Luís Barreira

O “Congresso das Direitas”!

Há cerca de duas semanas atrás realizou-se em Portugal um denominado “Congresso das Direitas”, promovido por um tal “Movimento Europa e Liberdade”, cuja sigla “MEL” não adoçou as relações entre os partidos políticos intervenientes!

Congresso das Direitas-portugal-mileniostadium
Créditos: DR.

Mau grado a utilização das expressões históricas de esquerda e direita, para caracterizar ideologicamente os partidos políticos atuais, que pouco ou nada têm a ver com a sua utilização original durante a Revolução Francesa (séc XVIII), continuarei no entanto a utilizá-las para melhor identificação aos usos atuais.

De facto, a designação de partidos políticos de direita ou de esquerda atinge hoje um vasto leque de opções ideológicas e de sistemas políticos, que vão desde o maior radicalismo à aproximação do “centro”, “centro-direita e “ centro-esquerda”, que adjetiva igualmente um posicionamento político-partidário que nem sempre é coincidente com as siglas públicas utilizadas pelos partidos ou movimentos sociais.

No referido “Congresso das Direitas” podemos visualizar o que antes afirmei.

Participaram nessa reunião vários partidos políticos portugueses representados na Assembleia da República, nomeadamente: PSD, CDS, Iniciativa Liberal e Chega, com claros objetivos eleitorais de aproximação entre eles, na disputa das próximas eleições contra o atual maioritário Partido Socialista.

O PSD (Partido Social Democrata), com grandes dificuldades de afirmação interna do seu dirigente e que recusa publicamente ser um partido de direita, insistindo ser do “centro”, o que legitima a crítica e fuga de alguns dos seus correligionários para formações partidárias declaradamente de “direita” ou a formação de novos movimentos mais adequados à sua leitura politica. Noutro sentido, o atual dirigente do PSD está convicto que a maioria dos eleitores do PS encontram-se no “centro” e qualquer abertura com os partidos à sua direita acabará por desviá-los do PSD e criar condições para entendimentos orçamentais e eleitorais entre o PS e os partidos à sua esquerda. Razão porque não modifica a sua posição.

O CDS (Centro Democrático e Social), partido claramente da direita conservadora, dirigido por um jovem presidente amplamente criticado pelos seus pares e cujas estimativas eleitorais rondam o seu desaparecimento da cena política nacional, utiliza a sua colagem ao PSD para mais facilmente poder vir a ter acesso ao poder indispensável à sua existência e o seu argumento político, enquanto partido da oposição, baseia-se fundamentalmente ao comentário dos fait-divers.

A IL (Iniciativa Liberal), um jovem partido que assume um liberalismo ideológico, ainda em “refrescamento” entre as ideias de um John Rawls e de um Robert Nozick, na procura de um eleitorado pouco habituado às ideias liberais no combate político, tenta estabelecer pontes entre os partidos considerados de “direita,” na procura de um lugar no circuito do poder.

O CHEGA, partido que se exibe como pertencente a uma “direita” radical, utilizando como argumentação a denúncia de todas as falhas da democracia portuguesa, para tentar impor as suas ideias na sociedade portuguesa e amedrontar eleitoralmente os dirigentes dos restantes partidos de “direita”, se estes não assumirem igualmente as mesmas posições públicas e o aceitarem como parceiro de próximas coligações eleitorais, tem gerado algum desconforto entre os outros dirigentes, sobretudo pela perspetiva de vir a obter alguns bons resultados eleitorais, evidenciados por alguns recentes estudos de opinião.

Assim, o “Congresso das Direitas” acabou por não endireitar coisa nenhuma até que o “tira-teimas” das próximas eleições permita rever a estratégia de cada partido ou, caso haja entretanto transformações nos cargos dirigentes do PSD ou do CDS, os partidos de “direita” mudem de posicionamento.

Neste “Congresso”, (logo seguido de um “Congresso do CHEGA”, que mais não foi do que o exibir de outras figuras da extrema-direita europeia, para além do “saco de gatos” em que habitualmente o seu dirigente transforma as reuniões do seu partido), mostrou que a direita portuguesa anseia por um líder incontestado para conseguir afirmar-se na sociedade portuguesa.

Este “sebastianismo”, historicamente inculcado nas mentalidades políticas destes dirigentes e envolto num nevoeiro de ideias meramente tácticas, esconde o elemento fundamental capaz de atrair o eleitorado e qualquer promissor candidato a liderar alguns destes grupos dispersos: a ausência de um projeto de sociedade diferente e melhor para Portugal!

Será que, nas atuais circunstâncias, podemos ter melhor do que temos? Na falta de filósofos e pensadores sociais que nos indiquem melhor futuro o PS, enquanto partido de prática social-democrata e situado ao “centro” do nosso sistema político, continuará a granjear o apoio da maioria dos cidadãos, desde que não cometa erros irreparáveis na sua governação. E alguns recentemente cometidos, pela sua implicação na saúde dos portugueses e na nossa economia, roçaram os limites da tolerância!…

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