Luís Barreira

O regresso!

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Bem-vindos ao regresso à rotina, para todos aqueles cujo trabalho é uma inevitabilidade necessária e a todos os outros que por lá passaram e que hoje desfrutam de um merecido descanso.

Acabou-se o período habitual de férias e com ele convergem à memória as recordações dos bons e maus momentos vividos nesse tempo.

Para aqueles que rumaram a Portugal e às suas terras de origem, os fogos e a tremenda seca que o país atravessa não lhes deixaram felizes lembranças. Muitas das paisagens coloridas que conheciam transformaram-se num filme a preto e branco, num mar de devastação que levará muitos anos a recompor o quadro natural que conheciam. Da mesma forma que muitos rios e albufeiras deixaram de ser um lugar aprazível, por onde serpenteavam águas límpidas e abundantes, dando agora lugar a leitos secos e peixes mortos.

Uma tristeza que tem a sua origem cientificamente explicada nas alterações climáticas que provocámos e que, para além disso e no caso dos fogos, na nossa incapacidade em combater eficazmente este flagelo que todos os anos nos atinge de forma crescente, associada à escandalosa mão criminosa dos incendiários que, por motivos comerciais, relaxamento cívico, futilidades ou mentalidades tresloucadas, pegam fogo às nossas matas e florestas.

No caso da seca e se para além de maiores restrições nas culturas de regadio e no consumo privado de água potável, se podem ir diminuindo as terríveis consequências deste fenómeno atmosférico, nada poderá detê-lo se, no próximo outono e inverno, não chover o suficiente para alimentar as necessidades de água do nosso país. E os prognósticos meteorológicos não são muito animadores!

A avaliar pela população de origem portuguesa que encheu os hotéis nacionais, nem todos ficaram com recordações negativas das suas férias. Foi marcante no desenvolvimento turístico nacional, a ocupação dos espaços disponíveis de alojamento por parte dos portugueses que frequentaram a orla marítima e aproveitaram o sol e as praias nacionais, para se deleitarem ao serviço do “bronze” e da frescura das nossas águas oceânicas. Isto sem esquecer os que utilizaram as inúmeras piscinas e praias fluviais (que não foram atingidas pela seca…) e que proliferam por algumas zonas do nosso interior, acarinhadas pelos poderes locais.

No entanto, considerando o tema dos constantes noticiários televisivos e porque não há bela sem senão, felizes aqueles que não tiveram necessidade de recorrer aos serviços médicos dos hospitais do SNS que, segundo dizem alguns, atascados de problemas por falta de médicos e outros profissionais de saúde e que, na minha modesta opinião e tendo em conta que estes problemas já se revelam há muito tempo, eles são consequência de um mal maior que já conduziu à demissão da ministra da Saúde e que releva da cada vez maior concorrência das instituições privadas de saúde, onde os profissionais usufruem de salários mais elevados e da emigração para o estrangeiro, onde também se verificam melhores condições de trabalho. O que tem sido feito para minorar os problemas do SNS não tem passado de remendos pontuais, numa organização que é essencial aos portugueses e que anseia por uma profunda reestruturação, adaptando-a aos novos desafios e para quem a saúde das populações deve ser o seu principal desígnio.

No panorama internacional, não valerá a pena falar-vos da guerra na Ucrânia, que está para durar e cujas consequências todos conhecemos onde quer que residamos. Mas, porque tudo se relaciona, talvez uma nota final sobre o recente falecimento de Mikhail Gorbatchev, último líder da União Soviética, cuja ação política conduziu ao fim da “Guerra Fria” e à abertura do bloco soviético ao mundo ocidental, ao desmantelamento do muro de Berlim e à consequente reunificação da Alemanha. Viveu um período conturbado perante a exigência de várias repúblicas soviéticas que repudiaram o modelo económico e social da nomenklatura russa e optaram pela sua independência, desarticulando o antigo bloco de leste.

As suas ideias económicas, contidas na expressão “Perestroika”, normalmente traduzida por reconstrução profunda da estrutura económica soviética, substituindo a economia centralizada por uma economia de mercado e políticas, através da chamada “Glasnost”, que corresponde em russo à ideia de transparência e liberdade de expressão, iniciaram uma nova ordem mundial e a esperança de uma paz duradoura que permitisse aos povos viverem sem a ameaça de uma guerra nuclear.

Apesar de algumas das suas posições contraditórias, sobre a forma como se precipitaram alguns dos acontecimentos que vieram a concretizar-se, Gorbatchev acabou por permitir que 15 repúblicas se separassem da União Soviética, situação que leva Putin a considerar hoje o colapso da URSS como: “a maior catástrofe geopolítica do século XX”, tentando agora reverter a situação através da força, com a intenção manifesta de reconstruir esse antigo império.

O legado de Gorbatchev, pese embora a ambiguidade de algumas das suas atitudes em querer conciliar o antigo regime soviético com a liberdade e a economia de mercado, não pode deixar de ser considerado como responsável por uma das maiores transformações na história dos povos do século XX. Se as potências ocidentais da altura tivessem contribuído, de forma inteligente e generosa, para amenizar a conturbada situação económica e social que, entretanto, se instalou na Rússia, talvez o desfecho dessa transformação não fosse aquele que conhecemos hoje!

Luis Barreira/MS

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