Montenegro tenta estar mais à direita que Ventura
Não estando de opinião contrária ao investimento nas forças policiais, antes pelo contrário, até porque a compra das viaturas policiais anunciada esta semana pelo primeiro-ministro Luís Montenegro já estava prevista pelo anterior governo do Partido Socialista. Foi assim adjudicado um concurso público internacional para a compra de 714 viaturas para a GNR e a PSP, ainda no anterior Governo, estando a verba de vinte milhões prevista na Lei de Programação de Infraestruturas e Equipamentos.
O discurso usado por Montenegro para anunciar este investimento, revelando uma operação policial que ainda nem sequer terminou, foi para além do razoável e foi claramente uma tentativa de conquistar o eleitorado mais à direita do próprio PSD. Chegou mesmo a dizer que Portugal é um país seguro, mas que pode não durar para sempre (esta segurança, entenda-se). Um primeiro-ministro nunca, em momento algum, deve usar as forças de segurança para fazer política. Note-se que o único líder político que elogiou o primeiro-ministro foi André Ventura, e só isso diz muito da qualidade duvidosa do discurso de Montenegro. Esta posição foi tão mal recebida, que dentro do próprio PSD vieram algumas vozes manifestar admiração criticando mesmo o discurso proferido por Luís Montenegro, ladeado por Margarida Blasco e Rita Alarcão Júdice, ministras da Administração Interna e da Justiça, respetivamente. Usar o horário das 8 da noite onde se costumam anunciar medidas ou informações de utilidade para o país foi também, na minha opinião, um desnorte absoluto. Esta declaração foi uma tentativa clara de Montenegro tentar estar mais à direita que Ventura. Numa altura em que a curta governação está a ser feita de erro em erro, de precipitação em precipitação, de adiamento em adiamento, de demissão de ministros ou secretários de estado, o primeiro-ministro decide dar uma conferência de imprensa, usando o horário mais nobre que existe na televisão portuguesa, para um discurso de ideologia de extrema-direita.
Deixemo-nos de demagogias, Portugal é um dos países mais seguros do mundo. Infelizmente, não podemos ignorar que existe racismo em Portugal e alguns exageros de algumas forças policiais. Mas a afirmação do parágrafo anterior permanece ignorada, vendo os políticos à direita da direita em Portugal só a outra face a moeda. Aquilo que Montenegro fez, dizendo que Portugal vai ficar inseguro a qualquer momento, mais não é que alimentar o medo dos cidadãos prejudicando, sem dúvidas, a qualidade da democracia no nosso país. As polícias devem ser responsáveis pela segurança, mas esta também se faz com a educação dos cidadãos e não é incentivando ao ódio e incutindo medo que se consegue a participação destes. A segurança pública deve acontecer para combater a violência, mas não para incentivar a violência, proteger os cidadãos e não provocar uma guerra entre cidadãos.
“Estamos focados na construção de uma sociedade mais segura, tendo trabalhado sempre no sentido de encontrar e de colocar em prática “as melhores respostas” para os problemas das pessoas, no quadro de um “compromisso sério com a integração e a inclusão de comunidades”, que é urgente e necessário”.
Pedro Nuno Santos
Vítor Silva/MS
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