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A fogueira que tantos querem manter acesa

Teorias da conspiração

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As teorias da conspiração não são um fenómeno novo. Elas começaram muito antes do emergir da internet, desde muito cedo na História – como podem ler noutros artigos deste jornal. Hoje em dia, no entanto, os media e social media desempenham um papel significativo nesta questão uma vez que são a ferramenta perfeita para propagar e promover essas teorias.

Falando dos media tradicionais (jornais, rádio, televisão) também foi desde cedo que se percebeu o poder que têm na palma da mão. Recordemos o efeito esmagador da transmissão do episódio “A Guerra dos Mundos”, em 1938, através da rádio. É incrível a confiança e credibilidade que a sociedade e os seus indivíduos são capazes de atribuir aos meios de comunicação social, crendo religiosamente no que veem, escutam e leem, muitas vezes sem procurar aprofundar as matérias e os seus contextos. É claro, com todo o poder vem – ou deveria vir – responsabilidade. Os media têm a seu cargo a delicada missão de veicular uma construção da realidade que seja fiel, verídica e rigorosa. É um trabalho social extremamente importante, que foi e vai modelando o pensamento das massas ao longo dos tempos. Falei disto no meu artigo sobre a quarentena: se compilarmos as notícias, informações, transmitidas por um meio de comunicação ao longo dos tempos, podemos obter uma verdadeira pegada histórica da humanidade. Mas… será esta pegada tão fidedigna quanto pensamos? Já lá vamos.

Entretanto, com a internet, assistimos ao aparecimento das redes sociais, em que o conceito de informação assume uma dinâmica muito diferente. É um novo universo em que tudo acontece no imediato. Em que o indivíduo a partir de sua casa alcança o mundo com um toque, um clique. Agora, as pessoas já não são apenas consumidoras, mas também produtoras de informação, de notícias. Há a partilha ilimitada e não censurada de pensamentos, teorias e… ah!… a interação. A informação já não circula mais de um emissor para um recetor. Ela circula em todos os sentidos. Há cruzamento de dados, de interpretações desses dados, diferentes noções da realidade, movimentos de pessoas que defendem cada um desses enquadramentos e é então que se reúnem as condições para um verdadeiro Big Bang das teorias da conspiração.

O que diferencia o fenómeno das teorias da conspiração de hoje comparando há séculos atrás é que, com o surgimento das plataformas digitais modernas, as teorias têm sido cada vez mais difundidas. Consequentemente, obtêm mais exposição e alcançam um público muito mais amplo do que no passado. As teorias da conspiração globalizaram-se. Juntamos a isso o fator liberdade de expressão e o resultado é termos multidões a sair à rua para protestos anti-máscara, anti-vacina, em plena pandemia COVID-19. Assistimos recentemente à tentativa de invasão da Área 51 nos EUA, também fruto de inúmeras teorias da conspiração que se desenrolavam há anos nas redes sociais. Porque nos preocupam tanto estas teorias? Porque elas estão a ter um impacto real. As pessoas baseiam-se em informação para fazer escolhas. Informação fidedigna leva a escolhas legítimas, mas informação incorreta leva a decisões desligadas da realidade.

Então a culpa é dos social media? Será que estas pessoas andam totalmente iludidas sem qualquer fundamento? Para ir à raiz da questão regressamos ao reverso da moeda: os media tradicionais. É importante perceber que as plataformas de media social não são atores neutros, pois promovem conteúdo tendencioso e contribuem para a visibilidade de tipos específicos de conteúdo. Mas… e os media tradicionais? Serão tão imaculados como fazem parecer? É importante perceber que aquilo que chega aos nossos ecrãs, às páginas dos jornais que lemos, é um pronto-a-comer da informação. Significa que existe processamento. O jornalista age como o “gate keeper”, a pessoa que decide qual é a informação que passa e a perspetiva da qual será apresentada. Aqui surge o famoso conceito de imparcialidade jornalística, mas é impossível separar por inteiro o profissional do ser humano, com as suas próprias crenças, valores, ética e, por vezes, interesses. Este tecido de aspetos pode vir da esfera pessoal ou do órgão de informação para quem o profissional trabalha. E é sabido que muitos media de grande alcance têm atualmente influências políticas, financeiras ou interesses de outras naturezas que condicionam a informação que produzem e chega às nossas casas. Recentemente surgiu até o conceito de fake news, pela altura da corrida presidencial dos Estados Unidos, em 2016. O conceito teve origem nessa ocorrência particular, mas rapidamente se tornou popular e foi aplicado a vários cenários, o que traduz o sentimento de descrença e de desconfiança de muitas pessoas relativamente ao que veem, ouvem e leem nos media. Enquanto há os que seguem crentes, surge também uma grande porção que procura informar-se fazendo a sua própria pesquisa. E não fosse esta a época ideal para esse fim! Desde WikiLeaks, informações reveladas pelos “whistle blowers”, personalidades como Edward Snowden, testemunhos em primeira pessoa, vídeos, entrevistas, blogs, comunidades juntas em torno de um tema… os ingredientes para estas teorias estão na prateleira para serem usados.

O que mais contribui para as teorias da conspiração? É uma fogueira que todos continuam a manter acesa, desde os media tradicionais às plataformas modernas, cada um à sua maneira. Como cidadãos cabe-nos estar alerta, ter pensamento próprio, criar bons hábitos de consumo de informação e manter a mente simultaneamente aberta e sóbria.

Telma Pinguelo/MS

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