Há dias celebrou-se o centenário do nascimento do Dr. Mário Soares, todos os políticos tiveram direito a dar uma opinião, discursar sobre a figura que Soares foi. Das opiniões que ouvi, notei alguma falta de frontalidade e coragem em certos políticos, porque nem tudo foram luzes brilhantes, também houve falhas e muitos dos que discursaram sabiam e em tempos passados comentaram sobre certas coisas menos boas, mas como depois da morte todos são excelentes, nada diferente se esperava de certos políticos. Mas é importante focar que, Mário Soares é uma figura incontornável na história política de Portugal no século XX, dedicou mais de sete décadas à causa pública, foi um político e estadista que deixou marcas profundas, tanto positivas quanto negativas, na minha opinião, teve uma trajetória como poucos, podia ter sido advogado, jornalista etc., mas optou pela política.
Foi o lutador pela democracia e contra o fascismo. Mário Soares destacou-se como um dos principais rostos da luta contra a ditadura do Estado Novo, fundador do Partido Socialista em 1973, assumiu um papel de destaque na resistência ao regime de Salazar e Caetano, enfrentou prisões e foi perseguido. A coragem dele, nos tempos difíceis, tornou-se como um símbolo de esperança para muitos portugueses que na altura ansiavam pela liberdade. Após a Revolução dos Cravos, em 1974, Mário Soares desempenhou um papel decisivo para a democracia, foi ministro dos Negócios Estrangeiros no primeiro Governo Provisório, foi um dos desenhadores da transição democrática, promoveu a integração de Portugal no projeto europeu e afastou os comunistas de quem muitos tinham medo. Passado algum tempo já como primeiro-ministro e depois como Presidente da República, reforçou o seu compromisso com os valores democráticos, defendeu com garra os direitos humanos.
Mas não nos podemos esquecer da questão das ex-colónias, a decisão controversa entre os momentos mais controversos da carreira de Mário Soares está na descolonização das antigas colónias portuguesas. Este processo, que ocorreu num contexto de urgência e turbulência, foi marcado por decisões difíceis e, em muitos casos, criticadas. Para Mário Soares, a descolonização era inevitável e necessária para libertar Portugal de um peso que comprometia o seu futuro económico e político, só que, a forma como o processo foi conduzido gerou críticas de vários setores. Neste ponto, só houve um partido que teve coragem de tocar durante o seu discurso, porque a entrega das colónias foi, precipitada e desordenada, resultou em conflitos civis, houve instabilidade e tragédias humanas nas novas nações independentes, como Angola e Moçambique. Muitos portugueses retornados enfrentaram enormes dificuldades na reintegração em Portugal, alimentaram muitos ressentimentos, que em muitos ainda duram.
Mas há mais… entre outros, os benefícios e os desafios para Portugal, de uma visão europeísta. Mário Soares foi um dos pilares da atuação política, como primeiro-ministro, liderou a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986, um marco que trouxe modernização, desenvolvimento e recursos financeiros para o país. Este passo foi essencial para a integração de Portugal no mundo desenvolvido, garantiu a democratização e a melhoria das infraestruturas nacionais, mas no entanto, o lado económico não está isento de críticas e sabemos que durante os seus governos, Portugal enfrentou crises económicas e sociais, com medidas de austeridade que, embora necessárias em alguns casos, geraram descontentamento. Não era bom em economia, a dívida pública aumentou, e as desigualdades sociais permaneceram, foi um desastre durante a sua governação. Como veem nem tudo foi diamante.
Entre altos e baixos houve luzes e sombras na carreira, Mário Soares foi um político de convicções firmes, foi um defensor da liberdade e com visão de longo prazo, temos que admitir. As suas decisões, especialmente no que diz respeito à descolonização e à gestão económica, continuaram a ser alvo de debate pela negativa, mas o seu tão único estilo político, rodeou-o de admiradores loucos e críticos com razões. Para mim fica na História de Portugal como um protagonista da luta pela democracia, um grande construtor de pontes para o que a Europa é hoje. O seu percurso foi feito de luzes e sombras.
Resumindo, na minha opinião a figura de Mário Soares será sempre objeto de análise, reflexão e, inevitavelmente, de controvérsia. A forma como enfrentou os desafios naquele tempo, no combate ao fascismo, na descolonização ou na integração europeia, faz o quadro do Portugal que conhecemos hoje.
Desculpem no exceder no tamanho do artigo de opinião, mas o Dr. Mário Soares merece.
Bom fim de semana
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