Empresário assume que pagou relógios e 50 mil euros, mas não para corromper ex-autarca de Gaia

O empresário Elad Dror, suspeito de ter corrompido o ex-vice-presidente da Câmara de Gaia Patrocínio Azevedo, disse esta quarta-feira (26) que nunca pensou em corromper quem quer que fosse. Mas admitiu ter comparticipado na compra de “dois relógios” ao autarca, em 2019 e 2020. Na oferta do terceiro, já não alinhou, disse.
Elad Dor, israelita que liderava o Grupo Fortera, contou que, por altura do Natal de 2019, foi o empresário Paulo Malafaia, que consigo colaborava no projeto Skyline (centro de Congressos, hotel e habitação), quem lhe telefonou a perguntar se participava com ele e o advogado e arguido João Lopes na compra de um relógio para oferecer ao vice-presidente da Câmara de Gaia.
O israelita aceitou pagar um terço dos três mil euros que custava o relógio. “Ele disse-me que era tradição em Portugal”, justificou. “Como não sou mal-educado, aceitei. Mas não lhe dei os mil euros da minha parte. Ficaria para um encontro de contas”.
No ano seguinte, aconteceu a mesma coisa e, “a custo”, voltou a aceitar. Mas, em 2021, também em época natalícia, Malafaia voltou a pedir a sua participação para o terceiro relógio. “Não aceitei. Achei que era exagerado”.
Sobre os 50 mil euros em notas que deu a Malafaia e que o Ministério Público diz que tiveram como destino o autarca, Elad Dror contou que “estava com problemas no projeto Riverside [construção de 3 torres de habitação próximo do campo do Candal] e furioso com a câmara”, que lhe estaria a colocar dificuldades. “Como não falo português, nem era conhecido, como Malafaia”, contratou-o a ele e a João Lopes para que fossem eles a tratar das démarches para desbloquear a situação. “[Malafaia] pediu-me 50 mil euros e eu até quis pagar adiantado, mas exigi fatura”. O outro terá dito que não podia passar fatura e insistiu receber em dinheiro vivo. Elad Dror conta que, meses depois, deu-lhe 25 mil e, mais tarde e em duas prestações, os restantes 25 mil. Despesa que, alegadamente, consta da contabilidade da empresa de Elad.
O israelita foi questionado sobre se aquele dinheiro seria para corrupção? “Não, não”, respondeu, acrescentando: “Para mim, há linhas vermelhas, que são as ilegalidades. Não. Eu estava a pagar a dois colaboradores”.
JN/MS
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