Luís Barreira

Teremos de pedir milagres aos Santos?

 

milenio stadium - Hospital_Dona_Estefania

 

Em Portugal, é tempo de Santos Populares!

Com manjericos e marchinhas a desfilar, o calor a apertar e o cheiro a sardinhas no ar, Lisboa foi a atração para milhares de portugueses e estrangeiros, que se acumularam nos bairros típicos da cidade, dançando, comendo e bebendo (muito…) até altas horas da madrugada do último fim de semana.

Foi o primeiro St. António após o fim das restrições provocadas pela Covid e a população lisboeta “vingou-se” da dieta forçada, rezando agora ao Santo padroeiro para que a festa não dê em tragédia porque, os malditos vírus, ainda andam por aí!…

Quem não anda por aí muito bem são os nossos serviços públicos hospitalares (e os santos não ajudam…), com vários serviços fechados por falta de médicos, um pouco por todo o país, sem que os responsáveis governamentais pela área da saúde consigam resolver este problema nacional cíclico. Os responsáveis pelos hospitais queixam-se que não conseguem evitar o fecho de alguns serviços porque os médicos são poucos e os que há meteram férias! Não querendo obrigar os médicos a deixarem de gozar as suas merecidas férias, reconhecendo absolutamente que a solução não passa por aí e que a resposta habitual do nosso Ministério da Saúde: “situações ocasionais”, não me satisfaz, pergunto: então agora, sempre que os médicos vão de férias, não se pode adoecer?

Claro que há muito se sabe que o nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem muitos problemas e um dos mais graves é a falta de profissionais, em várias especialidades. No entanto, eles não faltam nos serviços privados de saúde, cujos hospitais não param de aumentar, mesmo que os preços dos serviços prestados sejam mais elevados, não estando ao alcance de toda a gente.

Perante tal cenário competitivo, entre o privado e o público, é natural que após um curso superior de seis anos e mais um de internato geral, com muito poucos concursos de progressão de carreira, os jovens médicos se sintam pouco predispostos a ficar no SNS, a ganhar uma média de 9,27 euros líquidos por hora, tanto ou menos do que se paga a uma empregada de limpeza de residências em Portugal.

Algo está errado na remuneração geral dos médicos do SNS ou o Estado não terá capacidade financeira para, mantendo os seus serviços de saúde tendencialmente gratuitos, aproximar as remunerações destes profissionais do setor público, dos praticados no setor privado. Se for este último caso ter-se-á que repensar toda a organização dos nossos serviços de saúde pública (mesmo que para tal se associe ao setor privado), por forma a garantir o acesso à saúde de todos os portugueses, “mesmo no período de férias destes profissionais”, preservando o princípio que esteve na base do atual SNS, ou seja, garantir o seu baixo custo para os utentes.
Mas St. António também não abençoou os milhares de estrangeiros que, “mais uma vez” neste fim de semana, chegaram ao aeroporto de Lisboa e tiveram que esperar quatro a cinco horas, amontoados dentro das instalações, até que os inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) os autorizassem a sair do aeroporto.

Fiquei incrédulo! Esta é a segunda vez que tal acontece (ou que publicamente se saiba…), no espaço de poucas semanas, com os turistas que nos chegam oriundos de fora do espaço Schengen.

Com o país suspenso com a retoma económica do turismo e toda uma recente experiência que nos deixou a todos envergonhados perante quem nos visitou, os serviços do SEF no aeroporto de Lisboa e toda a complexa teia de serviços do Estado disponíveis na organização da receção do aeroporto, voltaram a permitir vir a acontecer a mesma coisa incrível! Milhares de passageiros e muitas crianças, sem nenhuma informação sobre o motivo da espera, sem cadeiras para se sentar e sem água!

Uma inspetora do SEF no aeroporto referiu, durante uma entrevista televisiva, que está há muitos anos naquele serviço aeroportuário e que nunca tinha visto, nesta altura, tanta gente a chegar (esqueceu-se da última vez ou estava de férias?…), salientando que o aeroporto tem apenas 16 boxes de controlo de passageiros e que não pode aumentar mais, mas que, a partir de 4 de julho (espero que, até lá, não volte a acontecer o mesmo…) o aeroporto vai ter um reforço de inspetores do SEF e da PSP (afinal vai haver mais boxes?…). Interrogada sobre se este fim de semana as tais 16 boxes de inspetores do SEF, atualmente possíveis, estavam todas a funcionar, respondeu timidamente que não, “teriam faltado alguns inspetores” (estavam doentes? Estavam de férias? Tiveram fim de semana alargado? Foram para as festas dos Santos Populares?…). Enfim, desculpas esfarrapadas para justificar o injustificável e permitir mais uma vez que tais notícias apareçam nos jornais internacionais, convidando os turistas a escolher outras paragens porque aqui, em Portugal, é uma barafunda!

Andamos há anos em intermináveis discussões sobre a incapacidade do atual aeroporto de Lisboa, em conseguir aumentar maior volume de passageiros, ao mesmo tempo que muitas opiniões de especialistas (??), protetores da natureza (??) e um infindável grupo de interesses políticos e económicos, dispersam a discussão sobre o local de construção do novo aeroporto de Lisboa. Um destes dias ainda aparecem os espanhóis com uma ideia peregrina: fazem um aeroporto internacional em Badajoz e transportam gratuitamente os turistas para o Algarve (os que quiserem ir, naturalmente…)

O Santo António milagreiro de Lisboa deve estar como eu, a perder a paciência!

Luis Barreira/MS

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER