Luís Barreira

Uma semana angustiante!

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Créditos: Lusa/DR

A última semana foi para os portugueses, e não só, uma semana triste e de dramáticas recordações.

Faleceu um dos mais acarinhados ex-Presidentes da nossa República, que exerceu essas funções durante 10 anos (1996-2006). Um notável humanista, inteligente e culto, íntegro e corajoso na defesa das suas convicções, simpático, cordial e de gentil trato para com toda a gente porque, segundo ele, “nenhum português é dispensável”.

Sucedendo a Mário Soares na chefia do Estado e num período de difícil transição da sociedade portuguesa, Sampaio, esse lutador pela liberdade e democracia desde o seu período académico contra o regime salazarista, desempenhou ao longo da sua vida funções de grande responsabilidade e mérito, onde se destaca o ter sido presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1990-1995), secretário-geral do Partido Socialista (1989-1992) e, mais recentemente, a 1 de abril de 2007, Alto Representante para a Aliança das Civilizações, onde deixou bem expressa a sua marca de solidariedade para com outros povos em dificuldades como, muito antes, já o havia feito por Timor-Leste.

Ao longo da minha vida cruzei-me algumas vezes com este notável personagem por quem, desde os tempos do há muito extinto Movimento da Esquerda Socialista (MES), que conglomerava gente de várias sensibilidades democratas e onde Jorge Sampaio foi um dos fundadores em 1974, até ao tempo em que já era Chefe de Estado, senti sempre uma admiração. Por ser um homem culto e disponível para pensar no futuro de Portugal e dos portugueses, mesmo que isso lhe custasse algumas arrelias políticas ao longo do seu trajeto, (tão bem dissipadas agora nos discursos e comentários fúnebres após a sua morte…).

E foi pelo apreço que lhe dedicava e pela circunstância de estar perante um político excecional, no seu ambiente mais sumptuoso, que senti o coração apertado quando, há uns anos, entrei no Palácio de Belém para o entrevistar. No entanto, todos os meus receios se desvaneceram quando, após a admissão protocolar, fui recebido por um homem simples em mangas de camisa, de cabelo alaranjado e óculos na ponta do nariz, que me disparou com um sorriso nos lábios: “Então diga lá o que me quer perguntar”!

Sampaio, mesmo sendo Presidente, era a mesma pessoa afável por quem eu nutria grande simpatia e, na altura, desinibiu-me para que eu o questionasse com algumas perguntas, mesmo aquelas mais difíceis sobre aspetos do seu percurso político, às quais ele respondeu de forma metódica e convicta, demonstrando estar à vontade com todos os dossiers e querer continuar a esclarecer a opinião pública sobre os seus atos, conseguindo manter a entrevista num tom de cordialidade e gentileza para comigo.

Era assim Jorge Sampaio, um homem de coração aberto, mas igualmente impetuoso e firme quando se tratava de defender as causas em que acreditava.

As cerimónias fúnebres de Jorge Sampaio com honras de Estado e aplaudidas por todas as forças políticas nacionais e a população que lhe prestou homenagem, decorreram no passado domingo (12) e os três dias de luto nacional terminaram esta segunda-feira (13).

Sampaio ficará para a história de Portugal como um dos mais prestigiados Presidentes da nossa República!

Um outro acontecimento que marcou tristemente a passada semana foi a comovedora recordação dos 20 anos passados sobre o brutal ataque terrorista às Torres Gémeas, em Nova Iorque e ao Pentágono, em Washington.

Cerca de 3.300 pessoas faleceram ou foram dadas como desaparecidas naquele horrível e sangrento dia 11 de setembro de 2001, que ensombrou drasticamente quaisquer esforços de aproximação à paz mundial, gerando uma onda de revolta e vingança contra os seus autores e, por arrasto, contra uma região infestada de agentes bárbaros da Al-Qaeda, de grupos fundamentalistas islâmicos e países que lhes deram apoio.

Rever as imagens televisivas da destruição das Torres Gémeas, perante o espanto dos nova-iorquinos, (que inicialmente consideravam inverosímil um ataque terrorista contra o coração dos EUA), o pânico dos milhares de pessoas que se encontravam no seu interior, os seus telefonemas aflitivos e todos aqueles que, desesperados, saltavam das janelas para morrer na rua foi, mais uma vez, um espectáculo horroroso que, associado a tantos outros ataques havidos em solo europeu, nos deixou ainda mais conscientes das ameaças e perigos que as nossas sociedades atravessam, por parte de todo o tipo de pérfidos executores da maldade humana, em nome de um culto impiedoso. Sobretudo porque, embora se manifestem por causas externas às nossas próprias sociedades ocidentais, muitos deles fazem parte das nossas próprias sociedades.

Em nome da liberdade e da democracia não queremos que as nossas sociedades se transformem em sociedades policiais, mas não podemos deixar de estar vigilantes e dispostos a sancionar o “deixa andar” das nossas estruturas de segurança, como o caso que aconteceu recentemente em Lisboa, com a detenção de dois iraquianos suspeitos de pertencerem ao Daesh, que vieram infiltrados num grupo de refugiados que veio da Grécia. Residiam há quatro anos em Portugal e há anos que eram investigados pela Unidade Nacional Contra Terrorismo da Polícia Judiciária, preparando-se para sair do país. E tudo isto depois de, há já algum tempo, um deles já ter estado num convívio, onde foi fotografado ao lado do António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa e um grupo de embaixadores da União Europeia, sem que estes soubessem de quem se tratava.

Sei que somos um país de “brandos costumes” o que, só por si, não me lesa o amor que lhe dedico, mas não gostaria que fossemos conhecidos por um país de “débeis mentais”, dispostos a colocar em causa a segurança dos nossos representantes e do nosso povo, em nome (eventualmente…) de uma qualquer burocracia, de uma estúpida ciumeira ou conflitualidade entre as nossas forças de segurança.

Assim não dá!

Luis Barreira/MS

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