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Anjo da Guarda – Paulo Neves: De Portugal para o Canadá

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A Camões Square, a partir de sábado, 13 de maio, passará a ter mais um motivo de atração e orgulho português. Para além de todos os elementos já existentes, que nos remetem para a história da comunidade portuguesa no Canadá e reforçam a importância dos luso-canadianos na construção da sociedade do país que os acolheu, a Praça que liga a College Street com a Crawford, vai expor uma escultura de Paulo Neves, que ficará para todo o sempre a honrar e a recordar os pioneiros, que em 1953 tiveram a coragem de vir desbravar os caminhos da comunidade portuguesa no Canadá.

Nesta breve conversa, Paulo Neves explica-nos a sua obra e todo o processo desde a conceção até à instalação de uma obra que, tal como aconteceu com todos os portugueses que aqui viveram ou vivem, teve que atravessar o Atlântico para aqui ficar. Para sempre!

neves-1Milénio Stadium: O que é que o Paulo Neves pretendeu transmitir com a obra que vai ficar eternizada aqui na Camões Square (Crawford e College)?
Paulo Neves: Quando me fizeram o pedido ou o desafio para fazer uma peça para comemorar os 70 anos da chegada dos imigrantes de Portugal ao Canadá, Toronto, mais propriamente, eu fiquei um bocado assim: agora, o que é que eu faço? Eu sempre digo que vou fazer exercícios mentais quando me fazem desafios assim. Para mim foi um prazer muito grande fazer uma peça para ficar aqui em Toronto, mas na altura não sabia muito bem como é que ia resolver esta coisa. Eu tinha que arranjar um tema, não é? Então pensei que toda a gente, pelo menos eu desde pequeno tenho esta coisa da relação com o meu anjo da guarda. Acho que tenho sempre um anjo que me protege, um anjo que toma conta de mim. E desde pequeno eu dizia aquela oração ao fim do dia, antes de me deitar, que era: “anjo da guarda, minha companhia, guarda a minha alma de noite e de dia…”. Eu acho que para os portugueses virem para cá tinham de ter um anjo da guarda a protegê-los. Então lembrei-me de fazer um anjo da guarda, um grande anjo com cerca de sete metros de altura, com mármore do Alentejo. Vai ter a base mais escura e a parte de cima mais clara. Digamos que faço um degradê no anjinho. Começa com muito dureza, com muito escuro. E acaba em cima com um rosa e branco.

MS: No fundo, a base escura trata-se de uma metáfora relativamente à dureza do sair do nosso país… o recomeçar de vidas que é sempre complicado.
PN: É sempre muito difícil. Eu acho que para toda a gente, não é. No princípio achamos que é difícil, batemos a várias portas e é difícil alguém nos dar trabalho, não é? Depois as coisas vão acontecendo e umas coisas levam a outras e de repente pronto a vida já está mais composta. Mas depois, também de repente, já ficas velho… e a tua missão nesta vida está cumprida e partes para outra vida.

MS: Esta sua obra é uma das muitas que estão já espalhadas pelo mundo, não é verdade?
PN: Sim! Tenho peças em muitos lados, desde o Japão, a quase todos os países da Europa. Tenho coisas grandes, em museus, em espaços públicos e em coleções particulares. Praticamente tenho trabalhos em todo o mundo também porque já trabalho há muito tempo.

MS: Para um artista é complicado trabalhar a pedido?
PN: Não, não é não. Eu gosto! Gosto de desafios e gosto de projetos. Por exemplo, eu agora vou inaugurar em julho, dia 14 de julho, uma exposição em Serralves, no Museu de Arte Moderna no Porto, em que fui desafiado também para fazer uma exposição ali e que tem a ver com os 100 anos de Serralves. E então, o que é que isso desafia? Neste caso, foi um bocado esta coisa do tempo das árvores. As árvores têm um tempo, nós temos um tempo. As árvores também morrem… então esta exposição começou um bocado por pegar em árvores que já estavam mortas, já tinham caído e dar-lhes uma outra vida. No fundo, fazê-las ressuscitar. E foi um bocado isso.

MS: Os materiais que usa habitualmente, Paulo, são exatamente a madeira e a pedra também, muito em particular o mármore.
PN: É sim a madeira, a pedra, neste caso mármore, eu usava muito granito, mas tem muita sílica e começou a dar-me cabo dos pulmões. Então, optei por trabalhar o mármore e então trabalho, normalmente, madeira, mármore, bronze, plásticos… no fundo, todos os tipos de materiais, não é, porque cada material me permite fazer um determinado tipo de coisas. O que se pode fazer em madeira pode ser impossível fazer-se com a pedra.

MS: Relativamente à questão logística, o transporte de peças como esta, por exemplo, que veio de Portugal para Toronto, com sete metros de altura… é uma das componentes importantes para si. Pensar na forma como as coisas podem correr bem, não é? De que maneira é que podem chegar as peças?
PN: Já se sabe que a escultura é sempre muito mais complicada do que a pintura.

MS: O momento da montagem, é particularmente angustiante, não é?
PN: É sempre stressante, é sempre um stress. Será que vai correr bem? Será que não vai? Será que vão partir isto tudo. A noite passada praticamente nem dormi a pensar em como é que ia ser. A grua será boa? O condutor da grua, o homem da grua é bom, sabe trabalhar bem com ela? Porque no fundo temos de trabalhar mesmo, centímetro a centímetro, quase a milímetro, pelos ferros. E colocar as peças umas em cima das outras. E há pessoas que não estão muito habituadas a trabalhar com gruas e que são um bocado brutas e eu não controlo muito bem essa coisa. Este projeto foi impecável. O senhor que manobrou a grua era impecável, fez muito bem o trabalho. Com muito cuidado, com muito cuidado. Correu tudo muito bem.
Mais à frente neste jornal (páginas 12 e 13) pode ler a entrevista de Paulo Perdiz com o escultor Paulo Neves e ficar a saber mais sobre o artista e a sua vasta obra.

Madalena Balça/MS

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