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Amar e respeitar

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A noite já tinha caído em Toronto. Zandro fazia o caminho de volta para casa, mas acaba por conhecer Corazon, no Exhibition Place… e também ele “caiu” a seus pés. Foram os “seus encantos” que o atraíram, segundo nos contou. A partir daí a história desenrolou-se de forma natural – de forma resumida, como a da maioria dos casais espalhados pelos quatro cantos do mundo. Conversaram, ficaram a conhecer-se melhor, o sentimento cresceu… até que hoje o par, casado há 16 anos, se transformou numa bela família com quatro filhos: três meninas e um menino.

Esta é uma bonita história de amor (se é que existem histórias de amor que não o sejam…) comum a tantos casais que conhecemos. Mas, por algum motivo (vá-se lá saber qual) para algumas pessoas há um pormenor que faz toda a diferença: Zandro é angolano e Corazon é filipina. A sua família é, portanto, aquilo a que se chama “mixed family”. Sabe-se que ao longo das últimas décadas as famílias no Canadá se têm tornado cada vez mais diversificadas – não fosse o multiculturalismo uma das “imagens de marca” do país – e a percentagem de crianças de etnia mista passou de 8% em 2001 para 15% em 2016.

Nesta edição do jornal Milénio Stadium, em que nos propusemos a saber mais sobre as famílias de hoje – o que as estrutura e também as questões e fragilidades que as podem destruir – quisemos perceber a realidade de uma entre tantas uniões multirraciais.

E agora, pensando bem, até conseguimos encontrar uma razão para que a nacionalidade dos membros desta família faça toda a diferença: é que os torna (ainda mais) especiais.

Milénio Stadium: Desde que estão numa relação alguma vez foram vítimas de algum tipo de preconceito ou até racismo pelo facto de serem de diferentes nacionalidades/ascendências? Quer a nível individual ou mesmo enquanto casal… Se sim, como é que lidaram com a situação?
Zandro Chivinda: Nunca experienciei qualquer tipo de atitude racista desde que começámos a namorar, mas notei um sentimento de preconceito, ou talvez possa dizer preocupação, mas isso foi porque as pessoas não me conheciam.

MS: Sabendo que cada etnia tem os seus próprios costumes, hábitos e até formas de ver a vida, como é que conseguiram encontrar o equilíbrio enquanto casal?
ZC: Tendo em conta que ambos somos de um continente diferente, a única forma de manter o equilíbrio na nossa vida de casados era compreender e respeitar ambas as culturas.

MS: Houve algo que considerem que tenha sido especialmente desafiante nesse processo de “mistura” das vossas duas culturas? Quer na vossa vivência a dois, quer no vosso círculo familiar ou de amigos…
ZC: Nesta nossa viagem de mistura de culturas, o único desafio que ainda temos até hoje é conseguir que a nossa família fale uma única língua (o inglês) quando estamos todos juntos, incluindo a minha família.

MS: E quando decidiram ter filhos… alguma vez vos passou pela cabeça que nem todos pudessem olhar para a riqueza que a mistura de raças/etnias encerra em si como algo positivo?
ZC: Quando decidimos ter filhos, não pensámos no impacto que tal poderia ter noutras pessoas – mas se tivesse, acredito que seria por ser “ok” misturar.

MS: Os vossos filhos alguma vez vos relataram algum episódio em que tenham sido prejudicados/maltratados por esse facto?
ZC: As crianças nunca enfrentaram nenhuma situação em que estivessem a ser julgadas ou elogiadas por serem “mixed”.

MS: O que acham que pode explicar que, em pleno ano 2023, algumas pessoas ainda não compreendam/aceitem as mixed families?
ZC: Aos que ainda são contra a mistura étnica diria que chegou a altura de começar a aceitar a ideia de mistura de culturas, porque há muitos benefícios que podem advir dessa integração. Não se preocupem em perder a vossa cultura, porque o bom de misturar é que ambas as pessoas, se se amarem, podem aprender sobre a cultura uma da outra.

Inês Barbosa/MS

 

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