“Eu era estrangeiro e não me acolhestes”
Como pode a nossa sociedade estar com valores tão radicais, marcadamente racistas? O que aconteceu em Portugal no Martim Moniz, recentemente, deve proporcionar imediata reflexão. Imaginemos que alguém filma o desfile do dia 10 de junho na Dundas St, em Toronto, e nas redes sociais comenta que os portugueses invadiram o Canadá, não corresponde à verdade, como em Portugal não fomos invadidos por nenhum tipo de imigração como aliás bem atestam os números do INE. Como podem algumas fações da nossa sociedade ter este pensamento quando, praticamente todos nós, temos membros da família, avós, pais, irmãos, tios e primos, que emigraram. Muitos de nós somos mesmo imigrantes. Não gostamos todos de ser bem tratados e que os nossos emigrantes tenham igual trato de dignidade? O papel da Polícia canadiana, ao lidar connosco que somos imigrantes no Canadá ou da Polícia portuguesa, com os que escolheram Portugal para viver, não deve ir além do papel que tem a desempenhar e deve dar tratamento a todos de maneira justa e com o máximo de respeito.
A Polícia em Portugal não deve ser um instrumento nas mãos de nenhuma ideologia, nunca devemos esquecer que em Portugal se vive uma separação de poderes prevista claramente na constituição da República Portuguesa. A força policial nunca deve ser usada para fins políticos e o 25 de abril veio também clarificar isto mesmo, no entanto, estou severamente preocupado com as instituições policiais em Portugal no que diz respeito à sua autonomia.
Permanecem muitas questões por responder sobre o ataque ao mercado de Natal em Magdeburg, onde morreram cinco pessoas e duzentas ficaram feridas no final do ano passado, principalmente sobre o que motivou o suspeito a atropelar aquela multidão. Mas sabemos que simpatizava com a sigla de extrema-direita AfD. A mesma AfD que o bilionário Elon Musk (o novo imperador dos Estados Unidos da América) apoia. Este partido de extrema-direita alemã tem um discurso claramente voltado para a anti-imigração. Estas atitudes são a consequência de como está a mente humana que, a quatro dias do Natal, numa feira típica montada numa praça da cidade, onde centenas de famílias simplesmente desfrutavam das comidas tradicionais, bebidas quentes e do muito artesanato que é comercializado nesta altura do ano.
Não devemos ser guiados nunca por políticas de medo. Em Portugal, assim como aqui na nossa comunidade, temos uma grande maioria de cristãos. Talvez devamos todos refletir sem hipocrisia neste texto que a seguir vos deixo e onde destaco: “Eu era estrangeiro e não me acolhestes”.
«… Então dirá o rei: “Ide para longe de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. Pois eu tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, eu era estrangeiro e não me acolhestes, estava nu e não me vestistes, estava doente e na prisão e não me visitastes.”
Então lhe responderão: “Senhor, quando te vimos esfomeado ou sedento ou estrangeiro ou nu ou doente ou na prisão e não te servimos?”
Então ele lhes responderá, dizendo: “Amén vos digo: quanto não fizestes a um destes mais insignificantes dos meus irmãos, a mim o não fizestes…» – Evangelho de S. Mateus
Vítor M. Silva/MS
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