“Um dia de cada vez”
Quando através das redes sociais e dos diferentes meios de comunicação social constato que Portugal está literalmente a arder, não consigo ficar indiferente. Com tantas vítimas mortais a lamentar invade-me um sentimento de revolta e de profunda agonia e tristeza. Mais do que as minhas palavras, gostaria de partilhar algo que li nas redes sociais e que mostra bem o que as portuguesas e os portugueses estão a passar com esta calamidade:
“Mais ou menos pelas 07h de ontem, dia 16 de setembro de 2024, a minha avó foi retirada da sua casa devido aos incêndios em Albergaria-a-Velha, e que, minutos depois, foi-se… mais ou menos pelas 07h de ontem tentei entrar em contacto com a minha avó e uns minutos depois, o telemóvel ficou indisponível, foi-se… a minha avó foi salva apenas com o pijama que tinha vestido, na cadeira de rodas, e o seu andarilho, por dois vizinhos. De seguida, outros vizinhos entraram na casa, tentaram apagar as chamas e salvar alguma coisa, mas não lhes foi possível… ardeu tudo. salvaram a minha avó e estou-lhes imensamente grata! Esteve mais de 10h em casa de vizinhos, que cuidaram dela durante aquelas horas, até que o fogo parasse e alguém da família conseguisse chegar até ela. Sinto que também cresci naquela casinha… passámos tanto tempo juntas e vivemos tantas coisas, onde agora restam apenas memórias… ou tentativas. Não consigo imaginar o que a minha avó tem sentido nas últimas quase 48h… é-me impossível descrever o que eu senti quando vi a sua casa destruída… creio que só entenderá quem infelizmente está a passar pelo mesmo que ela. Neste momento, alguns familiares estão a unir-se para que nada lhe falte. Com isto, venho através desta triste publicação, pedir a quem tenha roupas (xl ou xxl) e calçado (37/38) que não use, nem precise, para lhe doar. Não precisa de muita coisa… leggings e/ou calças confortáveis, camisolas, pijamas, meias polares, casaquinhos… calçado que não seja justo nem apertado. Coisas simples e práticas. Agradeço a quem puder e quiser ajudar. Agradeço mais uma vez aos vizinhos, heróis da minha avó, que a ajudaram, que tentaram ajudar na casa dela e que cuidaram dela. Agradeço a quem se tem disponibilizado para ajudar na casa. Agradeço pelas mensagens de apoio e de preocupação pela minha avó. Está bem fisicamente e psicologicamente, é um dia de cada vez. “
Deixo ainda alguns tópicos para reflexão: Não teremos em Portugal, ainda, muita falta de civismo? Não estará a prevenção longe de ser conseguida? Os planos urbanísticos feitos em cima do joelho e muitos fruto de “negociatas” ajudam a evitar este tipo de calamidades? As exibições das imagens dos incêndios nos meios de comunicação social ajudam a evitar que os doentes pirómanos deem aso à sua loucura? O cada vez maior abandono de terrenos agrícolas não os transforma em combustível que rapidamente propaga incêndios florestais? E, por fim, pergunto onde está o nosso presidente da República? Esteve tão ativo em 2017 e agora parece simplesmente ter-se demitido das suas funções, abraçando inexplicavelmente a missão de ser porta-voz do Governo de Portugal.
“Quando agora se pede ou se promete uma intervenção do Estado para resolver os problemas do “interior” (e não só do “interior”) não se faz mais do que enganar premeditada e desprezivelmente o próximo. Nenhuma medida do governo e nenhuma fantasia do Presidente são capazes de reinventar um mundo para substituir o que morreu.» – Vasco Pulido Valente
Vítor Silva/MS
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