Luís Barreira

Cai neve no Alentejo!

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Dizia aqui há dias um malicioso alentejano, no seu simpático linguajar: “Anda tudo ao contrário, o Sporting está em primeiro lugar e agora neva no Alentejo”!… De facto, embora estes acontecimentos não se verificassem há bastantes anos, eles não deixam de ser naturais e espetaculares, para gáudio dos sportinguistas e de todos aqueles que apreciam as longas planícies alentejanas tingidas de branco. 

O que não é natural nem apreciado por ninguém é o sucessivo aumento de vítimas da Covid-19, (após o alívio das medidas restritivas durante o período do Natal…) com mais de 100 óbitos todos os dias e um número de infetados diários a rondar os 10.000. Isto sim, é preocupante ver a roda da vida a deslocar-se ao contrário da saúde dos portugueses e a começar a criar um certo pânico nos hospitais e na capacidade destes em acolherem tantas doentes. Para superar esta trágica evolução da pandemia em Portugal, as autoridades sanitárias portuguesas e o Governo preparam-se para decretar o “quase fecho” do país, a partir desta semana, apelando à consciência dos portugueses para garantirem a sua proteção contra o vírus e ficarem em casa. Resta saber como vão ser garantidas algumas das necessidades inevitáveis desta forçada hibernação!

Na fase mais dramática desta pandemia em Portugal, decorrem igualmente as eleições presidenciais, com votação marcada para o dia 24 deste mês, data que constitucionalmente não poderia ser agora alterada e que vai colocar os portugueses à prova, desafiando o confinamento em nome do dever cívico de votar.

Embora todos os candidatos presidenciais se revejam nos argumentos que têm exprimido nos debates televisivos, como capazes de arregimentar o eleitorado para a sua eleição, o desenlace decisivo no dia das eleições está muito dependente das abstenções que, por via da situação pandémica que se vive, se possa vir a verificar. Nessa circunstância, até o candidato preferido das sondagens, o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pode vir a perder expressão eleitoral; além de poder vir a confundir-se o posicionamento real na sociedade dos restantes candidatos, pela militância de alguns eleitores na votação e a desistência de muitos outros a fazê-lo.

De qualquer das formas todos os candidatos presidenciais, à exceção do representante da Iniciativa Liberal, são sobejamente conhecidos do eleitorado português e os debates televisivos entre eles, independentemente do “folclore” de acusações mútuas que tem existido e que, pela sua acutilância verbal, identifica o carácter dos seus promotores, a escolha dos eleitores já está feita é só preciso concretizá-la!…

Mas os nossos olhos estão ainda presos pela invasão do Capitólio nos EUA, por parte dos seguidores incontroláveis de Donald Trump que, até ao fim do seu mandato, não parou de incentivar os seus apoiantes à sublevação contra a sua derrota eleitoral.

Os poderes constituídos americanos, não raras vezes, pela positiva ou pela negativa, têm sido alvo da minha crítica e comentário, sempre que provocam situações que me impressionam. Confesso, no entanto, que no seu historial, e no contexto que a minha vida de adulto tem permitido apreciar, houve, até hoje, duas situações que a minha memória reteve, pelo seu inesperado. 

Uma foi o ataque terrorista às Torres Gémeas, não apenas pelos milhares de vítimas que infligiu, mas porque foi cometido em pleno território americano, num dos seus maiores centros urbanos que, porventura, deveria ser dos mais vigiados e defendidos. Este criminoso ataque, para além de todas as suas consequências humanas e materiais, destruiu o mito da invencibilidade dos EUA e colocou a nu todas as suas deficiências de defesa interna. Este ato de guerra de uma força estrangeira no seu próprio país, pelo seu atrevimento e resultados, abalou profundamente a consciência dos americanos, crentes que, no quadro do cenário mundial existente, ninguém se atreveria a atacar a maior potência mundial, dentro do seu próprio território.

O outro acontecimento que me impressionou e vai perdurar na história americana como o seu maior desafio às suas veneradas instituições, foi a recente invasão do seu ex-libris da democracia, por parte de centenas de arruaceiros americanos, às ordens de um seu Presidente eleito, que sempre disse “ao que ia’, mas que ninguém quis acreditar no seu atrevimento. Naquele dia, os EUA foram vistos pelo resto do mundo como uma “República das Bananas”, como muitas daquelas em que este país interveio para colocar ditadores no poder e, mais uma vez, o impensável aconteceu, pelo que observámos da forma frouxa de defesa do edifício do Capitólio. Caiu por terra a tradicional imagem de respeito pelas suas instituições, que os americanos tanto prezam em transparecer e os EUA passaram a fazer parte do conjunto de países em que tudo pode acontecer! O mundo ficou mais pobre de bons exemplos.

Iniciei este texto a referir-me à beleza da neve nos campos alentejanos e acabei falando de gente e do seu mau comportamento. Mas, para suavizar o texto, uma nota à nostalgia da natureza, apetecendo-me citar Augusto Gil e a sua famosa “Balada da Neve”: “Batem leve, levemente…” Será chuva? Será gente?…”! Nestes últimos casos é de facto gente. Mas gente que incomoda toda a gente!

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