Comunidades portuguesas: Somos sempre tudo!

A grande maioria da classe política portuguesa, nas suas intervenções, defende que as nossas Comunidades no estrangeiro são as melhores e que têm características muito próprias, sendo estas uma mais-valia. Se estivermos atentos às palavras dos governantes canadianos afinam pelo mesmo diapasão. Então porque não temos o apoio que merecemos de ambas as partes? Talvez por culpa destes, mas também por nossa culpa, que não procuramos lugares de decisão para fazer impor o que sente o coração, e a razão de tantos e tantos luso descendentes.
Realmente, a comunidade portuguesa no mundo parece estar a alhear-se da política e isso pode tirar, obviamente, força e expressão a tudo o que está relacionado com a “marca” Portugal. Bem sei que aqueles que abandonaram Portugal, para fazer ou refazer a sua vida, longe de casa, não o fizeram propriamente para se candidatar a um lugar político ou trabalhar de outras formas em prol da sociedade, vieram para trabalhar e desenvolver, muitos deles, empreendedorismo, o que é motivo de orgulho para todos nós, e quero enaltecer desde já.
Ninguém quer apenas ouvir que temos os melhores vinhos e a melhor comida. Ainda bem que os temos, mas queremos mais que isso. Nós queremos que a Assembleia da República em Portugal e os centros de decisão dos países que nos acolhem vejam a nossa Comunidade como parte de Portugal, assim como reconhecem por outra parte uma total integração nas diferentes sociedades que escolhemos para viver. Nós queremos ter uma identidade que seja distinguida pelo bem fazer, mas também pelo bem coordenar e planear.
As comunidades devem estar mais unidas que nunca, pois estas terão de ter um papel crucial na resolução e ajuda aos nossos concidadãos, até como afirmação da portugalidade no mundo.
Esta crise pela qual estamos a passar, e que se vai agudizar, precisa, dado o caráter excecional da situação que estamos a viver, de um plano para o qual todos devem ser chamados. Este deve desenvolver um conjunto de programas e medidas excecionais para responder a esta crise, e onde a comunidade portuguesa deve mostrar-se e sair dos Clubes e Associações, que são importantíssimos, para a sociedade e respetiva participação ativa.
A relação entre os Governos de Portugal e os restantes estados não pode ser uma relação de afeto à distância, tem de se consumar numa relação próxima, fulcral e onde aquilo que os luso-descendentes pensam tem de ser valorizado. Temos de chamar a atenção, provar que não estamos desatentos e inativos, vamos fazer com que entendam o que queremos e o que merecemos, vamos fazer passar o nosso discurso.
Espalhados pelos quatro cantos do mundo, os portugueses levam consigo a alma inquieta dos navegadores e o fado entranhado no peito.
São sementes de um país pequeno que florescem em terras distantes, erguidas pelo trabalho árduo e pela saudade que nunca se apaga. Nos becos de Paris, nos mercados de Toronto, nas ruas de Newark ou nos bairros de São Paulo, há sempre um pedaço de Portugal – um cheiro de café acabado de fazer, um acorde de guitarra que ressoa na distância.
Mas não é só saudade que nos define, é também a força de quem reinventa a identidade sem esquecer as raízes. Criam laços em línguas estrangeiras, mas guardam no sotaque e nos gestos a herança que os une. Erguem casas, constroem futuros, e entre o tilintar dos copos de vinho e as conversas ao fim da tarde, reinventam o significado de “casa”, onde quer que estejam. São ecos da pátria que, mesmo longe, continuam a pulsar ao ritmo do mar que os viu partir. E quando voltam – porque todos voltam, nem que seja no pensamento, fazem-no sob uma chuva de lágrimas de emoção. Mas em cada regresso, mesmo que breve, há um abraço que se fecha e um olhar que diz tudo. A saudade é ponte invisível entre o ontem e o agora, e no coração de cada emigrante pulsa um pedaço de Portugal, como um poema escrito na pele, eterno e indelével.
Porque temos valor, porque temos qualidade, porque somos diferentes, porque somos portugueses com muito orgulho. A hora das comunidades portuguesas tem de chegar rapidamente. Juntos somos muitos e temos uma força incrível.
“O povo português é essencialmente cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo.” – Fernando Pessoa
Vítor Silva/MS
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