A comunidade está a falhar: Presidente da ACAPO lança alerta duro

O presidente da Aliança de Clubes e Associações Portuguesas de Ontário (ACAPO), José Eustáquio, deixou um alerta claro e direto sobre a crescente falta de coordenação entre os clubes da comunidade portuguesa no Canadá. Em declarações recentes ao nosso jornal, Eustáquio, que lidera a Aliança apontou falhas estruturais, desorganização e desinteresse generalizado por parte de algumas entidades associadas.
“A ACAPO foi criada, em 1987, com um dos principais objetivos de evitar conflitos de datas entre os clubes. Era uma estrutura organizada, com 14 membros fundadores e que representava a cultura portuguesa no Ontário, nomeadamente através da Semana de Portugal”, recorda o dirigente.
No entanto, o cenário atual é bem diferente. “Hoje temos 33 membros na Aliança, cada um com a sua própria dinâmica. E ainda mais 47 organizações não afiliadas. É impossível evitar sobreposições com tanta gente ativa, num calendário com apenas 52 fins de semana por ano”, lamenta o líder da ACAPO.
A questão agrava-se, segundo o presidente, devido à tendência da comunidade em não realizar eventos nos meses de Verão. “Depois do Dia de Portugal, em Junho, a maioria vai de férias para Portugal. As atividades culturais só recomeçam no final de Setembro e encerram em Maio. Isso dá-nos cinco meses – cerca de 20 sábados – para encaixar todos os eventos”, explica na conversa com Rómulo Ávila.
“A falta de coordenação não beneficia ninguém”

Questionado sobre se esta descoordenação beneficia alguém, o presidente é peremptório: “Está a prejudicar toda a gente. Primeiro, porque não há qualidade nos eventos. Raramente vou a um onde diga: ‘Isto valeu mesmo a pena.’ E, como Presidente, tenho de marcar presença em quase todos, goste ou não deles.”
Aponta ainda o cansaço dos voluntários e a falta de valorização do trabalho das direcções. “As pessoas criticam, mas não ajudam. E os patrocínios são sempre pedidos aos mesmos. As empresas já estão fartas. Eu começo a angariar fundos para a Semana de Portugal em Março e há amigos meus que, quando veem o meu número a ligar, já sabem: lá está ele a pedir dinheiro outra vez…”, partilha.
Reuniões mensais… com pouca adesão
A Aliança realiza reuniões mensais, sempre na primeira terça-feira de cada mês, na Casa do Alentejo. “É assim desde que entrei. Só em Julho e Agosto não há reuniões. Mas, mesmo assim, a maioria dos clubes só aparece em Março, Abril e Maio, por causa da Semana de Portugal”, denuncia.
Apesar de apelos reiterados – enviados já em Junho – para que os clubes partilhem os seus calendários de eventos a partir de Setembro, a resposta é mínima. “Só recebemos informações de quatro entidades: Barcelos, o Arsenal, o rancho Províncias e Ilhas de Hamilton, e um grupo do Norte. O resto ignora. Ou não respeitam o nosso trabalho, ou nem sabem o que vão organizar.”
O resultado? Eventos sobrepostos e fins de semana com múltiplas atividades semelhantes. “Já tivemos 12 matanças do porco marcadas para o mesmo fim de semana. É impossível estar em todas. Além de ser cansativo… engorda!”, comenta com ironia.
Mas, rapidamente, volta ao tom sério: “Isto não é só falta de visão. É falta de respeito. Se nós, que somos voluntários e lutamos por isto, não nos respeitamos uns aos outros, como é que esperamos respeito de fora?”
“Já não é um problema novo. Falta é coragem para falar dele”
Eustáquio critica o silêncio prolongado sobre este problema. “Se alguém só agora acordou para esta realidade, fico espantado. Isto já dura há anos. A única diferença é que agora estamos a ter coragem de falar nisso.”
Questionado sobre se haverá vontade de resolver esta situação na nova direcção da ACAPO, reeleita recentemente, o líder da ACAPO mostra-se pragmático: “Já fui presidente de clubes. Sei como é. Cada direção está centrada nos seus próprios problemas: manter portas abertas, arranjar dinheiro, organizar festas sem perder dinheiro.”
E aponta uma realidade comum: “Há direções com 18 membros, mas só três é que trabalham. E no fim, os sócios só querem saber se houve lucro. Podes fazer uma grande semana cultural, mas se perderes cinco dólares, és criticado. Se não fizeres nada e deixares 10 mil no banco, és uma grande direção. Isto é o que temos.”
“Temos bons presidentes. Mas basta um fraco, e o barco vai ao fundo.”
Apesar de tudo, José Eustáquio, na entrevista, reconhece qualidade entre os atuais dirigentes: “Já passámos por fases complicadas. Hoje temos bons presidentes, com um bom ambiente familiar. Mas basta um porta-voz fraco e o barco vai ao fundo. E é isso que está a acontecer.”
Revela ainda conflitos internos, como casos de clubes que nem aparecem às reuniões, ou ranchos a tentarem ‘roubar’ dançarinos uns aos outros. “Mas o que é isto? Um jogo de futebol com empresários a ganhar comissões? Não entendo. E quando não é isso, é falarem mal dos outros. E ainda por cima com eventos a coincidir nas datas? É pior ainda.”
Apelo final: “Apareçam nas reuniões!”
Para concluir, o presidente da ACAPO deixou um apelo claro a todos os clubes: “Compareçam nas reuniões da Aliança. Mais uma vez: primeira terça-feira de cada mês, na Casa do Alentejo.”
E reforça: “Não apareçam só para passar o tempo. Apareçam para resolver esta situação, para discutir o que é importante. Na última reunião, há três semanas, só se falou neste tema. Curiosamente, os clubes que não apareceram… são os que agora criticam o que foi dito.”
RMA/MS







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