Luís Barreira

Portugal e os seus emigrantes!

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Créditos: Miko Guziuk

Quem teve ocasião de sintonizar os canais televisivos de informação portugueses, neste último domingo (2), não conseguiu disfarçar a sua revolta contra a situação de milhares de emigrantes portugueses em filas intermináveis nos aeroportos nacionais, para conseguirem fazer um teste à Covid nos locais designados dos aeroportos, que lhes permitissem entrar nos países de acolhimento onde vivem e trabalham. E após longas horas de espera para as famílias com crianças, grande parte acabou perdendo os respetivos voos e foram obrigados a desembolsar a compra de outras viagens para mais tarde, correndo ainda o risco de serem infetados na enorme confusão das filas e encontrar dificuldades futuras nos seus respetivos empregos.

Foi um vergonhoso espetáculo de desorganização nacional, que não pode ser justificado por ser imprevisível, dado que eram perfeitamente conhecidas as dezenas de voos programados para esse dia, assim como as centenas de passageiros que iriam partir dos aeroportos de Lisboa e do Porto e que uma grande parte das farmácias nacionais, onde se poderiam efetuar os testes, ou estavam fechadas ou tinham esgotado os seus stocks de testes.

Se tal situação era previsível para qualquer gestor de aeroportos e para as autoridades sanitárias portuguesas, porque não foram abertos mais postos de testes nesses locais? Se a justificação era a de que os profissionais de saúde da DGS estavam em período de folga (cujo merecimento não ponho em causa), porque não se utilizou a nossa estrutura militar para essas funções ou o contributo de hospitais privados?

Pese embora a possibilidade de, entre tanta gente, haver um ou outro turista, a esmagadora maioria dos passageiros eram emigrantes portugueses que vieram passar o Natal e Ano Novo junto dos seus familiares em Portugal, tal circunstância parece sugerir que esta manifesta desorganização e relaxe teve um fundamento perverso. Tratava-se “apenas” dos nossos pacientes e esforçados emigrantes!…

Por estas e tantas outras variadas razões, não deixarei de sublinhar a falta de consideração que os poderes instituídos em Portugal sempre têm tido para com os seus muitos milhares de portugueses espalhados pelo mundo, apenas aplaudidos quando se trata de incentivar as suas remessas para o país e acarinhados por alguns políticos partidários, que se deslocam a alguns países de acolhimento, em vésperas de eleições nacionais.

A propósito das remessas financeiras da emigração portuguesa, que têm tido sempre uma tendência de crescimento, embora interrompida em 2019 por razões que se prendem com os efeitos da pandemia na economia dos países de acolhimento, mas que continuou a aumentar em países como a Suíça, Reino Unido, Estados Unidos, Venezuela, Bélgica e Países Baixos, sendo que o último valor global anual, registado no PORDATA, foi de 3.612 milhões de euros, equivalente a 1,8% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, o que não está muito longe do peso da nossa agricultura no PIB português. E Portugal registou nesse mesmo ano (2020), uma queda histórica de 7,6% no seu PIB.

Porque estamos em vésperas de eleições para a Assembleia da República, marcadas para 30 de janeiro próximo, não sei se iremos a tempo de se efetuarem as habituais visitas de “conveniência” dos nossos políticos aos locais de emigração partidariamente mais importantes e da abertura das nossas embaixadas à “diplomacia do croquete”, com a presença dos notáveis locais, os cerca de 2,6 milhões de portugueses a viver no estrangeiro (tendo a França o maior número: 587.300 em 2020), que representam na totalidade cerca de 25% da população residente em Portugal no ano de 2019, vão ser convidados a votar nestas eleições. Mas, para que tal seja possível (de acordo com o processo habitual porque, o voto eletrónico tão prometido, só será possível “talvez…” em 2023), têm de estar recenseados nos cadernos eleitorais junto das respetivas embaixadas onde, atualmente, estão recenseados cerca de milhão e meio de portugueses que vivem fora de Portugal. E quem não estiver recenseado também já não o pode fazer, porque os cadernos eleitorais só podem ser alterados até 60 dias antes das eleições (tinham de fazê-lo antes da queda do governo!…)

Tendo em consideração a habitual e enorme abstenção nos círculos eleitorais fora de Portugal, agora agravados com o medo da situação pandémica que se vive em todo o mundo no caso dos votos presenciais e as enormes devoluções de votos que se registam nestes círculos (só nas últimas eleições foram devolvidos mais de 300 mil boletins de voto), estas eleições (cá dentro e lá fora), vão ser marcadas por um aumento exponencial de abstenções mas que, no caso dos emigrantes portugueses, ficarão proporcionalmente adequadas ao seu poder eleitoral, uma vez que apenas podem eleger quatro deputados.

Como bem afirmou o primeiro-ministro em exercício, António Costa, para que um partido possa ter a maioria absoluta é preciso que alcance 50% dos votos mais um! Como existem pelo menos dois partidos políticos (PS e PSD) que aspiram a essa maioria e se for do seu interesse algum deles, o seu voto conta! Mas se nenhum deles obtiver essa vitória, um outro qualquer partido com que se identifique pode definir o sentido da próxima governação, pelo que o seu voto, em alguns dos outros, também conta!

Porque se trata das eleições mais importantes do país, definindo quem o vai governar (bem ou mal…) no futuro próximo, estejam atentos porque todos os votos contam, mesmo que sejam poucos.

Luis Barreira/MS

 

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