Portugal

Arcebispo de Braga reconhece “encobrimentos e silenciamentos” de abusos sexuais

D. José Cordeiro - milenio stadium
Braga, 11/12/2022 – O Presépio Vivo de Priscos, organizado pela Paróquia de São Tiago de Priscos, está aberto ao público há 16 anos, apresenta anualmente um tema que correlaciona questões sociais e às aborda à luz do significado do Natal. Este ano o assunto é a violência no namoro.
Na foto: D. José Cordeiro, Arcebispo de Braga
(Paulo Jorge Magalhães/Global Imagens)

 

O Arcebispo Primaz de Braga, D. José Cordeiro, manifestou-se, esta quinta-feira, numa carta ao Povo de Deus, com o coração dilacerado após ter ouvido o testemunho de pessoas que foram vítimas de abuso sexual por membros da Igreja.

As suas histórias e o seu sofrimento dilaceraram o nosso coração. Conscientes de que o olhar sobre a vítima não pode ser o mesmo que sobre o abusador, ousamos partir da súplica humilde e confiante a Deus para que nos conceda um olhar de compaixão sobre todos: em primeiro lugar as pessoas vítimas, mas também os abusadores e silenciadores, todos os que se escandalizam com a atuação de alguns membros da Igreja, as famílias e a sociedade em geral”, diz o Prelado num documento também subscrito pelos bispos auxiliares.

D. José Cordeiro anuncia que a Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga (CPMAVAB) está disponível para acolher e acompanhar todos os que possam ter sido vítimas de qualquer espécie de abuso em alguma paróquia ou instituição da Igreja”. “A CPMAVAB, desde a sua criação em 22.10.2019, escutou 28 pessoas que quiseram dar o seu testemunho. Pedimos veementemente a todos os que possam ter conhecimento de situações de abuso que lhe façam chegar o seu testemunho”, assinala, vincando que se sabe que “é doloroso recordar e partilhar estas experiências, mas este é um passo indispensável no processo de cura e apuramento da verdade”.

O sacerdote diz que “carregando aos ombros o sofrimento e o escândalo do povo santo que nos foi confiado, nós pastores desta Igreja que peregrina em Braga, queremos reafirmar a todos uma palavra de esperança: ainda hoje, Jesus Cristo, como bom samaritano, vem ao encontro de todos os homens e mulheres, atribulados no corpo ou no espírito, e derrama sobre as suas feridas o azeite da consolação e o vinho da esperança, para que a noite da dor se abra à luz pascal”.

A Arquidiocese vai celebrar uma jornada nacional de oração por todas as pessoas vítimas de abusos de poder, de consciência e sexuais, a realizar no 20 de abril, como já foi anunciado pelo Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa.

RELATÓRIO REFORÇA RESPONSABILIDADE

Na opinião do chefe da igreja católica bracarense, o “Relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa” (14.02.2023) reforça a responsabilidade de cada um de nós. Somos todos chamados ao firme compromisso de garantir que as atividades pastorais se desenvolvam sempre em ambientes sãos e seguros”. E acrescenta: “Para que isto aconteça, deixemo-nos questionar e iluminar com a luz do Evangelho. Trata-se, portanto, de percorrer juntos o caminho do discernimento pastoral: reconhecendo, interpretando e decidindo”.

O Arcebispo diz, ainda, que importa “reconhecer a centralidade das pessoas que sofrem” e sublinha que tem consciência de que foram, de facto, as vítimas que começaram a fazer ouvir a sua voz, a querer recuperar o tempo perdido por causa de sentimentos de culpa, de vergonha e de raiva, frustração e de escândalo”.

E, prosseguindo, afirma: “O Relatório confirma que perante indícios ou provas de abusos, no passado, houve: desvalorização, encobrimentos ou silenciamentos, ingénuas reparações privadas na ilusão de compensar o dano sofrido pelas vítimas. Reconhecemos que os abusos sexuais não foram tratados como prioridade, arrastando consigo erros, omissões e negligência. Reconhecemos, ainda, que nos últimos dias, houve mensagens confusas e contraditórias e equívocos de comunicação sobre o modo de agir da Igreja perante este flagelo hediondo. Por tudo isso, pedimos perdão”.

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