Vítor M. Silva

A sigla CH/PSD

 

Na semana seguinte ao 42º Congresso do Partido Social Democrata (PSD), as nuvens que cobrem Portugal são agora mais sombrias. O dramaturgo grego Sófocles escreveu que é impossível conhecer bem a alma de um homem – a sua maneira de sentir – antes de tê-lo visto na aplicação das leis e no exercício do poder. E esta citação é muito pertinente no atual contexto político português, tendo em conta a prestação do primeiro-ministro, que acabando agora o seu estado de graça “atira” o país para políticas de estado de sítio. A estas políticas chamou-lhes “novas decisões”.

Luís Montenegro tentou deixar anúncios importantes no encerramento do 42º Congresso do PSD, que terminou este domingo (20), em Braga, mas afinal deixou uma “mão cheia de nada”, de tal modo que até os jornalistas tiveram dificuldade em criar notícia, tal foi a falta de conteúdos. Pasme-se que a medida mais aplaudida foi o anúncio de alterações no programa da disciplina de Cidadania.

Das sete “novas medidas”, anunciadas com pompa e circunstância por Montenegro, saltam à vista duas da direita à direita (para ser simpático), como a cidadania sem ideologia e mais polícia na rua. Neste Congresso foi ainda proeminente o discurso anti-imigração, mas realmente realçou-se a patética referência à disciplina de Cidadania como tendo conteúdos ideológicos, através da narrativa criada pelo próprio PSD. Ou seja, todos assistimos neste Congresso à transformação do PSD de centro-direita, para uma direita populista (Francisco Sá Carneiro não se sentiria confortável com estas políticas). Com os problemas de que a educação em Portugal padece, o primeiro-ministro decide falar de Cidadania, numa clara fuga para a frente e para fechar os olhos dos portugueses, que em muitos casos só já estão semiabertos.

No tocante aos valores a ter em conta quando se fala de Cidadania, aqui deixo dois artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

São as ideologias descritas nestes dois artigos, as que no Congresso foram definidas como perigosas e que se devem evitar a todo o custo. Este discurso do Congresso do PSD sobre a disciplina de Cidadania é totalmente antiprogressista e ultraconservador. Ao contrário, esta Educação para a Cidadania contribui para a formação de pessoas responsáveis e mais solidárias sempre com o espírito democrático presente e nunca perdendo o sentido crítico.

Em jeito de conclusão, direi que a direita portuguesa é cada vez mais um perigo, bem concreto e bem real, para os valores democráticos.

“O PSD não precisa de se coligar com o Chega, se já se coligou com as suas ideias”.
Pedro Nuno Santos

Vítor Silva/MS

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