Em conversa com um amigo, e ao ter conhecimento do tema, achei interessante dar a conhecer uma realidade da vida de um amigo que eu tive a honra de conhecer. Esta história que, de facto, faz muito sentido, é a realidade de como se vive a sonhar e parte das vezes julgando-se ser o que realmente não se é. Isto acontece com todos nós e nem damos por ela.
Um certo dia numa formação de gestão hoteleira com participantes já profissionais e outros que vinham de outras áreas (uns na procura de enriquecer o seu curriculum e outros para mudar de profissão, que como diz o ditado “o saber não ocupa lugar”), durante a apresentação de cada elemento, ficou-se a conhecer um Senhor que estava decidido a deixar a advocacia para se dedicar por inteiro à gestão de um hotel. A pouco e pouco contava-nos as suas histórias desde o tempo de estudante e da altura em que namorava.
Como todo o cidadão faz na altura de namoro, podia não estar de acordo com a ideia de ir ao cinema naquele determinado dia, mas para satisfazer a companheira lá ia, para no final, pelo menos, obter um beijinho daquela que acabou por ser a sua esposa. Lá vinha outro dia que, em sua casa, antes de ir ter com a namorada, começava a pensar no que fazer e até gostava de ir até à praia ou sentar-se numa esplanada, mas logo que chegava e entre os dois começavam a decidir, ela ganhava sempre. Dava-lhe sempre a volta, e ele sempre pronto a fazer-lhe as vontades, pensando que poderia obter algo em troca. Não diga que nunca aconteceu consigo porque está a mentir. Nada lhe corria bem, até que um dia pensou em pedir a mão da sua namorada, lá se casaram e ele pensou “agora as coisas vão ser à minha maneira”. Na altura já com o curso de advocacia e a trabalhar, estava no escritório e aproximava-se o final do dia, depois de atender vários clientes, dizia para ele próprio, “quando chegar a casa gostava de comer uma posta de peixe cozida, e vai ser”. Assim ele pensava, mas chegava e o que o esperava não era a posta de peixe, mas sim um bife. Lá no seu íntimo ele falava sozinho, “porra, nem agora as coisas são à minha maneira, penso em peixe ela faz bife”, etc. . O mesmo acontecia para se vestir para o trabalho pensava numa camisa branca, aparecia uma azul, etc., e assim as coisas aconteciam no seu casamento onde ele nunca chegou a ter e ver o que pensava a ser concretizado. Com uma vida cheia de stress que levava dia a dia, acabou por dizer à esposa – “já que nunca tive, nem tenho, direito de fazer o que penso, desde que começámos a andar juntos e também já percebi que nunca vou ter, acho melhor terminar tudo para que eu possa ter direito a decidir algo sem interrupção e que ninguém me altere as coisas que eu penso”, e assim aconteceu. Acabou o casamento.
Mas…
Durante o tempo que exerceu advocacia teve muitos problemas: contava-nos ele que dizia aos clientes que precisava da verdade porque para mentir estudou ele. Se eles não contassem a verdade da questão sobre a qual procuravam defesa, era impossível ele na apresentação ao juiz poder valer-se da sua palavra para que ganhasse os casos que defendia. Ele tinha que saber a verdade para, em seguida, poder preparar a mentira que o levava a favorecer os clientes. A verdade é que nada disso acontecia porque os clientes ainda conseguiam ser mais mentirosos que ele. Mesmo tendo que respeitar a lei, tem que haver uma versão que ajude na causa a favor de quem ele defendia. Como ele dizia, com uma história bem preparada consegue-se meio caminho para trocar as voltas ao juiz e acabarem com a razão do seu lado. Como os clientes conseguiam mentir mais do que ele, poucas vezes conseguiu ganhar em tribunal. Era mentira em cima de mentira, quando ele precisava da verdade. Tantas vezes aconteceu que decidiu terminar a carreira de advogado e mudar de profissão passou a gestor de um hotel em Braga, daí a sua necessidade em fazer formação em gestão hoteleira.
Moral da história: fale sempre a verdade! Com a verdade ajudamos muita gente, especialmente a nós próprios e os nossos advogados. Para nos defender, eles é que sabem mentir.
Augusto Bandeira/MS
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