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A melhor versão de nós mesmos

IGUALDADE - milenio stadium

 

Lena Barreto é uma mulher bem-sucedida profissionalmente com mais de três décadas de atuação no ramo bancário no Canadá. Há 18 anos é funcionária do RBC, onde atualmente ocupa o cargo de gerente para a área Oeste de Toronto, além de ser profundamente envolvida com organizações sociais da comunidade luso-canadiana. Toda essa experiência no mundo corporativo a faz enxergar e acompanhar o processo de transformação ao longo dos anos no ambiente de trabalho e o tratamento dispensado a funcionários e clientes, onde destaca a importância de que cada vez mais iniciativas de inclusão, equidade e diversidade sejam praticadas.

No seu e-mail corporativo a gerente aderiu à utilização dos pronomes Ela/Dela, o que considera ser mais um passo que as organizações devem colocar à disposição de seus funcionários para facilitar na identificação do gênero com o qual se identificam. Atualmente são várias as empresas, de diferentes setores, que adotam essa prática com o objetivo de evitar pressuposições e deixar as pessoas livres para optarem serem chamadas da maneira que se enxergam e sentem mais confortáveis.

Nessa entrevista, Lena Barreto compartilhou as suas visões sobre a evolução do mercado de trabalho no tratamento de questões como identidade de gênero e aceitação, como as empresas podem evoluir nesse aspecto e fez questão de destacar a sua visão de que dar a liberdade para as pessoas se sentirem confortáveis em ser quem verdadeiramente são faz sempre com que o melhor delas floresça, tanto na vida pessoal quanto na profissional.

LENA BARRETO - milenio stadiumMilénio Stadium: Algumas grandes empresas estão adotando cada vez mais a prática de adicionar os pronomes individuais nas assinaturas de e-mail ou de identificação de videochamadas via Zoom, como novas políticas de gênero, que visam a inclusão social de pessoas não-binárias ou transgêneros. Os bancos canadianos são um exemplo disso. Como foi esse processo no RBC e desde quando essa prática está em vigor?
Lena Barreto: Os bancos canadianos, que estão entre os maiores empregadores do mundo, têm a responsabilidade de se adaptar a ambientes em transformação. O esforço para estabelecer Equidade, Diversidade e Inclusão (EDI) na nossa sociedade tem sido uma das forças motrizes por trás dessa mudança e possivelmente outras estão por acontecer. A nossa história mostrou que existem desequilíbrios no mundo e que uma mudança deve acontecer para equalizar alguns dos problemas sociais que enfrentamos. À medida que mais conversas como esta ocorrerem e ouvirmos para entender, estaremos mais perto de criar um mundo onde haja justiça e tratamento respeitoso para todos. Mais organizações devem olhar para dentro e avaliar seus valores no que se refere ao EDI, como um movimento positivo, porque o primeiro passo para realizar uma mudança é aceitar que algo não está certo.

MS: No seu caso esta nova política teve algum impacto na sua relação com os seus clientes?
LB: Eu trabalho e presto ajuda a muitas pessoas que não se enquadram nas descrições tradicionais de gênero e tive o privilégio de conhecer a história delas, o que me permitiu ser uma melhor defensora para pressionar pela compreensão e aceitação de todas as pessoas, independentemente de como elas se identificam.

MS: Em relação aos seus colegas? Tem algum episódio que possa compartilhar?
LB: Tenho experiência em trabalhar com colegas que são transgêneros e que se permitem serem fiéis a quem são de verdade. A minha experiência me ensinou que quando nos é permitido ser, exteriormente, aquilo que somos no nosso eu interior, então nos tornamos na melhor versão de nós mesmos. É difícil articular com precisão, mas posso dizer que essa pessoa já era ótima e, com a mudança, ficou ainda mais feliz. Eu também acredito que quem tem que carregar esse sentimento de não ser capaz de ser verdadeiramente que é, carrega um fardo muito pesado.

MS: Como uma mulher bem-sucedida a nível profissional como avalia a questão da inserção social, e de mudanças que serão necessárias em diversos âmbitos, entre eles o do mercado de trabalho, para que essa parcela da população, os não-binários ou transgêneros, se sintam mais integrados?
LB: Acredito que, como sociedade, precisamos aprender ouvindo ativamente aqueles que querem nos ensinar, precisamos entender que nem tudo na vida precisa se encaixar num modelo projetado para estabelecer identidades e papéis. Os papéis tradicionais em todos os sentidos da palavra se foram, não vamos viver no passado. Todos os locais de trabalho precisam estabelecer a política de Equidade, Diversidade e Inclusão para entender melhor como as suas organizações podem aprender para que a população não-binária, transgênero e LGBTQ+ e BIPOC seja apoiada e integrada.

MS: Acha que outros setores/organizações canadianas também deveriam adotar essa política de inclusão do pronome?
LB: Acho que a adoção do pronome é uma escolha pessoal e que toda organização deve colocar à disposição de seus funcionários caso optem por usar o pronome. Para mim, é uma escolha pessoal que eu decidi ser identificada como Ela/Dela, e embora eu tenha alguns contatos perguntando por que eu faço isso, essa escolha me dá a oportunidade de compartilhar o porquê.

Lizandra Ongaratto/MS

 

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