Opinião

Os incêndios e os “incendiários”!…

Se há situações que têm afetado a nossa sensibilidade, no início deste ano, uma delas são os incêndios devastadores que têm assolado a Austrália.

As imagens dantescas deste continente em chamas, proporcionadas pelas reportagens televisivas diárias que chegam até nós, relatando o inferno que há meses afeta a população daquele país, consumindo vidas, casas, florestas, animais e que teima em persistir, tornando inglório o esforço dos bombeiros, faz-nos recordar a tragédia que Portugal já viveu, embora nas devidas proporções relativas à dimensão dos dois países.

Mas faz-nos relembrar igualmente de tudo o que tem sido dito e provado acerca das alterações climáticas que afetam o nosso planeta e para as quais nenhum país se pode eximir das suas culpabilidades, entre os quais a própria Austrália que, embora seja considerada um país moderno, tem estado muito desatenta às medidas para controlar o aquecimento da Terra.

Mas se os incêndios nos afetam, pelos muitos e diversos prejuízos causados e vidas que destroem, também os “incendiários” das guerras são cada vez mais perigosos para o planeta e para todos o que nele vivem.

A decisão do Sr. Trump em matar o general iraniano Soleimani, que se encontrava no Iraque e que, embora não seja “flor que se cheire”, era a segunda figura do regime de Teerão e imensamente popular no seu país, atiçou o profundo ódio dos iranianos e dos povos daquela área para com os americanos, alargando o espetro de uma vingança próxima do Irão, que pode acontecer em qualquer país contra alvos americanos, perdeu alguma confiança que poderia ter pelo atual regime iraquiano, que expulsa agora os milhares de soldados americanos que ainda se encontram no Iraque, abriu as portas à reimplantação dos terroristas radicais do DAESH que, curiosamente, tinham sido derrotados pelo próprio general Soleimani, com a ajuda americana e, na escalada de ameaças de um lado e do outro, está a criar um clima propício a uma guerra declarada na região e que afetará todo o mundo.

Este Sr. Trump, que mente descaradamente, já nos tinha habituado à “roleta” das suas decisões, por falta de estratégia na política internacional e pela debilidade dos seus raciocínios, o que o tornava e torna bastante perigoso enquanto presidente de um país tão poderoso como são os EUA. Tentar encontrar alguma razoabilidade no assassínio da segunda figura do regime iraniano, num momento em que este se encontrava num país terceiro, enquanto vingança das manifestações anti-americanas na embaixada dos EUA em Bagdad, parece-me uma análise muito simplista para o perigo que tal ação constitui.

Há dois atores principais com interesses em jogo naquela martirizada região do globo, embora não exclua os interesses xiitas iranianos na região que, apesar desta ação do presidente americano, ficaram ainda mais reforçados. Dois atores, Donald Trump e Benjamin Netanyahu, em circunstâncias análogas: a viverem períodos semelhantes (eleições próximas) e um desafio externo vem mesmo a calhar, a passarem por dificuldades idênticas (processos em justiça) e um conflito desta natureza calaria muitas vozes e a precisarem um do outro. No caso de Trump, os financiamentos judaicos para a campanha eleitoral e para Netanyahu a ajuda à defesa de Israel (isto sem esquecer as contrapartidas económicas da indústria de armamento americano, pouco convencida com a política do presidente americano de “regresso a casa” dos seus soldados).

Custa-me aceitar que agora vale tudo, ao invés de se procurarem vias de relacionamento e desanuviamento entre países e políticas diferentes.

Trump já tinha dado mostras da sua “obediência” aos interesses de Israel, nomeadamente quando quebrou o acordo com o Irão sobre o controlo do enriquecimento do urânio, hoje denunciado por este último após o ataque contra o general iraniano, perspetivando a criação de armas nucleares. Atitude americana bem diferente daquela que tomou em relação ao déspota norte-coreano, a quem abraçou e chamou amigo, mas também muito semelhante à que o próprio Kim Jong-un tomou quando mandou matar o seu meio-irmão que se encontrava na Malásia ou quando Putin ou um príncipe saudita manda matar os seus opositores no estrangeiro.

A situação é, pela amplitude desta ação americana, deveras complicada. Resta ainda saber  qual vai ser o comportamento de alguns atores na zona, como a Turquia (parceiro da NATO que já compra armas à Rússia) e a própria Rússia, bem presente na Síria.

A Europa, comprometida com a Aliança Atlântica, pode torcer o nariz ao comportamento americano, mas com o Reino Unido à espera das promessas de Trump após o Brexit, não me parece que venha a tomar alguma posição especial, para além de um diplomático encolher de ombros.

À espera de uma guerra que não queremos estamos todos aqueles que não se querem envolver em mais uma carnificina, que a humanidade já devia ter feito desaparecer do quadro do nosso relacionamento.

Affaire a suivre!

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