“A cultura de respeito e inclusão da Luso é vivida por toda a organização” – Heather Grand

Num país onde a inclusão social e o apoio às pessoas com deficiência continuam a exigir respostas estruturadas e humanas, a Luso Canadian Charitable Society tem-se afirmado como uma referência incontornável. Desde a sua criação, a organização tem dado voz e dignidade a centenas de famílias luso de programas que promovem a autonomia, a integração e o bem-estar de pessoas com necessidades especiais.
Com Heather Grand, CEO e Diretora Executiva, a Luso tem consolidado um percurso de crescimento sustentado, assente em valores de solidariedade, respeito e responsabilidade comunitária. Com três Centros de Apoio em funcionamento e um novo projeto residencial em curso em Hamilton, uma infraestrutura que acolherá 45 residentes permanentes, a instituição entra numa nova fase da sua história. Este projeto, apoiado por um investimento do governo provincial, bem como pela ajuda financeira que se espera por parte da comunidade portuguesa e outros doadores, representa muito mais do que uma residência: simboliza apoio, esperança e segurança para muitas famílias.
Nesta entrevista ao Milénio Stadium, Heather Grand fala sobre os desafios e prioridades da Luso Charities, o papel fundamental da comunidade na sustentabilidade da organização e a visão que orienta o futuro desta instituição de solidariedade.
Milénio Stadium: Como Diretora Executiva e CEO da Luso Canadian Charitable Society, quais têm sido as suas principais prioridades na gestão e expansão dos serviços nos últimos anos?

Heather Grand: À medida que a Luso tem vindo a crescer, com a abertura de três Centros de Apoio e o aumento dos programas e serviços disponibilizados aos nossos participantes, as decisões têm sido guiadas por duas prioridades fundamentais. A primeira é ouvir as famílias que apoiamos, compreender as suas necessidades (que se encontram em constante evolução) e assegurar que as mudanças são feitas no melhor interesse da segurança e bem-estar dos seus filhos. Esta é a nossa principal prioridade. Em segundo lugar, enquanto organização, temos sido ponderados quanto ao momento certo para expandir, para garantir que as operações da Luso se mantenham sustentáveis tanto no presente como a longo prazo.
MS: A nova residência em Hamilton representa um marco importante na história da Luso. Qual foi o papel da equipa executiva no planeamento e desenvolvimento deste projeto?
HG: O Conselho Diretivo da Luso é composto por pessoas dedicadas e competentes, que providenciam orientações e asseguram a boa governação das nossas operações. A expansão e definição de prioridades são determinadas no âmbito do nosso processo de planeamento estratégico, sendo que os projetos relevantes são sempre apresentados e discutidos em reuniões do Conselho Diretivo.
Os membros desta equipa estiveram envolvidos na decisão de avançar com o projeto residencial, na escolha do local para o investimento, no desenho do projeto e no orçamento e restantes aspetos ligados à construção. Todo este trabalho resultou na cerimónia de lançamento da primeira pedra do passado dia 10 de setembro.
MS: Quais são os principais desafios logísticos e humanos na construção e gestão de uma residência para pessoas com necessidades especiais?
HG: A construção exige, naturalmente, financiamento, o que representa sempre um desafio logístico. Apesar de termos obtido apoio governamental para uma parte da obra, ainda será necessário angariar um montante significativo para a sua conclusão, bem como para a aquisição de equipamentos acessíveis, mobiliário e outros elementos essenciais. A comunidade terá também um papel fundamental no apoio à campanha de angariação de fundos que iremos promover para completar este projeto.
Do ponto de vista operacional, o desafio passa por garantir um ambiente seguro e adequado para os residentes deste novo espaço. Isto implica manter uma postura robusta na contratação de staff qualificado (e devidamente treinado/formado segundo os padrões da Luso) e na manutenção do elevado nível de qualidade de cuidados que prestamos.
MS: O trabalho da Luso vai muito além da infraestrutura – trata-se de inclusão, dignidade e integração social. Como garante a organização que estes valores estão refletidos nos seus programas e serviços diários?
HG: A Luso cultiva uma cultura de cuidado e apoio, e oferece um ambiente inclusivo que começa com o trabalho excecional do staff dos nossos Centros. É frequente os visitantes comentarem sobre o ambiente caloroso e acolhedor, bem como sobre a autenticidade das interações e o respeito mútuo entre colaboradores e participantes.
As políticas internas e os procedimentos, por si só, não garantem a transmissão dos nossos valores. É essencial que estes sejam praticados pelas pessoas e reforçados por uma cultura organizacional que não aceite menos do que isso. Por isso, o recrutamento é um aspeto fundamental, tal como a formação contínua. A cultura de respeito e inclusão da Luso é vivida por toda a organização: desde o Conselho de Administração, às equipas dos Centros, voluntários e parceiros da comunidade.
MS: A Luso tem-se apoiado, desde sempre, no apoio de voluntários, doadores e parceiros institucionais. Qual a importância desta rede de colaboração para a sustentabilidade da organização e dos seus projetos?
HG: Desde a sua criação, a Luso tem contado com um vasto apoio da comunidade. Esta rede de voluntários, doadores e parceiros foi essencial para a criação de três Centros de Apoio modernos, concebidos para responder às necessidades de pessoas com deficiências complexas, oferecendo um ambiente seguro e programas e atividades enriquecedores.
Sendo uma instituição de caridade que não recebe financiamento contínuo do governo para as nossas operações, nada disto teria sido possível sem a generosidade da comunidade e a sua enorme participação nos nossos eventos de angariação de fundos.
A comunidade reconhece as dificuldades que estas famílias enfrentam, e responde! À medida que avançamos com a construção da Residência Luso, o apoio de todos será mais importante do que nunca.
MS: Olhando para o futuro, qual é a sua visão para a Luso nos próximos anos? Existem áreas específicas que gostaria de reforçar ou inovar para continuar a responder às necessidades da comunidade?
HG: Neste momento, encontrámo-nos fortemente empenhados na criação da nova Residência da Luso, para responder às necessidades das famílias cujos cuidadores encontram-se a envelhecer. Esta é uma enorme prioridade. Olhando para o futuro, pretendemos que as Residências Luso se encontrem construídas, totalmente equipadas e com as portas abertas, prontas a acolher os participantes.
À medida que os cuidadores envelhecem, estes sentem-se muitas vezes inseguros e receosos sobre o futuro dos seus filhos. Uma das nossas grandes prioridades é a de podermos vir a aliviar esse peso e vir oferecer uma Residência acolhedora, especialmente concebida e adaptada às necessidades muito particulares dos seus filhos.
Ao ouvirmos as famílias e testemunharmos os desafios que enfrentam diariamente, continuaremos a lutar por mais apoio e a sensibilizar a sociedade para as dificuldades que persistem.
Agradecemos à comunidade por todo o apoio e pelo seu compromisso contínuo para com estas famílias.
MB/MS







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