Luís Barreira

O rescaldo de uma aflição (até agora)!…

luis barreira fogo - milenio stadium

 

 

Com a diminuição da onda de calor que afetou Portugal inteiro na passada semana e que conduziu o Governo português a tomar a decisão de diminuir o grau de perigosidade da situação, passando da condição de contingência para o nível de alerta (durante 48h), tem levado especialistas e comentadores a fazer um balanço de tudo o que se passou até agora. E sublinho até agora, porque o verão apenas começou há um mês e as temperaturas do ar continuam elevadas, como é natural nesta época, para além da seca que se vive no país e a falta de humidade nos solos, poderem perspetivar a continuidade dos incêndios em Portugal. Como está a acontecer!

Em síntese e em forma de contabilização provisória, durante este ano o país já teve 6.250 incêndios, donde resultaram cerca de 40 mil hectares de floresta, mato e terrenos que arderam, para além de várias habitações. Entre os países europeus (e até agora) Portugal ocupa a terceira posição em território vitimado por incêndios, a seguir à Espanha e à Roménia, estando perto de ultrapassar a totalidade de área ardida em todo o ano de 2021, que foi de 67.000 hectares.

Pelo que me foi dado observar pelos relatos televisivos, durante a passagem desta tórrida vaga de calor (que agora se desloca para norte e centro da Europa, mas atingindo desde já com severidade Espanha e França), para além do angustiante drama das populações rurais e semiurbanas na luta pela defesa dos seus bens e da sua vida, este ano houve alterações significativas no combate aos incêndios. Alterações na organização dos meios disponíveis de ataque aos fogos e nos objetivos prioritários a defender, nomeadamente: a vida e os bens das populações.

No entanto e pese embora todo o esforço desenvolvido pela proteção civil, bombeiros, GNR, militares e de todas as populações das áreas em perigo, foi notória a ainda escassez dos meios para atacar um flagelo desta dimensão. Até agora, não há perda de vidas humanas a registar por causa direta dos fogos, embora tenha falecido um desafortunado piloto de um dos aviões de ataque a incêndios, que se despenhou nas margens do Douro e um acidente de viação, que vitimou um casal septuagenário que fugia do fogo.

Naturalmente que, após este período de maior gravidade, começam a surgir “a quente” todo o tipo de críticas justas e injustas sobre o que se passou.

As maiores críticas políticas, nomeadamente por parte das figuras de partidos da oposição, deputados, dirigentes autárquicos ou responsáveis de confederações rurais, têm atribuído ao chefe do governo, António Costa, a responsabilidade de tudo o que aconteceu provocado pelos fogos, quase só faltando insinuar que o Sr. andou a atear fogos um pouco por todo o lado!…

Mas, na realidade e após vários anos com responsabilidades governativas do atual chefe do governo, já era tempo de se começar a ter resultados sobre a aplicação de todos os estudos que foram feitos sobre o território nacional (cadastros, alinhamentos arborícolas, limpeza de matas, reformas das propriedades, etc.), para evitar estas calamidades anuais, que historicamente se vão repetindo com perigosidade acrescida, em consequência das alterações climáticas a que o país está sujeito.

É evidente que os fogos não deixarão de acontecer, mas trata-se de minimizar os riscos para a população, os seus bens e a economia portuguesa em geral.

É necessário manter um combate duríssimo contra os incendiários, através de uma fiscalização permanente por parte das autoridades existentes para esse efeito; manter a persuasão das populações rurais para evitarem comportamentos de risco, (que não pode ser uma ação pontual em períodos localizados no ano, mas permanente) e a avaliação das suas atitudes não pode ser meramente punitiva, se essas populações não tiverem meios para proceder da forma legalmente exigida, devendo ser auxiliadas pelas entidades locais ou pelo Estado.
As soluções para combater os incêndios que nos afetam não podem ser pensadas nos momentos das tragédias, mas antes e com base na enorme e infeliz experiência que temos. Elas envolvem várias vertentes já estudadas de meios humanos e materiais. E, a propósito de meios humanos, não basta criticar os guardas-florestais por terem agora feito greve em pleno período de fogos, reivindicando uma carreira profissional e uma melhoria das suas remunerações. De facto, à partida, custa compreender a atitude destes profissionais, mas convém não esquecer que já se tinham manifestado durante o inverno e ninguém lhes deu importância. Os problemas resolvem-se no momento certo!

Por outro lado e de forma geral, a nossa população rural é cada vez mais idosa e sacrificada na obtenção dos seus parcos rendimentos da terra. Se queremos devolver a dignidade de quem sempre trabalhou a terra e tornar esta atrativa para as gerações mais jovens, é necessário adaptar as mentalidades dos nossos camponeses, atualmente encerrados num quadro de micro propriedades, para uma economia rural mais vasta que, não lhes limitando o seu direito à propriedade, os faça beneficiar de rendimentos acrescidos àqueles que antes obtinham. Isto não se faz num dia, mas já se podia ter iniciado há muitos anos atrás (e toda a gente sabe disso…)!

Muita gente fala na necessidade de reformas económicas nacionais, mas quando se fala nas alterações estruturais do mundo rural (para já não falar de outras áreas da nossa sociedade), os partidos políticos portugueses fecham-se a qualquer entendimento consensual, receosos de ferir parte do seu eleitorado. Afinal, é sempre melhor criticar do que co-responsabilizar-se!…

Os incêndios que continuam a lavrar em Portugal ainda vão dar origem a muitas conversas “afiadas”. Por mim encerro aqui este assunto porque já perdi a paciência de voltar ao tema todos os anos.
Sejam felizes!

Luis Barreira/MS

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