Ou comes a “sopa” ou…?
Com Portugal bastante afetado pela Covid-19, que nos últimos dias se aproximou perigosamente dos 1000 infetados diários, em que a recente abertura das escolas já proporcionou 12 surtos infeciosos nas mesmas e um pouco assustado com os efeitos da acumulação com a época das gripes, o país está a sentir-se cercado de problemas.
Problemas que não são apenas sanitários, mas que englobam sérias preocupações com a nossa sustentabilidade económica e as suas consequências sociais, cuja solução ou a mera estabilização, aguarda a aprovação política da maioria dos deputados do Orçamento Geral do Estado para 2021 e os milhares de milhões prometidos pela União Europeia. Assuntos que têm servido para um debate em que parece ninguém estar de acordo: partidos, sindicatos, associações patronais, etc., etc. Todos com os olhos postos nos próximos futuros eleitorais e hipotecando os consensos necessários para resolver as situações atuais! Enfim, resultado de um forte espírito crítico que nos identifica e que tantas vezes nos manieta.
Mas, quem pensasse que os nossos problemas se deviam apenas às habituais contradições internas, normalmente resolvidas “à portuguesa” e que felizmente estávamos livres de quaisquer pressões externas que nos complicassem a vida, enganou-se!…
O embaixador dos Estados Unidos em Lisboa declarou em “alto e bom som” que Portugal tem de escolher entre os “amigos e aliados” EUA e o “parceiro económico” China! Avisando ou chantageando (como quiserem interpretar…) o nosso país, para as consequências em matéria de Defesa, se adotarmos o modelo chinês para o 5G (a futura geração de telecomunicações móveis).
Ao princípio pensei que se tratava de uma bullshit mediática, destinada a atormentar o candidato Trump na campanha eleitoral em que está integrado: “ia lá agora o Presidente dos EUA ameaçar um país da União Europeia, independente, amigo, com quem tem excelentes relações diplomáticas e é seu parceiro da NATO!?…”. Mas era verdade, Portugal passava oficialmente a estar envolvido na “guerra comercial” que opõe os EUA à China.
Como sigo algumas das informações disponíveis a este propósito, pensei no entanto que estas declarações despudoradas do diplomata americano, se deviam apenas ao receio das autoridades americanas, quanto à fiabilidade e segurança desta nova tecnologia chinesa, que irá transformar os dispositivos inteligentes em superdotados, ficando o assunto limitado ao 5G, ou seja, seria apenas mais uma atitude da administração americana, no quadro da rivalidade comercial que a opõe à chinesa.
No entanto, como precisou o embaixador dos EUA, George Glass, as consequências que referiu serão da natureza de Defesa e Segurança para Portugal, no âmbito da NATO e troca de informação classificada, não abrangendo as de natureza política, para já…!
Mas, perante a previsão portuguesa de vir a trabalhar com a chinesa Huawei, apenas na distribuição do sinal rádio (que não é primordial nesta nova rede) através do 5G, não se trata apenas das consequências sobre segurança para Portugal, que estão inscritas nesta ameaça do embaixador.
Se Portugal optar por adotar a Huawei para o 5G e se a construção e gestão do novo terminal do porto de Sines, para a distribuição de gás liquefeito, for parar aos chineses, a administração americana considera que tal compromete a distribuição do seu gás, pelo que não irá utilizar o nosso terminal.
E o rol de ameaças de sanções a Portugal, por parte do embaixador americano, evoluem para setores onde a China tem investimentos em Portugal, quer na área da eletricidade ou construção civil, mostrando a verdadeira dimensão da intromissão americana nas atividades económicas portuguesas e um claro desafio à nossa soberania e às leis internacionais que regulam as relações entre Estados independentes.
Já conhecíamos as “traquinices” governativas de Trump e algumas, apesar da sua perigosidade, até nos faziam sorrir pela forma como este se ridicularizava instituindo-se como “senhor do mundo”. Mas o que está em causa não tem nada de anedótico e pode vir a constituir um problema muito sério.
Será que fomos escolhidos para sermos vítimas do conflito entre os EUA e a China, por sermos o elo mais fraco, na pressão americana sobre a União Europeia e Trump está a utilizar-nos para ver a reação dos nossos parceiros europeus?
Da nossa parte a resposta foi imediatamente dada pelo nosso ministro dos Negócios Estrangeiros e pelo Presidente da República: quem manda em Portugal são os representantes dos portugueses!
Nota: até ver (…), não comemos a “sopa”!
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