Vítor M. Silva

Fernão de Magalhães e os Velhos do Restelo

 

A época dos Descobrimentos foi de grande fulgor e sucesso para Portugal e os portugueses. Homens como Fernão de Magalhães, Vasco Da Gama, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque, João Gonçalves Zarco, Pêro da Covilhã foram corajosos, arrojados e determinados, mas tiveram quem lhes queria travar o descobrimento de novos mundos, a construção do edifício de um mundo novo. Esses eram os Velhos do Restelo. Estes oponentes ao desenvolvimento e à estagnação de um país são uma personagem de Os Lusíadas, de Luís de Camões.

A história do Velho do Restelo conta que, quando Vasco da Gama partiu de Lisboa para a Índia, um velho homem se insurgiu contra o empreendimento das Descobertas. Este Velho do Restelo era contra a ambição e era o rosto da oposição ao expansionismo. O Velho do Restelo é interpretado como símbolo dos pessimistas, dos que não acreditavam no sucesso da epopeia dos Descobrimentos Portugueses.

Destaco que os Descobrimentos Portugueses deram um contributo muito particular e importante na delineação do mapa do mundo que hoje conhecemos. Fomos também, nós os portugueses, responsáveis por grandes inovações na ciência náutica, cartografia, astronomia e na construção de navios adequados para grandes distâncias no mar. Grandes avanços foram dados no campo do comércio, com os descobrimentos novas mercadorias chegaram à Europa pela mão dos portugueses.

Há cerca de 500 anos, Fernão de Magalhães iniciou uma viagem histórica para circum-navegar o mundo. O explorador e a sua viagem são ainda hoje um caso-estudo pelo seu sucesso. Magalhães era português, mas navegou em nome de Espanha. Era um capitão formidável, mas a sua tripulação odiava-o. A sua expedição foi a primeira a dar a volta ao mundo, mas não acabou por dar a volta ao mundo sozinho. No entanto, é evidente que a expedição de Fernão de Magalhães em 1519 mudou o mundo para sempre. A sua viagem foi “a maior viagem marítima alguma vez realizada e a mais significativa”.

Brutal e corajoso, Magalhães transformou uma viagem comercial num confronto terrível com um mundo que poucos europeus poderiam imaginar. No início da sua viagem, os seus contemporâneos suspeitavam que era impossível navegar ao redor do mundo inteiro e temiam tudo, desde monstros marinhos a névoas assassinas. Aguardava-se alguém suficientemente imprudente para tentar fazê-lo. “Parecia suicídio fazer isto”.

Magalhães deve ser considerado um herói. Boa ideia tiveram aqueles que quiseram dar o nome de Fernão de Magalhães ao Lar que se está a construir na Lansdowne. Espero que não existam por aí descendentes do Velho do Restelo.

«Mas um velho, d’ aspeito venerando, Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no mar ouvimos claramente, Cum saber só d’ experiências feito, Tais palavras tirou do experto peito:

Oh, maldito o primeiro que, no mundo, Nas ondas vela pôs em seco lenho! Dino da eterna pena do Profundo, Se é justa a justa Lei que sigo e tenho! Nunca juízo algum, alto e profundo, Nem cítara sonora ou vivo engenho Te dê por isso fama nem memória, Mas contigo se acabe o nome e glória!

Não cometera o moço miserando O carro alto do pai, nem o ar vazio O grande arquitector co filho, dando Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio. Nenhum cometimento alto e nefando Por fogo, ferro, água, calma e frio, Deixa intentado a humana geração. Mísera sorte! Estranha condição!»

Lusiadas – Luis Vaz de Camoes

Vítor Silva/MS

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