Luís Barreira

Portugal sem problemas… não tem graça!

 

nik-guiney-dzD67vW_93I-unsplash - Milenio Stadium

 

Claro que não é só o nosso país que sofre de problemas congénitos de economia, de política, de sociedade e de tantas outras manifestações criticáveis, mas porque falo dele, se algum dia me dissessem que todos, ou pelo menos os maiores, problemas nacionais estavam resolvidos, eu passaria a acreditar na existência e veracidade de muitos dos personagens dos filmes de Walt Disney, como a “Bela Adormecida”. Na verdade, talvez quando tinha 4 ou 5 anos, impressionado pelo écran “gigante” do velho Monumental de Lisboa, saía “iluminado” e sonhador do cinema, acreditando que os contos de fadas eram realizáveis.

No entanto e muito mais tarde, ao ler partes do “Livro das mil e uma noites”, dei conta da perversidade humana ao compreender que “Ali Babá e os Quarenta Ladrões” era uma imagem mais fiel da realidade do mundo que me envolvia.
Tudo isto para vos tentar dizer que eu, nascido para este mundo no fim dos anos 40 do século passado, nunca vivi neste país sem o considerar sem grandes problemas, que foram mudando de caráter e amplitude ao longo dos tempos. Razão por que confesso que, para mim, Portugal sem problemas… não tem graça! Não porque os problemas e nomeadamente os grandes, sejam engraçados, mas porque não estamos habituados a viver sem eles!
Colocando de parte esta minha caricata introdução pessoal, afinal quais são os nossos principais problemas atuais que nos afetam?
O Serviço Nacional de Saúde continua a dar que falar aos noticiários televisivos, pelas dificuldades que enfrenta em cumprir as suas previstas funcionalidades em várias áreas das especialidades médicas, obrigando os utentes a grandes deslocações na procura de profissionais médicos disponíveis. O problema é que não há médicos especialistas suficientes no serviço público, porque os salários não são tão atrativos como os praticados nos hospitais e clínicas privadas. A situação não é nova e, no contexto da concorrência que é cada vez maior, a ministra da Saúde propõe pagar aos médicos do SNS, um complemento salarial pelas horas extraordinárias que estes façam no período estival, quando existe maior carência de médicos em virtude das suas férias, tal como se adiarem os respetivos períodos de descanso formal. Um remendo que nem muitos médicos parecem aceitar e a tentativa de mais um adiamento na necessária grande reestruturação do nosso SNS.
A guerra na Ucrânia, que tem afetado todos os países europeus, prolonga-se nos seus efeitos.
Sendo o aumento e carência dos combustíveis, gás e petróleo, uma das grandes dificuldades que se colocam ao conjunto dos países da UE, a Comissão Europeia (CE) vem agora propor que todos os países cortem 15% do gás que consomem, entre o próximo agosto e março de 2023, em solidariedade entre uns e outros. Uma proposta que não foi aceite pelo Governo português (nem o espanhol e o grego), que evoca a enorme seca que nos atinge e que provoca uma acentuada queda da nossa energia hídrica, obrigando as centrais elétricas a utilizarem os combustíveis que agora nos querem diminuir. No entanto, esta proposta da CE vai ser votada por maioria simples entre os seus membros, o que pode provocar a sua aceitação pelos grandes países industriais. Questão interessante que poderia levantar a ancestral discussão sobre a razão por que a UE (França…) nunca aceitou a realização de gasoduto que ligasse a Península Ibérica ao resto da Europa, beneficiando os países ibéricos da mesma fonte de desenvolvimento energético. “Les Uns et les Autres” não são todos iguais!
Por razões semelhantes, aos quais se junta a especulação e a disrupção de muitos circuitos de distribuição durante a pandemia da Covid, a inflação está aí para ficar. O Banco Central Europeu decidiu, contra aquilo que antes previa, fazer aumentar as taxas de juros. Uma situação que afeta necessariamente as economias dos países europeus com dívidas elevadas, como é o caso da Itália, Grécia, Espanha ou Portugal e que atua diretamente sobre o aumento dos juros das prestações das casas, de quem tenha um crédito habitação, obrigando os portugueses a fazerem contas à vida, para além daquelas que já fazem para suportar o aumento de preços dos produtos do cabaz alimentar, em consequência da inflação que nos tem feito perder poder de compra!
Mas o fim dos juros negativos, que pretende combater a inflação, pode ocasionar o perigo de uma recessão económica (que já nos aconteceu…) provocando uma crise das dívidas soberanas. Daí que o BCE tenha criado um mecanismo a que chama TPI (Transmission Protection Instrument) destinado a evitar que alguns países, nomeadamente os periféricos onde nos integramos, possam vir a sofrer pesadas consequências. Veremos se o TPI funciona. Affaire a suivre!
De qualquer forma, o Governo português decidiu que em setembro irá lançar um novo pacote de medidas de apoio às famílias e empresas, para compensar a inflação e a subida das taxas de juro. Espero na altura não ter de me recordar do Sérgio Godinho e “Com Um Brilhozinho Nos Olhos” afirmar: ”…soube-me a pouco”!…
Porque afirmei que “Portugal sem problemas…não tem graça!” não queria, antes de partir de férias, despedir-me de vós sem comentar uma “séria” situação engraçada que se passou na Assembleia da República na passada quinta-feira, 21.07.
André Ventura, o agitador presidente do “CHEGA”, fez um dos seus habituais e estrondosos discursos contra os estrangeiros e imigrantes em Portugal e foi repreendido pelo Presidente da AR (PAR) por estar a colocar em causa a Constituição do país e a valiosa atividade económica desses imigrantes para Portugal. Ventura não gostou e, vociferando contra o PAR, fez com que o seu grupo de deputados abandonasse a Assembleia.
Pergunto eu: sabendo que este ano os deputados da AR vão ter de trabalhar até fim de agosto e retomar a 7 de setembro, será que este habilidoso político mais não fez do que conseguir mais uns diazitos de férias para os seus correligionários?
Sejam felizes e até setembro. À volta… cá vos espero!

Luis Barreira/MS

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