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A realidade é esta – clubes e associações da comunidade luso-canadiana fechados desde o início de março e sem data prevista para reabertura. Para muitos, que durante anos se habituaram ao convívio quase semanal com amigos nesses espaços e que se esforçam por preservar o espírito comunitário, a pandemia torna-se ainda mais difícil de suportar. O Milénio Stadium desta semana tenta perceber qual será o caminho do futuro para estas instituições que, por várias razões, já antes desta epidemia estavam envoltas em incerteza. E se os dirigentes são fundamentais para a sua sobrevivência, os sócios os habituais frequentadores das atividades por eles promovidas são quem lhes dá vida e assegura a sua subsistência. Por isso trazemos também a sua perspetiva e opinião.

  • Maria Melo

Milénio Stadium: Como pensa que esta pandemia está a afetar os nossos clubes?

Maria Melo: Eu penso que os clubes estão a atravessar um momento muito difícil porque as despesas são enormes e não tem absolutamente meios alguns para angariar os fundos necessários para pagar as despesas.

MS: Que significado têm para si as associações e clubes?

MM: Para mim os clubes e associações são o local ideal para poder confraternizar com as outras pessoas, assim como tentar trazer os nossos jovens, ensinar-lhes os nossos usos e costumes, e na medida do possível ajudá-los a conhecer melhor a língua de Camões.

MS: Qual será o futuro para estes clubes?

MM: Penso que alguns vão ter dificuldades financeiras e terão que reestruturar a maneira de sobreviver. Seria bom que alguns se pudessem juntar e criar associações mais fortes financeiramente. E, se possível, fundar um centro de dia para que as pessoas da terceira idade possam ter oportunidade de passar o dia juntos e distrair-se uns com os outros.

MS: Que alternativas podem existir para manter vivo o espírito comunitário durante esta época? Que sugestões tem?

MM: Comunicarem-se uns com os outros pelas redes sociais. Dar apoio uns aos outros na comunidade portuguesa. Pensem e trabalhem todos em conjunto para um futuro melhor para todos. Unidos somos mais fortes. É importante manter a calma e respeitar a lei, pensar nos mais vulneráveis e ter fé e esperança que melhores dias virão.


  • Jorge Ribeiro

Milénio Stadium: Como pensa que esta pandemia está a afetar os nossos clubes?

Jorge Ribeiro: Os nossos clubes e associações paralelamente a todos os outros negócios estão a ser muito afetados com a pandemia. A COVID-19 está a afetar diretamente a sua sobrevivência e o bem estar dos clubes também depende do bem estar dos seus membros associados.

MS: Que significado têm para si as associações e clubes?

JR: Os clubes e associações foram um grande baluarte na integração e crescimento de todos nós, mas as novas tecnologias vieram trazer um novo ponto de ordem na vida quotidiana de todos.

MS: Qual será o futuro para estes clubes?

JR: Para mim penso que a sua sobrevivência já estava em dúvida, atendendo a que a nossa comunidade já estava em transição e a juventude não vai estar na disposição de dar o seu tempo voluntário que as mesmas precisam!

MS: Que alternativas podem existir para manter vivo o espírito comunitário durante esta época? Que sugestões tem?

JR: A sua sobrevivência só será possível se modernizarem. Em vez de só bailes e espetáculos de natureza lusa começarmos a fazer uma integração mais direta com a comunidade canadiana. Devemos aprender com as outras etnias como ucranianos e polacos assim como outros que se integraram e perderam a ligação no meio da suas próprias comunidades mas agora fazem parte de um todo – o Canadá ! Esta pandemia como ponto de esperança vai dar-nos a reconhecer que só unidos podemos enfrentar o futuro e que somos todos iguais e a comunidade luso-canadiana só vencerá unida.


  •  Arilda de Oliveira

Milénio Stadium: Como pensa que esta pandemia está a afetar os nossos clubes?

Arilda de Oliveira: Eu acho que afetou muito porque tudo aqui na área fechou e teve um grande impacto. Então está todo o mundo sem poder fazer nada. Eu estava já com tudo preparado para o nosso festival e tivemos que cancelar tudo. E isso deixou muita gente sem ter o que fazer no final disso tudo. Então a gente estava pensando em fazer o festival, mas agora não tem como. Isso afetou os barraqueiros, afetou os artistas, afetou a produção toda.

MS: Que significado têm para si as associações e clubes?

ADO: É muito importante, sobretudo as associações que a gente tem como ponto de apoio psicológico. Agora o distanciamento está a fazer com que os idosos, por exemplo, se sintam ainda mais sozinhos.

MS: Qual será o futuro para estes clubes?

ADO: Em questão de clubes eu estou um pouco por fora, porque não tenho estado a trabalhar com clubes, mas ao que parece também saíram bem afetados e alguns deles não vão nem abrir mais.

MS: Que alternativas podem existir para manter vivo o espírito comunitário durante esta época? Que sugestões tem?

ADO: As redes sociais são um bom meio. Mas relativamente aos idosos nem todos têm conhecimento e possibilidade de se ligar, então isso depende muito dos filhos ou de outras pessoas que os apoiem. Sobre os artistas dos nossos festivais, estão todos cantando de casa, fazendo lives particulares através das redes sociais.


  • Jorge Da Costa   

Milénio Stadium: Como pensa que esta pandemia está a afetar os nossos clubes?

Jorge Da Costa: As associações vivem do seus membros e das pessoas que visitam os seus clubes e por isso estas são as suas maiores fontes de subsistência. São poucos os clubes que têm tudo pago, de resto todos têm mortgage, os impostos para pagar, as despesas da água e da luz. Portanto, está tudo fechado mas as despesas continuam e são grandes para os clubes da nossa comunidade. Além dos clubes, as pessoas também estão preocupadas com as suas próprias famílias, com as suas próprias mortgages e situações pessoais, porque muitas pessoas estão sem trabalho ou em layoff.

MS: Que significado têm para si as associações e clubes?

JDC: Para mim são muito importantes, até porque sou ativo ainda como presidente da Associação Arco-Íris. Ultimamente temos fechado tudo, cancelámos tudo para o Pride, reuniões e tudo. Nós já não nos encontramos com as pessoas com quem falávamos sobre a associação, e isso tem-nos feito muita falta. Os eventos da comunidade gay foram cancelados, só vai haver o hasteamento da bandeira mas não vai estar ninguém, será transmitido pela internet. Mas sim, eu sinto muita falta da Casa do Alentejo, da Casa dos Açores e os clubes aqui à volta, assim como as festas do Espírito Santo, das paróquias, as festas do imigrante… tudo isso entretanto acabou. E sentimos falta dos amigos que temos nessas casas e festividades.

MS: Qual será o futuro para estes clubes?

JDC: Não sei como vai ser daqui a três meses. Alguns clubes têm algum dinheiro guardado, mas vai acabar. E não sei se vai ser em três ou quatro meses que vamos ter clubes abertos. Sobre o futuro dos clubes, não sei se todos lá vão chegar, ao futuro. Se tiverem algum dinheiro guardado, ainda sobrevivem por mais uns meses, mas muitos deles vão fechar, como já estão a fechar muitos negócios aqui em Toronto. Lojas de 30 e 50 anos estão a fechar.

MS: Que alternativas podem existir para manter vivo o espírito comunitário durante esta época? Que sugestões tem?

JDC: Tenho visto muitos artistas e as pessoas no geral a fazer lives para o Facebook, e está bem, embora seja sempre a mesma coisa e acho que isso não vai ajudar. O que eu acho é que não está a ser respeitada a distância entre as pessoas. Ainda hoje fui a um supermercado português e as funcionárias estavam todas umas ao pé das outras. E muitas pessoas saem e não estão a respeitar as leis.


  • Matthew Correia

Milénio Stadium: Como pensa que esta pandemia está a afetar os nossos clubes?

Matthew Correia: Os nossos clubes estão a sofrer imensas alterações devido a pandemia. É um efeito cascata, de um ponto de vista cívico e financeiro. Como não se pode realizar eventos, alguns clubes não estão a ter meios financeiros para as despesas mensais. Os poucos patrocinadores e sócios não são o suficiente para manter os clubes a funcionar diariamente. Esta incerteza é um stresse e ansiedade para os dirigentes. Creio que alguns clubes, não todos, vão ficar numa situação precária e em risco de fechar as suas portas se não tiverem imediatamente a ajuda financeira do Governo. Antes da pandemia, muitos clubes sobreviviam do lucro de festa em festa, e agora a situação piora. Por outro lado, penso que esta situação está a afetar psicologicamente muitos voluntários e pessoas da terceira idade. Muitos voluntários participavam ativamente nos clubes para se sentirem úteis, criarem amizades, manter vivas as nossas tradições e contribuírem para o enriquecimento da nossa comunidade, algo que já não podem fazer por tempo indeterminado. Creio que as pessoas idosas também estão a sofrer bastante porque eles eram o demográfico que mais participava nas atividades dos nossos clubes, não só pela diversão, mas pelo próprio convívio humano e para combater a solidão.

MS: Que significado têm para si as associações e clubes?

MC: Pela própria definição da palavra: comunidade. Um sentimento de comunhão com os outros como resultado do compartilhamento de atitudes, interesses e objetivos comuns. Os nossos clubes e associações não só mantêm vivas as nossas tradições com as suas atividades socioculturais aos fins de semana, como divulgam a comunidade portuguesa perante a sociedade canadiana em geral. Os clubes são o elo de ligação a Portugal para os que nesta terra residem.

MS: Qual será o futuro para estes clubes?

MC: Já debatíamos esta pergunta muito antes da pandemia devido à escassa participação da juventude que temos vindo a ver ultimamente no associativismo. A meu ver, eu penso que esta pandemia está a servir de lição para todos: que o mundo de hoje e amanhã já não será o mesmo de antigamente. Não podemos ficar parados no tempo, temos que evoluir. Alguns líderes dos clubes têm que abrir as suas mentalidades antiquadas por vezes e aceitar as ideias dos jovens para incentivá-los a acreditarem na total mensagem da palavra “comunidade” e encorajá-los a envolverem-se, se querem ver os seus clubes existirem por muitos mais anos. Espero que a situação da pandemia não resulte no fecho permanente de alguns dos nossos clubes que já não estão bem de saúde financeira, é uma realidade assustadora. 

MS: Que alternativas podem existir para manter vivo o espírito comunitário durante esta época? Que sugestões tem?

MC: A comunicação social, a internet, jornal, rádio e televisão, estão a ligar o mundo cada vez mais nestes tempos escuros. Fica aqui a sugestão para divulgarem eventos e efemérides do passado quando estávamos mais “libertados e felizes” porque, como diz o velho ditado, “recordar é viver”. Penso que os nossos clubes deviam recorrer às redes sociais para manter contacto com os seus associados e divulgarem fotos e vídeos dos seus eventos passados. Não era má ideia começarem a pensar em organizar alguns eventos virtuais, como por exemplo, convidar um artista para animação; criarem um concurso de culinária, de renda ou jardinagem, mantendo os seus associados mais interativos até a altura certa que os clubes possam reabrir novamente.

Telma Pinguelo/MS

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