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A união faz a força

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O mercado de trabalho pode ser deveras assustador, seja para quem está a dar os primeiros passos, seja para quem já tem anos de experiência. De um modo geral, os trabalhadores de diferentes setores têm enfrentado muitas dificuldades em comum e desde cedo perceberam que, unidos, teriam uma voz maior para reivindicar melhores condições. Foi no século XVIII que começaram a surgir os primeiros sindicatos no Canadá. Estes movimentos de trabalhadores foram criados para lutar juntos por salários justos, locais de trabalho mais seguros e horários de trabalho razoáveis. Neste momento existem milhões de membros de sindicatos no Canadá e estas organizações estão estabelecidas no mercado de forma sólida, com constituições claras, estatutos e outras regras que são acessíveis e mutáveis pelos membros em convenções ou reuniões realizadas regularmente.

O jornal Milénio foi saber, junto da diretora regional da Ontario UFCW (União dos Trabalhadores Comerciais e Alimentares), Debora De Angelis, sobre o papel atual das Uniões no Canadá. A UFCW Canada representa mais de 250.000 membros em todo o país e é um sindicato líder nos setores de retalho, processamento de alimentos e hotelaria. Mais de 52% dos membros da UFCW são mulheres que vivem e trabalham em comunidades em todo o país. Eles operam nas nossas mercearias locais, processam a nossa comida, cuidam dos nossos hotéis, transportes, drogarias e outros setores da economia.

debora de angelis - milenio stadiumMilénio Stadium: Os primeiros sindicatos no Canadá foram fundados em inícios do ano 1800, quando o mercado de trabalho era muito diferente do que é hoje. Qual é o papel de uma União atualmente e como evoluiu nas últimas décadas?
Debora De Angelis: O papel dos sindicatos hoje é dar voz aos trabalhadores nos seus locais de trabalho e nas suas comunidades. De forma semelhante ao que acontecia em 1800, o papel dos sindicatos é defender melhores condições de trabalho, um salário digno, dignidade e respeito no local de trabalho.

MS: Quais são os aspetos mais desafiadores para os sindicatos na atual conjuntura nacional e mundial?
DA: A COVID mudou a forma como o público vê os trabalhadores e especialmente os trabalhadores considerados da “linha de frente”. Antes, esses trabalhadores eram invisíveis, mas a pandemia demonstrou que eles trazem um valor incrível para a nossa sociedade. Muitos trabalhadores da linha de frente são mulheres, mulheres imigrantes, mulheres racializadas, e pela primeira vez a sociedade disse: “nós estamos a ver-vos e apreciamos o trabalho que vocês estão a fazer”. Muitos desses trabalhadores tiveram um aumento salarial imediato, que foi rapidamente removido. Eles trabalharam durante a pandemia e puseram as suas vidas em risco. O desafio é que esses trabalhadores recebam salários justos, dignidade e respeito no local de trabalho, e isso começa com a devolução permanente do “aumento salarial pandémico”. Também vimos os hábitos de compra mudarem e o trabalho de entretenimento aumentar, juntamente com o trabalho de logística e armazém. Esses trabalhadores também trabalharam durante a pandemia, merecem melhores salários, dignidade e respeito.

MS: Que mudanças gostaria de ver ou considera mais urgentes no nosso mercado de trabalho?
DA: Aumentar o salário mínimo seria um bom começo. 60% dos que ganham o salário mínimo são mulheres, mulheres imigrantes, mulheres racializadas, e um aumento imediato do salário mínimo para um salário digno, definitivamente ia ser um grande passo para começar.

MS: Num mercado de trabalho tão feroz como o que temos no momento, quais são as vantagens de fazer parte de uma União poderosa?
DA: Ter um sindicato para falar em seu nome significa que vai obter um contrato melhor ao negociar com o seu empregador. Nesses momentos, toda a gente certamente quer poder na mesa de negociação.

MS: Do ponto de vista individual, o que significa para cada um dos trabalhadores ser apoiado por um sindicato?
DA: Os trabalhadores sindicalizados ganham em média 30% a mais do que os não sindicalizados. Este é um exemplo do poder de uma União na mesa de negociações. Vou dar alguns exemplos. Exemplo 1: recentemente, os membros de processamento de alimentos da UFCW 175 da Exceldor 633 ratificaram um novo acordo coletivo de cinco anos que garante substancialmente os seus meios de subsistência após o aumento dos custos de vida. Os membros terão um aumento de 20% nos salários, começando com 10% no primeiro ano, 2% no segundo ano, 2% no terceiro ano, 2% no quarto ano e 4% no quinto ano. Ainda haverá melhorias no direito a férias e bónus de desempenho. Exemplo 2: recentemente, no Westin Harbour Castle, os membros do setor hoteleiro da UFCW Local 102 viram seus salários aumentarem 15% durante a vigência do contrato, além de um aumento de 35% nas contribuições previdenciárias e um aumento de 15% no plano de saúde e bem-estar.

MS: As estatísticas mostram que muitas pessoas estão a optar por mudar de carreira para empregos que paguem melhor e ofereçam melhores condições. Do seu ponto de vista, este setor é apelativo para as gerações mais jovens, considerando a oportunidade de fazer parte de uma União? Isso pode ser um fator decisivo?
DA: 40% dos membros da UFCW Canada têm menos de 30 anos. Todos os trabalhadores, independentemente da sua idade, querem melhores salários, benefícios e um plano de pensão. Fazer parte de um sindicato significa um emprego com melhor remuneração, benefícios e (às vezes) um plano de pensão. Recentemente tivemos muitos jovens trabalhadores a entrarem na UFCW Canada, como os trabalhadores da Indigo Bookstore em Woodbridge, Square One, Yorkdale e Scarborough Commons. Desde que começaram os seus esforços de sindicalização, já temos um total de seis livrarias Indigo que estão agora sindicalizadas em todo o Canadá.

Telma Pinguelo/MS

 

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