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“As dietas só dão certo quando mudamos os nossos hábitos alimentares”

Isabel Sinde é uma voz bem conhecida da comunidade portuguesa. A cantora de blues tem 52 anos e desde que se conhece que tem problemas em controlar o peso.  Há poucos anos foi diagnosticada com pré-diabetes e descobriu a dieta citogénica com a qual já perdeu 26 quilos. 

Milénio Stadium: Quando é que começaste a perceber que tinhas dificuldades em controlar o peso?

Isabel Sinde: Desde sempre, nunca fui magrinha, sempre tive uma luta especial com a balança. Tentava fazer dietas e algumas até funcionavam, mas as dietas só dão certo quando mudamos os nossos hábitos alimentares. Se voltamos às rotinas antigas as dietas não funcionam, acabam por ter o efeito contrário. Ou recuperamos o peso que perdemos – efeito yo yo – ou ganhamos ainda mais peso.

Ao longo da minha vida fiz todo o género de dietas, algumas mais radicais do que outras. Já tomei comprimidos para emagrecer, segui a dieta dos ovos, as sopas de vegetais, o problema é que daí a dois meses engordava de novo.

Pode parecer difícil de acreditar, mas o nosso corpo habitua-se a determinados alimentos. No meu caso os hidratos de carbono (doces, leite, pão, batata, farinhas, massas) são o maior problema. 

MS: Tens mais vontade de comer quando estás mais frágil a nível emocional?

IS: Acontece sempre. Evito estar em casa quando estou nervosa ou stressada porque acabo por comer em excesso. É como se fosse uma droga e a comida é um refúgio. 

MS: Como é que são as tuas refeições?

IS: Antigamente fazia três refeições principais – pequeno-almoço; almoço e jantar. Hoje é completamente diferente, faço duas refeições principais – almoço e jantar e evito comer depois das 20H.  

MS: Qual é a dieta que segues atualmente?

IS: Nos últimos dois anos tenho seguido a dieta cetogénica, é uma dieta pobre em hidratos de carbono e rica em proteínas e gorduras animais. Mas também sigo o “intermittent fasting” – um jejum intermitente. Faço uma espécie de jejum para deixar o corpo livre da glicose e a minha primeira refeição é por volta do meio dia. O corpo acaba por transformar as gorduras depositadas em energia em vez que ir diretamente aos açúcares. 

Em dois anos perdi 26 quilos, mas ainda não estou satisfeita. 

MS: Quando é que percebeste que a dieta cetogénica era a certa?

IS: Conheço alguém que tem ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) e que segue esta dieta. Depois comecei a pesquisar e a ouvir podcasts. Acredito na dieta cetogénica, mas não a sigo à risca porque quando estou mais em baixo a nível emocional ainda recorro ao pão e às massas. 

MS: Quais são os alimentos a que dás preferência?

IS: Carnes, ovos e queijo. Também consumo boas manteigas, bons azeites e bons óleos, de abacate e de coco por exemplo. Estes lípidos dão-me energia e saciam-me a fome. Com os hidratos de carbono é precisamente ao contrário porque acabo por sentir fome pouco depois de ingeri-los. Não consumo leite porque é um alimento processado e rico em açúcar.

MS: É fácil encontrar estes alimentos em Toronto?

IS: Antigamente não, mas hoje já encontramos na maioria dos supermercados da cidade. Agora é fácil encontrar pacotes de arroz de couve-flor, que é um bom substituto das massas.Gosto muito do Metro e do Superstore, mas até o No Frills é bom. Acho que a procura é cada vez maior e o retalho acaba por responder às necessidades dos consumidores. 

MS: Um dos problemas da obesidade é uma maior propensão para ter diabetes.

IS: Há cerca de três anos fui diagnosticada com pré-diabetes. Tenho excesso de peso e carga genética, dois fatores que são decisivos para o aparecimento da diabetes. Como não gosto de tomar medicamentos fui à procura de algo que me fizesse bem e descobri a dieta cetogénica. Antes estava sempre com inflamações, durante três meses perdia a voz e as gripes eram fortes. Estava sempre cansada e tinha muitas dores nas articulações. Agora sinto-me melhor e neste inverno não me constipei. 

MS: Praticas exercício físico?

IS: Infelizmente não tenho tempo para ir ao ginásio, mas cheguei a fazer natação e gostava muito, ia duas ou três vezes por semana. 

Agora quando posso faço caminhadas com a minha cadela Sintra, um dia destes fomos ao veterinário a pé. 

MS: Não és acompanhada por um nutricionista. Tiveste alguma má experiência?

IS: Acho que a maioria dos médicos usa a mesma dieta para todos os pacientes. O problema é que nós somos todos diferentes e o que é bom para uns, nem sempre resulta com todos. Não defendo que os ignoremos, mas devemos tentar encontrar as nossas respostas. 

MS: Já te sentiste discriminada? Tens algum episódio que queiras partilhar connosco?

IS: Aprendi a lidar com isso. Não vou dizer que já não me incomoda, mas cada vez dou menos importância. Da última vez que fui de férias a Portugal um homem queria vender-me comprimidos para emagrecer. Fiquei incomodada não por ele me ter chamado gorda, mas por ter invadido a minha privacidade enquanto estava a jantar fora com a minha família. 

MS: As mulheres são pressionadas para serem magras e bonitas?

IS: Uma mulher pode namorar com um homem gordo, mas se for ao contrário já não pode ser. Acho que o marketing é mais voltado para as mulheres do que para os homens. Nem todos somos modelos, eu não quero ser magra, já ficaria feliz se vestisse o 44.  

MS: Achas que as escolas deveriam ensinar educação alimentar?

IS: Crescemos sem saber comer da forma correta. Conheço poucas crianças que gostem de vegetais e de água. Eu bebo três litros de água por dia, mas conheço muitas pessoas que são viciadas em bebidas com gás. Acho que o açúcar e as bebidas com gás deveriam ser banidos das escolas. É importante incutir esses valores nas próximas gerações. 

MS: Os alimentos com maiores níveis de açúcar são sempre mais económicos.

IS: Os vegetais são mais caros que as batatas fritas e os doces.  Na minha opinião tudo o que é processado e tem muito açúcar deveria ser mais caro. Deveríamos dar preferência aos produtos de época em vez de importarmos tantos alimentos. 

MS: É difícil seguir uma dieta sobretudo quando temos raízes portuguesas?

IS: É mais difícil, mas não é impossível (risos). Eu adoro bacalhau com natas, mas substituo a batata pela couve-flor, não é igual, mas sabe bem. E também resulta com outros pratos, no caldo verde ou no arroz de pato, por exemplo. 

MS: Que conselhos é que dás a alguém que tenha excesso de peso ou problemas de saúde relacionados com a obesidade?

IS: Pesquisem até encontrarem a dieta certa para o vosso caso. A dieta cetogénica funciona comigo, mas cada caso é um caso. Não se deixem levar apenas pelos médicos porque alguns deles só têm um semestre de nutrição. 

Joana Leal

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