Exercício físico ajudou portugueses a “aliviar stress” no primeiro confinamento
Mais de metade dos portugueses, inquiridos no âmbito do estudo REACT-COVID 2020, admitiu ter praticado exercício físico durante o primeiro confinamento como forma de “aliviar o stress” e manter-se saudável. Entre as razões apontadas para a prática de atividade física no período de isolamento estão ainda “evitar ganhar peso”, ter “mais tempo disponível” e “dormir melhor”. Os dados constam no Relatório Anual da Direção-Geral de Saúde (DGS), divulgado esta terça-feira, onde é feito um balanço da promoção da atividade física a nível nacional.
“A prática de atividade física ganhou particular relevo, não só pelo seu papel preventivo na infeção por covid-19, mas também pelo seu fundamental papel na promoção da saúde mental, representando uma atividade essencial ao equilíbrio físico e psicológico, particularmente fragilizados face a todo o contexto pandémico, principalmente nos períodos mais agudos de confinamento social”, referiu a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, na nota introdutória do relatório.
O estudo, coordenado pela DGS, foi conduzido pelo Instituto de Saúde Ambiental e pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, através de questionários online e inquéritos telefónicos. Debruçou-se sobre comportamentos alimentares e de atividade física de 5874 pessoas, com idade igual ou superior a 16 anos, tendo os dados sido recolhidos entre os dias 9 de abril e 4 de maio de 2020.
“Durante o confinamento, a proporção da população que reporta os motivos ‘Para se manter saudável’ e ‘Forma de aliviar stress’ é consideravelmente superior à de 2017, denotando maior preocupação ao nível da manutenção da saúde física e mental durante o período de confinamento”, lê-se no relatório.
De acordo com o estudo, “46% dos inquiridos foram classificados no nível ”ativo'”, sendo que a prevalência é superior nos homens e os nível de atividade física diminuem quanto maior a faixa etária. As caminhadas e as atividades de fitness dominam as atividades no isolamento decorrente da primeira vaga pandémica. Seguem-se o treino de força, a corrida, a bicicleta estática e a dança.
No que toca à atividade física integrada nas tarefas diárias durante o primeiro confinamento, 70% dos inquiridos apontam as tarefas domésticas (86,7% das mulheres contra 51% dos homens.) Na lista constam ainda subir e descer escadas (metade dos inquiridos), cuidar da horta e do jardim e fazer atividades de bricolage. Quanto ao sedentarismo, ver televisão é o comportamento mais prevalente (70% dos inquiridos). Há ainda quem reporte a utilização do computador, tablet e telemóvel e quem destaque o teletrabalho.
“A pandemia da covid-19 veio, também em relação à atividade física, exacerbar iniquidades sociais – género, estatuto socioeconómico, idade – parecem diferenciar as pessoas mais e menos ativas. Não obstante, verificou-se também a ocorrência de padrões protetores, em que níveis mais elevados de atividade física tendem a coocorrer com outros elementos de potencial salutogénico, como o não aumento do consumo de snacks, o acesso às recomendações de atividade física e alimentação saudável, boa situação financeira, maior nível de escolaridade, ser mais jovem e estar há menos tempo em situação de confinamento social. Assim, e em linha com estudos epidemiológicos e experimentais anteriores, a prática de atividade física parece ter tido um papel ‘agregador’ de outros comportamentos protetores da saúde, com efeito positivo em situação de confinamento social”, sublinhou Graças Freitas.
Ainda assim, a prática de exercício físico continua aquém do desejado. Dados do Inquérito Nacional de Saúde, recolhidos em 2019, revelam que 65% da população portuguesa com mais de 15 anos nunca pratica qualquer tipo de exercício físico e 63% indicaram estar sentados menos de seis horas por dia. Apenas 9% fazem desporto, pelo menos, 5 dias por semana. A proporção de pessoas que nunca pratica desporto cresce com o aumento da idade, chegando a ser superior a 70% a partir da idade da reforma.
Ainda segundo os dados do relatório de 2020 do Programa Nacional de Promoção da Atividade Física, em média, um em cada 100 utentes inscritos nos cuidados de saúde primários foi avaliado quanto aos seus níveis de atividade física e comportamento sedentário e 33% atingiram a recomendação de prática de, pelo menos, 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada.
Em Portugal, as mortes motivadas por doenças representaram 95,4% do total de óbitos na população residente em 2018, sendo que cerca de um terço dos óbitos se devem a fatores de risco comportamentais, nomeadamente riscos alimentares, hábitos tabágicos, consumo de álcool e atividade física insuficiente. Os “níveis adequados de atividade física na população evitariam 4,5% da prevalência de doença cerebrovascular e 4% dos casos de doença coronária na população mundial”.
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