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Abuso de substâncias na noite termina nas salas de emergência

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Créditos: DR

Pedro Malungo é assistente clínico no departamento de urgências do St. Michaels Hospital que está localizado na interseção da Queen Street com a Young Street na baixa de Toronto. Em entrevista ao Milénio Stadium, Malungo, que nasceu em Angola e que conta com mais de 18 anos de experiência na área da saúde, lamenta que o abuso de substâncias na noite termine muitas vezes nas urgências no St Michaels. Habituado a turnos noturnos longos, o angolano-canadiano deixa aqui o alerta: “é bom que as pessoas tenham a noção de que uma noite de diversão e alegria pode terminar numa tragédia ou com consequências para o resto da vida”.

Casado e pai de três filhos, dois meninos e uma menina, admite que por causa do seu horário de trabalho perde alguns momentos importantes da família, mas no fim acaba por valer a pena porque “enquanto eles dormem está a salvar vidas”.

Durante os 20 meses de pandemia de COVID-19 percebemos a importância dos profissionais de saúde e os grandes sacrifícios que fazem para que possamos ter cuidados de saúde à nossa disposição quando precisamos. Pedro reconhece que é difícil reajustar “o corpo e a vida a horários diferentes”, mas defende que à noite os cuidados tornam-se numa prioridade porque durante o dia os hospitais têm outras responsabilidades.  Na opinião de Pedro, os profissionais de saúde como ele deveriam ter salários melhores “pelo tipo de trabalho que fazemos e pelos riscos que estão associados a esta profissão”.

Milénio Stadium: Onde é que trabalha e qual é o horário do seu turno? Quantas horas trabalha por semana? Há quantos anos trabalha à noite? Está satisfeito com o seu salário?

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Pedro Malungo, assistente clínico no departamento de emergência St. Michael Hospital em Toronto. Créditos: DR.

Pedro Malungo: Trabalho no Hospital St Michael e o meu turno noturno é das 19:30H às 7:30 da manhã. Nos últimos tempos tenho trabalhado mais durante o dia, mas faço o turno da noite desde que comecei nos cuidados de saúde há mais de 18 anos. Trabalho 75 horas por quinzena. Creio que deveríamos receber mais pelo tipo de trabalho que fazemos e pelos riscos que estão associados a esta profissão.

MS: Quais são as grandes vantagens de trabalhar à noite?

PM: Acredito que uma das maiores vantagens é a capacidade de concentração nos pacientes. Os cuidados tornam-se a prioridade porque os outros deveres administrativos e a logística são feitos sobretudo durante o dia.

MS: Quais são as principais desvantagens de trabalhar à noite?

PM: Creio que ajustar o nosso corpo e a nossa vida a um horário diferente.

MS: Como são as ruas da cidade quando entra e sai do seu turno?

PM: Trabalho no centro da cidade, numa zona muito movimentada. Chegar ao trabalho é normalmente um momento muito efervescente. As pessoas começam a jantar, os bares estão cheios de clientes e muitas lojas ainda abertas. A meio do meu turno, durante os dias da semana, a noite é tranquila. Mas aos fins-de-semana, a noite é efervescente. No fim do turno, a cidade acorda com vários trabalhadores frescos e prontos a chegar para começar o dia.

MS: Imagino que existam dias mais difíceis nas urgências de um hospital.

PM: Tenho muitas histórias impressionantes no trabalho, especialmente à noite. Vemos o poder do abuso de substâncias nos locais de entretenimento noturno que acabam nas nossas urgências. É sempre necessário que as pessoas saibam que uma noite de diversão e alegria pode terminar numa tragédia ou ter consequências para a vida inteira. Além disso, a violência que acontece durante as noites tranquilas também é preocupante.

MS: Como é que concilia os turnos noturnos com a vida familiar? Sente que perde momentos importantes?

PM: Claro, especialmente aos fins-de-semana e feriados, quando tenho de trabalhar. Mas eles sabem como sou sério e empenhado no meu trabalho e compreendem e têm orgulho no que faço. Perco alguns momentos, mas a maioria das vezes quando eles dormem eu estou a salvar vidas.

Joana Leal/MS

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