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A arte de ser artista em 2020

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DR.

 

Ser artista é algo tão profundo e complexo, quanto leve e simples. Nasce-se assim, com talento, seja para o que for. Acredito que todos temos uma veia artística, escondida nas entranhas mais desconhecidas, mas há obviamente quem não precise sequer procurar por ela – basta ser.

São essas pessoas que, quando com coragem, muita coragem, seguem os caminhos incertos do entretenimento. Da música, da representação, do humor, da dança, etc. São essas pessoas que nos preenchem os dias com o lazer necessário, com a descontração necessária, com a cultura necessária. Cultura, essa palavra tão importante e tantas vezes tão maltratada e desconsiderada.

Neste ano incrivelmente difícil, enquanto se combate uma pandemia que nos consome a sanidade, é a cultura, é o entretenimento, que nos ajuda, de alguma forma, a passar o tempo de confinamento obrigatório.

Durante os primeiros meses, foram os músicos os primeiros a dar-nos a mão, do outro lado do telefone ou computador, para nos entreter com concertos atrás de concertos, garantindo-nos que não estávamos sozinhos naquelas paredes isoladas, provando-nos que de facto a música nos fortalece, nem que seja a alma.

Também durante esses primeiros meses, quantos e quantos atores e humoristas nos ajudaram a descontrair, fazendo-nos esquecer os números crescentes de casos de infetados. Bruno Nogueira e o seu “Como É Que O Bicho Mexe?” foi a maior prova que juntos tudo se ultrapassa com muito mais entusiasmo. Este late-night talk-show, criado especificamente para ajudar a lidar melhor com o tédio de tantos, acontecia de segunda a sexta-feira no seu Instagram, sempre com convidados que todos conhecemos. O humorista usou o programa como fonte de angariação de fundos para instituições de cariz solidário, conseguindo arrecadar milhares de euros cada dia. É preciso ressaltar que nem um cêntimo ficava no bolso de Bruno Nogueira. Este projeto depressa se tornou popular, com uma média de 50 mil espectadores diários, sendo que no último dia, Bruno Nogueira viu o seu Instagram ser invadido por mais de 150 mil pessoas, que lhe agradeciam de forma muito clara “por tudo”. Incluindo pessoas como Cristiano Ronaldo, que fez questão de aparecer em direto para expressar a sua apreciação. Bruno Nogueira foi muito mais do que um simples humorista, foi o ponto de encontro de muita gente que se sentia perdida e cansada de estar “presa” em casa, e deprimida por ver o mundo a lidar com o desconhecido. O talento deste artista, que lhe é inato, foi gentilmente partilhado com o público com o único propósito de nos ajudar.

E durante todos os gestos de ajuda, por parte dos milhares de músicos, por parte dos atores, apresentadores, humoristas… Alguns de nós continuavam a trabalhar, o dinheiro ia entrando na conta, outros nem por isso… Estes artistas fazem parte dessa realidade de desempregados que, desde o início, fizeram questão de, gratuitamente, nos entreter. Incluindo todos aqueles que trabalham nos bastidores. Todos os técnicos de luz, todos os técnicos de som, todos os produtores, managers. Uma situação bem difícil de resolver, visto que ter público numa sala de espetáculos era algo incalculável. Em alguns países, continua a ser. Mas não os vejo baixar os braços. Reinventam-se. Primeiro os projetos drive-in, com concertos para um público dentro de carros, depois com salas de espetáculos estrategicamente organizadas, com distâncias de segurança…

César Mourão é outra figura pública que tem marchado nesta luta que a cultura enfrenta desde que a pandemia chegou. Na verdade, sempre foi muito difícil para todos que para trabalham nesta área, já que é uma vida muito instável. Ora hoje têm trabalho, ora amanhã nem por isso. Mas César Mourão, outro humorista português, tem, por exemplo, agora em cena um espetáculo ao vivo, que acontece dentro das regras de segurança impostas pelo país, e lembro-me de me emocionar quando li o apelo dele ao público para o ir assistir… Não por ele, mas pelos músicos e técnicos que trabalham com ele, já que César abdicaria do seu cachet para distribuir por todos os seus colegas.

De hoje para amanhã, os números de infetados aumentam, os números de mortes aumentam, o medo aumenta e as precauções também. Tudo volta à estaca zero. E a cultura, e o entretenimento, também.

Nós, enquanto consumidores ativos do seu talento, devemos sempre, de alguma forma, da forma que conseguirmos, tentar apoiá-los. Mais que não seja para demonstrar que estamos gratos pelas vezes, inúmeras, que todos eles nos cederam, tão generosamente, o seu trabalho de forma gratuita pelas mais variadas plataformas online.

Sempre, e assim que possível, vamos tentar comprar o bilhete do espetáculo, vamos tentar comprar as músicas, vamos ver a série ou vamos ver o filme, vamos dar-lhes visualizações para que eles tenham retorno.

Acho que só assim será justo – fazermos a nossa parte agora, demonstrando reconhecimento.

Catarina Balça/MS

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