Portugal

Casamentos de estrangeiros em Portugal são negócio de milhões

Foto: @itsallabout.pt / Instagram

Há cada vez mais casais de várias nacionalidades a escolher Portugal para celebrar uma união a dois. Organizadores apostam no segmento de luxo.

Seja nas praias do Algarve, no verde exuberante dos Açores até nas vinhas do Douro, são cada vez mais os casais estrangeiros a escolher Portugal como destino para uma celebração religiosa, civil ou simbólica da união.

O chamado “turismo de casamento” ou “turismo de romance” não é novo em Portugal, mas está a sedimentar-se no país, ao ponto de movimentar milhares e milhões de euros em atividades como o “wedding planning” (organização de casamentos), a hotelaria ou a restauração. No ano passado, em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), 666 casamentos foram celebrados em que ambos os cônjuges eram estrangeiros e residiam lá fora.

O Turismo de Portugal admite, em resposta por escrito ao JN, que muito embora os casamentos de estrangeiros sejam um segmento importante e até fortalecedor da economia nacional, não há “indicadores concretos” nem “valores detalhados”. “Apesar de o INE disponibilizar o número de casamentos entre estrangeiros no nosso país, estes dados ficam muito aquém da realidade, em virtude de muitos casais procurarem Portugal como destino para a celebração simbólica do casamento, embora o enlace oficial (religioso ou civil) seja efetuado no país de origem”, aponta a mesma fonte.

Em vários pontos do país, especialmente nas zonas turísticas, como Algarve, Porto, Lisboa e ilhas, há empresas especializadas no turismo de casamento, que não têm mãos para tanta procura. “Fazíamos 200 casamentos por ano. Hoje, fazemos cerca de 20 com orçamentos mais elevados e trabalhamos com clientes de luxo”, refere Paula Grade, uma das responsáveis pela Algarve Wedding Planners (ler ao lado).

“A procura tem vindo a aumentar nos últimos tempos e sentimos um crescimento significativo a partir de 2022”, confirma também Ana Holland, da Porto for Weddings, que organiza casamentos tanto no Porto, como no Douro e no Minho.

Prolongam estadias

Em Portugal, não é possível saber quanto é que a economia nacional já ganhou com o turismo de casamento ou de romance. O Turismo de Portugal adianta que o valor médio gasto por casal está entre os dez mil e 30 mil euros, segundo um estudo realizado por fornecedores do mercado. Mas a entidade aponta que há “casos no mercado do luxo” em que “os wedding planners organizam casamentos que movimentam milhões de euros”. Fora das contas está o dinheiro gerado nos hotéis ou na restauração, com os noivos e os convidados a prolongarem as estadias, geralmente por uma semana, no país.

Se no Algarve a procura é sobretudo de casais do Reino Unido e da Irlanda, nos Açores, são os canadianos e os norte-americanos a escolher uma das nove ilhas para casar. Nem todos os casamentos são numerosos, diz Sílvia Vasconcelos. A proprietária da Get Married in Azores afirma que têm “crescido muito os ‘elopements’”, casamentos só com os noivos ou até dez convidados.

O Turismo de Portugal caracteriza os “casamentos mais restritos” como “serviços de maior qualidade” e que se traduzem, “muitas vezes, num valor total mais significativo”.

Na generalidade das celebrações, na Get Married in Azores, os gastos por pessoa começam nos 100 euros. Na Algarve Wedding Planners, um casamento de luxo pode custar entre 50 mil e 80 mil euros.

Detalhes

Documentos

Os noivos estrangeiros que querem casar em Portugal devem dirigir-se ao Registo Civil para dar início ao processo de casamento. Devem ter na sua posse os documentos de identificação, a certidão de nascimento e um certificado de capacidade matrimonial, emitido pelas autoridades do seu país.

Burocracia

Os profissionais ligados à organização de casamentos em Portugal apontam ao JN que aconselham os casais a oficializar a união no país de origem e a fazer depois uma cerimónia simbólica em Portugal, dada a elevada burocracia.

Igreja Católica

O JN tentou contactar a Pastoral do Turismo da Diocese do Algarve, mas não obteve resposta em tempo útil. Para casar pela Igreja Católica, a diocese definiu uma série de procedimentos, que implicam, por exemplo, informar o pároco do país de origem sobre onde e quem irá celebrar o matrimónio em Portugal. Paula Grade diz que nem todos os padres algarvios aceitam celebrar casamentos de estrangeiros.

Dinheiro

158 milhões de euros foi o valor total investido, em 2019, por casais estrangeiros, segundo um estudo independente, citado pelo Turismo de Portugal.

JN/MS

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