Portugal

A Romaria também é dos pequeninos: “Faz todo o sentido passarmos estas tradições aos meninos”

Foto: Facebook da Romaria d’Agonia

Uma “romaria” dedicada a gente de palmo e meio, com oficinas que ensinam tradições como os tapetes de sal, o ouro e a filigrana, os bordados, cartaz e cortejo das festas, está, esta segunda-feira, a atrair famílias ao Jardim da Marina, em Viana do Castelo. O evento deverá atrair cerca de meio milhar de crianças. 

“Não misturem o castanho com o amarelo. Não ponham amarelo em cima da gaivota, senão lá vai a gaivota. Vira uma pomba”. “E as patas [da gaivota]?”, perguntou um menino. “Essa gaivota encolheu as patas para voar”, avisava divertida, Carla Chavarria, educadora, filha de pescador e prima de João Chavarria, que tem sido um dos dinamizadores da confeção dos tapetes de sal, que logo à noite animará as ruas da Ribeira de Viana.

Há décadas que os moradores daquela zona praticamente não dormem na noite de 19 para 20 de agosto, para atapetar o chão de seis arruamentos, com desenhos feitos em sal colorido, para o andor da padroeira passar no regresso da tradicional Procissão ao Mar no dia seguinte. Trata-se de uma das maiores manifestações de fé à Senhora d’Agonia, com dezenas de embarcações a desfilar pelo rio Lima e mar, com os andores da padroeira e das Senhoras de Monserrate, do Mares e São Pedro, a bordo. Milhares de pessoas assistem nas margens.

Esta segunda-feira, véspera da procissão, Carla não tinha mãos a medir para atender às crianças que a rodeavam na oficina do sal da “Romaria dos Pequeninos”, que este ano se realiza pela primeira vez no âmbito das festas da cidade.

“Como se pode ver, apareceram bastantes crianças. Estamos a fazer grupos de 12 e 13 meninos”, disse a monitora, atarefada a carimbar “passaportes” para que as crianças possam passar pelas oficinas, que vão estar em atividade até cerca das 18.30 horas.

“Acho que poderemos receber entre 300 a 500 crianças”, disse, comentando que, a seguir, a festa dos pequeninos continuará no mesmo local, “um sunset com música e bar aberto com sumos”.

“Faz todo o sentido passarmos estas tradições aos meninos”, referiu Carla, cuja missão é explicar aos mais novos o que são os tapetes de sal, ensinar a tingir e depois de “escolhidos os padrões, com elementos da natureza, flores, gaivotas, peixes e também homenagens”, ajudá-los na confeção. “Explicamos que podem ser usados outros elementos, como folhas, sargaço, flores, serrim, para confecionar os tapetes e depois passamos ao processo de os fazer no chão”, descreveu. “Acho que estão a gostar muito, até porque tenho perguntado e, efetivamente, eles já têm visto [a confeção na própria Ribeira]. Temos gente de fora, emigrantes, mas o que estou a sentir é que vem gente de cá e que já vive a Romaria”.

Jaime Couto, avô de Rodrigo de quatro anos, acompanhou o neto à “romaria dos pequeninos”. “Já esteve a mexer no sal, já esteve a fazer o desfile e está a começar a participar. Acho que ele gosta. Quando esteve na oficina do cortejo interagiu com a senhora que estava explicar”, contou, de olho em Rodrigo, que se entretinha com uma pá a mexer no serrim, usado para embelezar os típicos tapetes de sal. “É importante eles começarem a conhecer as tradições”, considerou o avô.

Sara Farias observava, com a bebé Inês ao colo, a sua outra filha, Leonor, de quatro anos, vestida com peças típicas do traje vianense, a pintar com a cor do ouro um coração de Viana.

“Vivemos as festas, gostamos da tradição e este ano foi a primeira vez que desenvolveram estas atividades para as crianças e quis trazê-la”, disse a mãe, que costuma participar trajada nas festas, integrada no grupo da sua freguesia Vila Mou. Leonor diz que gosta dos bombos e dos cabeçudos da romaria, e que pintou um coração igual aos brincos que traz nas orelhas [corações de Viana].

Na oficina dos cartazes, outra mãe, Catarina Vieira, de Areosa, dava indicações à filha Benedita, de sete anos, sobre como fazer. “Gostamos muito de tudo o que tem a ver com as festas e é uma primeira experiência. Quisemos vir participar. Já fizemos o cortejo, o ouro está a meio e agora vamos fazer o cartaz”, descreveu Catarina, referindo que, este ano, levou a filha a desfilar pela primeira vez no cortejo histórico etnográfico (no sábado). “É essencial passar estas tradições às novas gerações, para conseguir manter viva a romaria. Também me passaram, avós, tios, um bisavô que fazia cartazes. Isto já vem de longe na família”, comentou.

JN/MS

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