Luís Barreira

É Natal, mas nem tudo é Natal!…

 

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É Natal! Mas a paz, a concórdia e a solidariedade, que esta data anuncia para muitos daqueles que se associam a esta efeméride religiosa, está longe de ser uma realidade, face a velhos e novos conflitos que afetam a humanidade e à pobreza que parece insanável em várias regiões do globo terrestre, perante uma continuada indiferença daqueles que tudo possuem para a poder sanar.

Por isso este Natal, com os mesmos e reforçados tristes acontecimentos de anos anteriores, acaba por ser um período de reflexão magoada sobre a natureza humana, que ainda não atingiu o tão almejado ciclo humanista que muitos desejariam e que parece cada vez mais distante desses propósitos.

Por isso este Natal, cujo conteúdo deveria ser o de uma celebração da vida, acaba por ser determinado pela confrontação de interesses de vária natureza, cuja finalidade é, tantas vezes, extinguir as próprias vidas.
Assim e como habitualmente, cristãos e não cristãos que festejam o Natal, na impossibilidade de festejarem a universalidade do conceito humanista que lhe é intrínseco, agrupam-se em termos familiares para o fazerem, no conforto possível das suas casas e na alegria e satisfação que lhes é permitida pela reunião com os seus entes mais próximos.

O Natal do século XXI modelou, através dos tempos, os hábitos tradicionais desta comemoração, sem deixar de reter alguns dos princípios que lhe são inerentes, mas transformando-os em outras lógicas sociais, políticas e económicas, que passaram a ser sentidas como limitações ao sentimento de felicidade destas celebrações.
Nas sociedades ditas desenvolvidas, as populações com mais baixo poder de compra, passam momentos de angústia na procura de presentes para ofertar às crianças e adultos, adequados ao seu dinheiro disponível e às expectativas de quem as vai receber. Perante uma intensa atividade publicitária televisiva e montras recheadas de possíveis prendas destinadas a suscitar o interesse dos cidadãos, a procura do produto ideal (e muitas vezes solicitado previamente pelas crianças e jovens), torna-se um verdadeiro pesadelo para muitos e um motivo de descontentamento sobre o período do Natal, para quem oferece e recebe as prendas natalícias, tentando respeitar alguns hábitos sociais erradamente enraizados na nossa cultura, sem os recursos suficientes para o satisfazer.

Tivemos guerras infernais e conflitos no passado que, durante o Natal, suspendiam as hostilidades, dando algum conforto aos beligerantes de ambos os lados. Hoje, de acordo com as afirmações dos responsáveis políticos pela guerra que tende a alastrar na Europa, nem isso parece possível. Os objetivos e a desumanização de alguns políticos do nosso tempo sobrepuseram-se à evocativa sentimentalidade do Natal, arrastando consigo dolorosas consequências em vidas humanas e marcando profundamente uma inesquecível e dolorosa recordação de um tempo que deveria ser de paz.

Mas, se o Natal é vulgarmente reconhecido como um período em que todos somos mais despertos para as necessidades dos mais desfavorecidos, contribuindo para uma solidariedade capaz de atenuar as precárias situações em que se encontram milhares de homens, mulheres e crianças, não é menos verdade (em consequência de alguns factos publicamente relatados) que “nos novos tempos da digitalização” nos sentimos cada vez mais apreensivos com o destino das nossas contribuições, face à fraude e corrupção que grassa em algumas organizações, supostamente destinadas a canalizar os recursos obtidos para essa parte da população, mas que utilizam esses recursos em usufruto próprio, corroendo a nossa confiança no momento da dádiva e roubando os que mais precisam.

Enfim, se bem que o Natal é tudo isso que acabo de afirmar, há no entanto espaço para homens e mulheres de boa vontade que, apesar das contrariedades sociais, políticas e económicas que nos pressionam e limitam, são capazes de erguer o essencial do espírito de Natal, independentemente da sua filiação religiosa, manifestando um carinho especial para com os outros, promovendo a concórdia e a solidariedade entre todos, sem se deixar iludir por falsos propósitos, nem por uma qualquer modernidade que mascare a sentimentalidade dos seus sentimentos. Dificilmente se consegue escapar a todas as influências sociais que delimitam as nossas atitudes neste período, nem sempre controlamos ou contornamos as imposições políticas que ferem os nossos desejos e nunca os nossos recursos económicos são maiores porque é Natal! Mas, porque é Natal, somos muitas vezes capazes de nos surpreender pela nossa capacidade em encontrar soluções capazes de aliviar o sofrimento de outros, estimular a compreensão e a conciliação entre todos e rejubilar de alegria pelo amor que dedicamos ao mundo. E, se mais nada nos restar fazer, aproveitemos as nossas festas familiares de Natal, para recordar o sofrimento de todos aqueles que não têm Natal.

Façamos das nossas inúmeras e tradicionais festas que se aproximam, uma extensão da felicidade que nos une aos nossos mais próximos, contribuindo para erradicar a tão martirizado situação e desumanização dos nossos dias, capaz de prolongar ao infinito o nosso espírito de Natal.
Um muito Feliz Natal para todos.

Luis Barreira/MS

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