Carta aberta a Ana Bailão

Cara Ana,
Temos momentos na vida onde tomamos decisões de grande responsabilidade. Provavelmente está neste preciso momento a acontecer a sua decisão de uma candidatura a Mayor de Toronto.

No meu caso e penso na maioria dos que partilham a sua mesma língua mãe, o português, estamos todos a torcer para que decida avançar. Avançar não pela comunidade portuguesa, nem por ser portuguesa, o que nos enche de orgulho, mas sim pela sua competência e experiência, pelo que pode fazer pela cidade de Toronto. Claro que não estamos a falar de uma coroação, mas sim de uma eleição. É necessário muito trabalho e uma campanha assente em grandes bandeiras para poder chegar ao fim e vencer. Mas vivemos em democracia, e sabemos que os resultados são a expressão da vontade dos eleitores.

Por mim, pela nossa comunidade “já lá estava”, mas penso que nós dentro do que pudermos, não podendo ser o fator de vitória, ajudaremos para que isso aconteça. Bem sei que não tem um nome anglo-saxónico, mas tem um nome conhecido em toda a cidade e pelas melhores razões destacando-se mesmo no setor da habitação, aliás onde tanto ainda falta fazer. E, se me permite, ainda lhe deixo 10 “desafios” que, na minha opinião, devem fazer parte da sua agenda.

• Para além da já citada habitação, a falta desta e os preços exorbitantes de rendas e compras.
• O trânsito que como sabemos é caótico e necessita urgentemente de uma solução. Aqui incluo também a rede de transportes da cidade.
• As estradas e acessos que têm que ser repensados, melhorados e dando com o fim, de parte, da solução do ponto anterior.
• As finanças precisam de mais imaginação na arrecadação de receitas, não usando só as multas de trânsito.
  As escolas, muitas destas precisam de grandes remodelações na sua estrutura, algumas estão vazias e outras com excesso de alunos.
• Quanto a governabilidade sei que tem um excelente relacionamento com os diferentes vereadores – à esquerda e à direita, mas como são tantos não é fácil a interação, talvez com uma mudança na quantidade se possa resolver o problema.
• A imigração continua a crescer na cidade, mas a integração precisa ser melhorada, talvez se resolvam outros problemas interligados com esta questão.
• A falta de estacionamento e a fraca acessibilidade ao Ontario Place, um dos “ex-libris” da cidade de Toronto deveriam ter a sua atenção.
• A manutenção da cidade, com os serviços de recolha de lixo à cabeça, precisa de grandes transformações porque funciona com muitas lacunas.
• A segurança da cidade, deixei para o fim, porque deve ser algo que deve ser a “menina dos seus olhos”. Muito tem sido tentado mas sem sucesso, acredito que a Ana terá a competência para incrementar novas políticas para resolver a falta de segurança que todos sentimos nesta cidade.

Termino com um poema do meu conterrâneo transmontano Miguel Torga, o qual creio lhe dará mais motivação ainda:

“Recomeça…

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…”

Força Ana!

Vítor M. Silva/MS