilidades de ter a distância necessária do que qualquer outro meio, no entanto temos que também ter cuidado, connosco e com aqueles que trabalham ao nosso lado. Por exemplo, quando se semeia o tomate ou a couve, claro que existem as máquinas, mas normalmente atrás vão duas pessoas e não muito distantes enquanto fazem esse tipo de trabalho. Claro que agora tem que se arranjar uma solução, tem que se investir, para que casos como esse se resolvam de forma a se respeitar as leis e o que é agora necessário para que todos estejam em segurança.

MS:Outra vertente importante para a agricultura tem que ver com os agricultores sazonais. Com a circulação de pessoas cada vez mais limitada, que expectativa é que tem para esse tipo de trabalhadores este ano?

CG: A expectativa não é muito boa. Vai ser muito difícil trazer pessoas de fora. Esses grandes agricultores têm que trazer pessoas para apanhar o tomate, para apanhar a maçã, o morango, a alface, a cebola, etc. Vai ser muito complicado. Até porque quase que nem vieram pessoas na altura da sementeira, depois para a colheita vamos ver, mas estou a ver o caso muito difícil.

MS:Quais as perspetivas para a agricultura e pecuária para o resto do ano perante esta situação de pandemia?

CG: As perspetivas para este ano são fracas, mas estou a ver que no próximo ainda vão ser piores. Os grandes agricultores não têm as sementeiras feitas. A cebola, a alface, tomate, pimentas, vem tudo da terra e eles não fizeram as grandes sementeiras que deviam ter sido feitas e todos nós vamos sentir. A comida vai aumentar muito o preço. A carne então vai ter um grande aumento.

Catarina Balça/MS

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