Portugal

Infecciologista do Santo António alerta para “perigo” das variantes

Matosinhos, 03/04/2020 – Em plena pandemia mundial do vírus Covid 19, os hospitais vivem dias de guerra e os profissionais de Saude são a frente de batalha. O Hospital Pedro Hispano foi obrigado a adaptar-se a esta nova realidade e todos os dias luta para que o impacto na sociedade seja minimizado. A ala N, foi o primeiro serviço a ser estruturado para receber doentes Covid 19, Os profissionais permanecem em turnos de 12h a cuidar dos utentes internados em isolamento.
(Rui Oliveira/Global Imagens)

O diretor de serviço de infecciologia do Hospital de Santo António, no Porto, alerta para o “perigo” que constituem as variantes já detetadas do novo coronavírus, considerando que “ainda é cedo” para abrandar as medidas de confinamento.

“Francamente, gostaria que se abrissem as escolas, mas acho que é cedo (…). Já morreu gente a mais. Foram 16 mil pessoas que morreram por causa da covid-19 [16.317 à data de domingo] e vão morrer mais. Acho que é cedo. Desejo que lá para maio se possa voltar a uma situação melhor. Abrandar tudo só porque as coisas abrandaram um bocadinho não me parece bem”, referiu Rui Sarmento e Castro.

Em entrevista à agência Lusa na véspera de completar um ano em que o primeiro caso covid-19 foi diagnosticado em Portugal, exatamente no Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), ao qual pertence o Hospital de Santo António, o infecciologista defendeu a manutenção do confinamento, considerando que “se deve extrair lições de uma vaga para a outra”. “Isso para mim é muito claro: devemos proteger os nossos pais, avós, as famílias. É mau que as coisas abrandem e, depois de aligeirarmos as medidas, venha outra vaga”, referiu.

Professor de doenças infecciosas no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, que também foi docente na Universidade do Minho, considerou que as medidas do Natal foram “frouxas” e sobre a passagem de ano diz que se admitiu “muitas festarolas com pessoas a juntar-se às dezenas”. “O resultado deu numa segunda vaga que já vinha a crescer e que de um momento para o outro estourou completamente. Estourou no sul por questões culturais ou porque não sentiram bem a primeira [vaga] que foi mais forte cá em cima. Acho que as pessoas facilitaram muito”, lamentou.

Particularmente sobre o regresso às escolas, tema que já motivou uma carta aberta divulgada na semana passada, na qual dezenas de especialistas, de diversas áreas, reivindicam a reabertura das creches e do pré-escolar este mês, seguido do regresso faseado do 1.º e 2.º ciclos, Rui Sarmento e Castro analisou o que diz ser “o real perigo”. “Francamente, são as crianças de 5 anos que transmitem o vírus às famílias? Não. Também lhes chega, mas aparentemente a infeção não é tão frequente nessas fases. Mas abrir escolas implica pais a levar os filhos, viagens em autocarro ou metro”, apontou.

Salvaguardando que lhe “preocupa a economia do país” e que lhe “dói muito” quando ouve falar de despedimentos, o diretor de infecciologia do Santo António frisou o número de infetados em Portugal por covid-19 e alertou para a presença de variantes da doença no país. “Temos 800 mil indivíduos infetados em Portugal. Isto é 8% da população portuguesa, mais ou menos. Isto quer dizer que, se não tivermos cuidado, daqui a dois ou três meses são 16%. E em Portugal já circulam variantes que são um enorme perigo. Acho que as pessoas não estão cientes disso. O público em geral preocupa-se pouco com isso, preocupa-se com o vírus em geral e não pergunta de onde vem. Mas para nós [profissionais de saúde] este alerta é importante”, referiu.

Rui Sarmento e Castro analisou o que já se sabe sobre as variantes da covid-19 e, em jeito de alerta, sublinhou que “ainda não se sabe muito, nem mesmo o comportamento de algumas perante as vacinas” e que “poderão existir muitas mais no mundo”.

“Em Portugal temos uma percentagem elevada da variante inglesa. Não tínhamos na primeira vaga. Isso também justificou um pouco a explosão nas últimas semanas. Temos casos identificados da variante brasileira. Não terá ainda expandido, mas se expandir – e parece que a transmissibilidade é alta – vamos ter problemas. A da África do Sul não chegou cá ainda, mas parece ser altamente transmissível. E há muitíssimas mais variantes”, afirmou.

À Lusa, o antigo diretor clínico do Hospital de Joaquim Urbano, também defendeu a realização de mais testagem, nomeadamente em lares e hospitais, mas também a grupos específicos da população como pessoal do INEM, forças de segurança, bombeiros, ou trabalhadores de transportes públicos.

“É feita pouca testagem. Já deviam fazer mais testes desde o princípio. Defendo a testagem, mas com testes fidedignos, com a metodologia PCR, zaragatoa. É praticamente infalível. O teste de antigénio só é positivo mais tarde. Pode ajudar no diagnóstico, mas mais tarde do que a zaragatoa”, referiu.

Para Rui Sarmento e Castro, se existe um Plano Nacional de Vacinação por que não criar um criar um Plano Nacional de Testagem. “Este vírus veio ficar cá. Devemos estar cientes de que vai manter-se e é preciso preparar o futuro”, frisou.

JN

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