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Ana Bailão e a sua maior bandeira Habitação acessível em Toronto

Affordable Housing - milenio stadium

 

Toda a gente sabe que comprar casa em Toronto não está ao alcance de qualquer um. Os valores do mercado imobiliário, na cidade que mais cresce na América do Norte, continuam a bater recordes e a maioria dos jovens vai adiando o sonho de aquisição de casa própria ou até de arrendamento de uma habitação na cidade de Toronto.

Segundo o Toronto Real Estate Board, o preço de referência de uma casa vendida na cidade é agora (janeiro de 2023) de $ 1,038,668, menos 16,4% do que em janeiro de 2022. Ainda segundo a mesma fonte em janeiro de 2022 foram vendidas 5,594 casas, menos 44,6% do que no período homólogo de 2023. Ou seja, vende-se menos apesar dos preços terem descido. Pelos vistos, a descida não foi, no entanto, suficiente para atrair mais compradores, até porque o dinheiro está mais caro com as taxas de juro a sofrerem aumentos para combater a inflação. Como resultado, Toronto está a ficar uma cidade sem habitantes jovens o que pode comprometer o seu futuro.

Ana Bailão é conhecida pela sua luta pela habitação acessível que sempre considerou ser parte essencial do desenvolvimento da cidade. Em 2019 foi convidada pelo Canadian Club, para apresentar o seu projeto de Affordable Housing. Nesse evento que decorreu no Fairmont Royal York Hotel estiveram presentes altas figuras da sociedade canadiana com trabalho desenvolvido no setor que com a sua presença reconheciam a importância do tema, mas ainda mais de Ana Bailão pelo trabalho que desenvolveu na Câmara Municipal de Toronto.
Nesta edição, publicamos de novo a conversa que Joana Leal teve, na ocasião, com a então vice-presidente da Câmara Municipal de Toronto.

Milénio Stadium: Como é que foi subir a este palco e discursar pela primeira vez no Canadian Club?
Ana Bailão: Quando foi anunciado pela primeira vez, um dos antigos presidentes da Câmara Municipal de Toronto, Art Eggleton, enviou-me um e-mail a felicitar-me pelo facto de estar a falar sobre habitação acessível no Canadian Club porque normalmente o tema só é abordado aqui por ministros ou autarcas. Nunca mais pensei no assunto até chegar hoje cá e em conversa com a diretora executiva do Canadian Club perceber que nomes como o de Winston Churchill e o de Margaret Tatcher, antigos primeiros-ministros de Inglaterra, já discursaram neste clube. Foi importante porque acho que é o reconhecimento do meu trabalho e fiquei feliz por a sala estar completamente esgotada. No início quando comecei a falar sobre habitação acessível percebia que as pessoas não estavam muito interessadas neste tema. Hoje a sala estava cheia, desde empresários a associações sem fins lucrativos e foi bom perceber que eles estavam interessados num assunto que é tão importante para o futuro de Toronto.

Milénio Stadium: Hoje o preço da habitação em Toronto é bastante elevado e a população continua a aumentar. A habitação não deveria ser um direito de todos?
Ana Bailão: O governo federal já reconheceu isso com a criação do National Housing Strategy. Estou confiante que quando este plano para os próximos 10 anos for apresentado a cidade também o vai fazer, pelo menos eu vou lutar para que isso aconteça. O plano da Câmara Municipal tem de ser concreto e tem de apresentar formas de medir o processo para a criação deste tipo de habitação.
Como é lógico os governos não podem dar casas às pessoas, mas temos a obrigação de criar legislação para que haja oportunidade para construir estas casas e para que as pessoas possam ter acesso.

Milénio Stadium: Mais de 100,000 habitantes gastam mais de 50% dos seus rendimentos em aluguer. É um valor justo?
Ana Bailão: É um valor muito elevado e sabemos que as pessoas estão sobre endividadas por causa destes valores. As pessoas têm de facto dificuldades para viver em Toronto e a classe trabalhadora não consegue comprar nem arrendar na cidade. Isto não é saudável para a economia nem para a existência social da cidade.

Milénio Stadium: Vamos ter millenials a viver em Toronto nos próximos anos?
Ana Bailão: Espero que sim e é para isso que estamos a trabalhar tanto. Mas se continuarmos a trabalhar da mesma forma como temos trabalhado até hoje acho que isso não vai acontecer. Vamos ter uma cidade onde só quem consegue comprar uma casa de $2 milhões é que pode viver cá e o nível de pobreza vai ser muito elevado.

Milénio Stadium: Quais foram os principais avanços nesta área a nível municipal?
Ana Bailão: Temos vindo a dar grandes passos, ainda que a grande custo. Criámos incentivos e disponibilizámos fundos para a habitação; cedemos terrenos municipais para construir e remodelámos as unidades do Toronto Community Housing Corporation (TCHC). Toronto sofre diariamente muitas pressões, inclusive na área dos transportes públicos, mas de certa forma estes problemas são transversais a todas as grandes cidades mundiais. A população aumenta nas cidades e as autarquias não tem os mesmos recursos financeiros que um governo federal ou provincial tem. Em Toronto temos o imposto predial e pouco mais e fazer tudo isto neste imposto não faz sentido.

Milénio Stadium: Por onde passa então a solução?
Ana Bailão: Disponibilizar mais terrenos para construir, flexibilizar as leis para construir; precisamos de investimento, temos de construir, mas em simultâneo precisamos de manter o que já temos. O atual presidente da autarquia (na altura, John Tory) comprometeu-se a construir 40,000 habitações em 12 anos. Nos últimos três anos conseguimos aprovar mais de 1,000 habitações em cada ano, acho que conseguimos fazer melhor e é para isso que estamos a trabalhar.

Milénio Stadium: Quantos pessoas é que estão atualmente em lista de espera e quais são os próximos passos?
Ana Bailão: Temos 78,000 famílias à espera de habitação. Normalmente quem está a aguardar por arrendamento tem um nível de rendimento anual muito diferente de quem quer comprar. Agora em dezembro vamos lançar o plano para os próximos 10 anos que inclui algumas recomendações para alterar o planeamento. Para a comunidade portuguesa o Magellan Community Centre que vai nascer em Davenport vai contar com cerca de 60 unidades deste género. Eu vivo em Davenport e se fosse hoje não conseguia comprar a minha casa.
Madalena Balça/MS

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