Startup portuguesa cria plataforma digital para acelerar transição ecológica nas empresas
A MyGreenApp introduz desafios, recomendações e monitorização para ajudar empresas a rastrear a sua pegada e a mudar comportamentos.
Muitas empresas têm objetivos de redução do impacto ambiental e calculam a sua pegada, mas fazem-no através de folhas de cálculo. É uma tarefa morosa e manual, que se pode tornar complexa e pouco eficaz perante a dimensão do objetivo. A startup portuguesa MyGreenApp, criada no Porto em 2021, acredita que pode resolver o problema com uma solução diferente.
“A MyGreenApp é uma plataforma digital que visa promover e acelerar a transição ecológica e a mudança de mentalidade tanto para indivíduos como para organizações, através de funcionalidades como o cálculo da pegada e depois também através de desafios e recomendações personalizadas para reduzir e compensar a pegada”, disse ao Dinheiro Vivo Francisca Falcão, engenheira do ambiente e gestora de produto na startup.
“O objetivo é compreender o impacto ambiental e depois adotar práticas mais sustentáveis”, continuou. “A missão é simplificar o caminho para a neutralidade carbónica e, ao mesmo tempo, facilitar a comunidade que valorize práticas mais sustentáveis.”
Quando lançaram a ideia, os cofundadores Pedro Teixeira e Bruno Sousa estavam focados numa aplicação B2C, virada para os consumidores. Mas com a experiência de desenvolvimento e a ajuda de mentores – a startup passou pelo Vodafone Mentoring Program no início deste ano – conceberam uma solução com um alvo mais empresarial.
“Neste momento, a MyGreenApp está focada na parte corporativa nas empresas, até porque é aí que as metas ambientais estão focadas”, explicou Francisca Falcão. A equipa desenvolveu uma plataforma que o responsável de sustentabilidade da empresa passa a usar para monitorizar e reduzir a pegada. O modelo de negócio será baseado numa subscrição da plataforma.
“A ideia é facilitar num software”, frisou a gestora, em substituição das folhas de cálculo. “Já estivemos com algumas empresas que fazem isto, mas fazem no Excel”, referiu. “Têm que fazer questionários, têm que os enviar aos fornecedores e têm formulários para preencher para fazer depois o relatório”, disse. “O que queremos é simplificar isto. Utilizar a tecnologia que temos hoje em dia e deixar o Excel e os documentos para passar a ser uma coisa o mais automatizada possível.”
A MyGreenApp validou o interesse do mercado e está em conversações com várias empresas que querem implementar a plataforma. “O objetivo é tentar alargar ao máximo, ao ponto de até medidas dos carros da frota ou até dos parceiros fornecedores serem incluídos na plataforma”, referiu. “Isso pode ser um requisito ou uma avaliação para novos fornecedores.”
Francisca Falcão disse que os testes em ambientes controlados vão permitir aperfeiçoar a plataforma e perceber quais as especificidades necessárias. “As funcionalidades têm que ser adaptadas e há imensos sectores, o têxtil, o alimentar, o retalho, que requerem análises diferentes.”
Neste momento, é o sector têxtil que se está a destacar na vontade de monitorizar e reduzir o impacto ambiental. “Há um interesse grande em tentar automatizar e colocar tudo num software, porque são empresas que têm vários fornecedores”, disse a gestora de produto. A regulamentação europeia, que vai obrigar as empresas a reportar dados de sustentabilidade, está a acelerar o interesse. “Têm a parte da regulação para cumprir e isso tem um peso grande que causa pressão para procurar tecnologias destas.”
Numa fase seguinte, a intenção é desenvolver uma aplicação móvel para os funcionários, que envolva a força de trabalho no esforço de transição ecológica. Esse é o próximo passo em que a MyGreenApp está focada, o que vai requerer a primeira ronda de financiamento.
“Precisamos de financiamento para desenvolver a app e testá-la, e queremos que mais pessoas se juntem à empresa para melhorar.”
No percurso até aqui, a startup ganhou reconhecimento e obteve o investimento do Green Voucher, que faz parte do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “Já obtivemos prémios que validam a ideia e o projeto em si”, disse a gestora. A mentoria também foi importante para evitar que a MyGreenApp ficasse parada “no chamado Vale da morte das startups.”
Com espaço no parque de Ciências da Universidade do Porto, a pequena empresa tem uma mão cheia de colaboradores e uma grande lista de contactos.
“A plataforma nós já estamos a vender, a aplicação móvel pretendemos para o ano já estar a testar em ambiente real numa empresa.”
Essa será a diferenciação do produto, acredita Francisca Falcão. Já há outras plataformas que permitem automatizar o rastreio da pegada, mas não estão ligadas a apps móveis com o intuito de alterar a cultura corporativa.
“Além de os funcionários poderem medir a pegada, o que vai ajudar para o reporte do relatório não financeiro da empresa, a aplicação vai tentar alterar hábitos e levar os funcionários adotar mais práticas sustentáveis.”
Por exemplo, estimular o ‘carpooling’ (boleias) para chegar ao escritório e introduzir desafios, com elementos de gamificação. Também serão recomendadas estratégias, como abrir um mercado sustentável dentro da organização em que os funcionários podem trocar, vender e comprar artigos usados ou que não utilizem. “A ideia mesmo é criar uma cultura dentro de um grupo.”
Isto é algo que já se vê nalgumas universidades, que fazem isso organicamente com os estudantes.”Queremos replicar isso noutras organizações, porque achamos que vai ter sucesso e é bom mesmo para manter as pessoas nessas empresas”, disse a gestora. “Cada vez mais, os funcionários querem manter-se em empresas que tenham essas preocupações ambientais.”
Ana Rita Guerra/JN/MS
Redes Sociais - Comentários