Cirque du Soleil pediu insolvência, expondo crise do setor. Em Portugal há já quem dependa do RSI para viver.
O maior império da arte circense ruiu em três meses de pandemia. O Cirque du Soleil, gigante mundial com sede em Montreal, Canadá, pediu insolvência e despediu 3500 trabalhadores. Com 40 espetáculos cancelados em todo o Mundo, a maior companhia de artes performativas do planeta precisa de 150 milhões de euros só para devolver o dinheiro de bilhetes já comprados.

A pandemia foi o golpe final numa estrutura que há muito dava sinais de estar enfraquecida. Segundo o jornal espanhol “El País”, a companhia tinha uma dívida de 850 milhões de euros há cinco anos e a quebra de faturação decorrente da covid-19 não lhe deixou alternativas. Mas ainda há alguma esperança.
Esta semana, a companhia anunciou que pediu a proteção judicial contra penhoras e a decisão é tomada depois de amanhã pelo Tribunal Superior do Quebeque. Se for aprovada, fica o caminho aberto para o prometido investimento de 300 milhões de euros dos acionistas, aos quais se soma o empréstimo de 182 milhões do Governo do Quebeque e os 45 milhões que os acionistas injetaram em maio.
Um mês antes da insolvência, Rui Paixão era o palhaço voador que integrava a colossal produção que o Cirque du Soleil apresentava na China. A saída da companhia e o regresso a Portugal já estavam agendados e Rui Paixão voltou um mês antes do desmoronamento do império do circo.
Por cá, Paixão encontrou a arte circense pior do que a deixara e tem um posicionamento muito crítico. No Cirque du Soleil, tinha contrato. Em Portugal, sente-se “marginalizado”.
ARTISTAS A VIVER DO RSI
Saulo Roque, contorcionista há 30 anos, é um dos rostos mais conhecidos do circo nacional. Conhecido como “snake man” do “Got Talent Portugal”, da RTP, está há três meses à espera da resposta do pedido do Rendimento Social de Inserção (RSI). “Todos nós trabalhamos com recibos verdes e eu por acaso tenho descontos feitos, mas não é em Portugal“, explica. “Não há apoios e há muitos a viverem do RSI”.
Apesar de as companhias de circo já estarem autorizadas a trabalhar, as licenças municipais são sucessivamente rejeitadas sem motivo. “O circo em Portugal depende exclusivamente das câmaras”, revela Carlos Carvalho, diretor da Circolândia e presidente da recém-criada Associação Portuguesa de Empresários e Artistas de Circo (APEAC).
Anteontem, a APEAC conseguiu uma dupla vitória. O Governo incluiu todos os trabalhadores independentes do circo na linha de apoio de 34,3 milhões que consta do orçamento suplementar. Cada profissional tem direito a um máximo de 438,81 euros até setembro. “Aplica-se aos profissionais do circo tradicional”, explicou Graça Fonseca, ministra da Cultura.
Ao mesmo tempo, a Assembleia da República aprovou um projeto de resolução do PCP que isenta as companhias do Imposto Único de Circulação, simplifica os licenciamentos das câmaras, financia a renovação de material e elimina a divisão entre circo tradicional e contemporâneo.
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Sem apoios da DGArtes
Os apoios anuais da DGArtes não contemplam os circos tradicionais, apenas os contemporâneos. A discriminação foi alvo de queixa de artistas à ministra da Cultura, que no final do ano passado prometeu mudar a lei. Mas até agora continua igual.
30 circos em Portugal
As companhias circenses de Portugal são geralmente microempresas familiares de cariz regional. O maior é o circo Victor Hugo Cardinali.
Liberais contra
O projeto do PCP de apoio ao circo teve apenas um voto contra, da Iniciativa Liberal. Abstiveram-se o PS, CDS, PAN e Chega.
JN
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