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A oposição ao Estado Novo na comunidade portuguesa em Toronto

Manifestação de emigrantes e exiliados lusos em Toronto
Manifestação de emigrantes e exiliados lusos em Toronto, no Canadá, a exigirem a libertação de presos políticos em Portugal (1966) – Photo by Reed, York University Libraries, Clara Thomas Archives & Special Collections, Toronto Telegram fonds, F0433, ASC08256.

 

Entre 1933 e 1974 vigorou em Portugal um regime autoritário e conservador, designado de Estado Novo, sustentado na força repressiva da polícia política (PIDE), nas amarras da censura e na ausência de liberdade. Um regime idealizado pelo seu principal mentor, Oliveira Salazar, ditador de um país eminentemente rural, pobre, atrasado e analfabeto, a que Marcelo Caetano deu continuidade, e cujo fim, aconteceu com a Revolução dos Cravos.

Apesar da repressão e violência foram vários os que se opuseram às ideias do Estado Novo, e instaram na luta política de oposição ao regime em defesa dos ideais da liberdade e da democracia. O movimento político de oposição à ditadura portuguesa estendeu-se também às comunidades portuguesas no estrangeiro, que na segunda metade do século XX foram robustecidas por centenas de milhares de compatriotas em fuga à miséria rural, à carestia de vida, e no início dos anos 60, à Guerra Colonial.

No contexto da luta contra o Estado Novo no seio das comunidades portuguesas, como aponta a investigadora Susana Maria Santos Martins, na tese de doutoramento Exilados portugueses em Argel. A FPLN das origens à rutura com Humberto Delgado (1960-1965), intervieram nas décadas de 1960-70 várias associações oposicionistas ao regime de Salazar na América do Norte.

No Canadá, nação para onde emigraram entre 1953 e 1973 mais de 90.000 portugueses, na sua maioria originários dos Açores, uma das principais coletividades lusas oposicionistas foi criada no final dos anos 50 em Toronto. Denominada Portuguese Canadian Democratic Association (PCDA), a associação luso-canadiana, impulsionada por figuras como Fernando Círiaco da Cunha, aglutinou vários emigrantes e exilados políticos na denúncia do regime ditatorial português, através da dinamização de manifestações públicas e da publicação em 1964 do periódico A Verdade, e mais tarde, O Boletim.

Um dos acontecimentos históricos que foram profusamente propalados pela Portuguese Canadian Democratic Association (PCDA) em Toronto, no sentido de sensibilizar e denunciar a falta de liberdade e de democracia em Portugal, foi o assalto em janeiro de 1961 do paquete Santa Maria. Tomado de assalto por um comando liderado pelo capitão Henrique Galvão, no qual foi morto o 3.º piloto e feridos outros membros da tripulação, os revoltosos tinham como objetivo principal iniciar um golpe de estado capaz de derrubar o regime de Salazar.
Durante vários dias, Portugal foi notícia no mundo, como foi o caso em Toronto, com os jornais Toronto Daily Star, Globe & Mail e Toronto Telegram, a darem ampla cobertura a um acontecimento, que não tendo cumprido o seu objetivo principal, expôs o regime estadonovista aos olhos do mundo, tendo inclusivamente os revolucionários recebido asilo político no Brasil.

A dinâmica oposicionista ao Estado Novo realizada no seio da comunidade portuguesa em Toronto por vários emigrantes e exilados políticos, na esteira daquelas que se realizaram noutras geografias da diáspora lusa na América do Norte. Como por exemplo, ainda no território canadiano, em Montreal, a partir dos anos 60, através do Movimento Democrático Português; ou em Newark, Nova Jérsia, cidade que ainda hoje alberga uma das maiores comunidades lusas nos Estados Unidos, com o Committee Pro-Democracy in Portugal, tiveram um papel importante na consciencialização política das comunidades portuguesas, assim como na denúncia internacional do regime ditatorial e da Guerra Colonial.

Daniel Bastos/MS

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