Portugal

25 DE ABRIL

E o tempo, esse eterno construtor de memórias, de 1974 transportou-nos até 2019 – 45 anos Depois do Adeus.

Abril transformou-se em história da liberdade de um povo que, do cinzento do antigo regime, acorda de cravo vermelho ao peito. E a alegria transbordante espalha-se nas ruas e entranha-se no país. Os primeiros passos em liberdade, depois de tantos anos de regime ditatorial, misturam-se com excessos, equívocos, mas a democracia prevaleceu. O regime mudou. O Portugal fechado em si próprio, mergulhado no “orgulhosamente sós”, abriu-se ao mundo. Entrou o bom e o mau. A guerra colonial deixou de aterrorizar mães e pais, deixou de estar no horizonte da inevitabilidade da vida de um jovem. Os povos, outrora colonizados, receberam países para gerir sem estarem preparados e, para muitos, o fim da colonização apenas simbolizou o início de uma outra guerra – ainda mais fratricida e inexplicável. Para outros representou o serem forçados a começar tudo de novo – do zero – e num país que já não sentiam como seu – faltava o horizonte da savana africana, o sol e o calor que lhes aquecia as vidas.

Vasco Lourenço, Capitão de Abril
Vasco Lourenço, Capitão de Abril

O 25 de abril aconteceu e tornou-se uma revolução exemplar – os Capitães de Abril conseguiram derrubar o regime, já velho e muito desgastado, quase sem vítimas. A revolução saiu-lhes das mãos como se fosse champanhe a brotar incontrolável. Vasco Lourenço, o Capitão de Abril que pensou e organizou toda a conspiração, mas que o regime de então conseguiu impedir que estivesse presente, no momento chave, no continente (estava nos Açores), olha hoje para trás, já com os galões de Coronel e lembra os primeiros dias da revolução – “O 25 de abril foi um desabrochar, foi acordar de uma letargia de 48 anos e as pessoas perceberem, de repente, que também tinham direitos, não tinham só deveres. E começou ali uma bebedeira coletiva. O 1º de Maio de 1974 foi inesquecível, absolutamente único – só mesmo quem o viveu pode entender. Acreditava-se que tudo poderia ser um mar de rosas, que tudo seria possível fazer de um momento para o outro. E isso criou alguns problemas, porque não podemos ter tudo e Roma e Pavia não se fizeram num dia. Reviver estes dias é extraordinariamente forte. É muito forte e tocante. Nós, os Capitães de Abril, com esta revolução, o que sentimos é que tirámos a rolha da garrafa de champanhe e nem tentámos impedir que o champanhe saísse. E foi uma libertação que as pessoas tiveram, única. E não estamos arrependidos, porque a alternativa seria pior. Se tivéssemos tentado impedir o champanhe de sair, isso significaria uma nova situação de ditadura ou que estávamos a impor a chamada democracia controlada ou musculada e achámos que seria pior. Houve alguns excessos, mas foi possível chegar a uma situação estável de democracia e de paz. Esse era o objetivo essencial e foi atingido.”

Há 45 anos a liberdade e a democracia saíram à rua. Hoje, olhando para o país que temos, o que conquistámos, o que somos, mesmo com todos os defeitos (a corrupção, a má gestão, os enriquecimentos ilícitos…), podemos dizer que valeu a pena. Apesar de tudo, temos muito para agradecer – obrigada Capitães de Abril!

Madalena Balça

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