Luís Barreira

Brasil, terra de encantos (e desencantos…) mil!

 

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Não valerá a pena comentar o que toda a gente viu em diversos canais televisivos, com uma turba de manifestantes a invadir as instalações dos três poderes constitucionais brasileiros: o executivo, o legislativo e o judiciário, destruindo tudo à sua passagem, sem que ninguém lhes barrasse o caminho.
Não vale a pena comentar o que toda a gente viu, mas vale a pena tecer algumas considerações sobre como se chegou a isto!…

Como é que: uma grande parte da população pobre do Brasil continua a acreditar que as últimas eleições brasileiras, que elegeram Lula da Silva, foram fraudulentas; uma parte substancial das forças militares e militarizadas assume o apoio ao anterior Presidente Bolsonaro; um espaço não negligenciável e poderoso, da pretensamente esclarecida classe política do país, se encontra associada às ideias golpistas do chamado “ bolsonarismo” e os novos poderes constituídos, após as últimas eleições, se sentem fracos para conter estas sublevações e se comprometem com infindáveis negociações para melhorar a sua base de apoio político. Deu (ou dá…) para pensar que a democracia brasileira tem pés de barro e, como tal, para governar o Brasil não chega ser eleito, é preciso ter o poder e este é mais do que a maioria dos votos recebidos nas eleições! Se conhecemos uma boa parte dos factos, talvez importe falar sobre as suas origens.

Não foi a primeira vez que a utilização das novas tecnologias, nomeadamente as redes sociais, onde prolifera a intoxicação das populações com mentiras não desmentidas, opiniões disparatadas e incentivos ao ódio, além dos ciberataques às redes das instituições, promovendo a desestabilização dos poderes legalmente constituídos e condicionando os resultados eleitorais dos países em períodos eleitorais e pós-eleitorais, obrigando os mesmos a recomporem-se das dificuldades então criadas na governação.

Também não é a primeira vez que algumas das crenças religiosas, em países onde elas ocupam grandes espaços de intervenção junto das populações, assumem um papel de apoio político real e público, a ações de contestação aos poderes legalmente constituídos, utilizando os sentimentos religiosos dos seus fiéis, como arma de arremesso contra os políticos que não as apoiam incondicionalmente, que ameaçam diminuir os seus privilégios ou os daqueles que lhes asseguram o seu domínio e influência económica.

Os outros, aqueles habituais poderes económicos ou militares, que receiam perder as concessões e vantagens proporcionadas por um qualquer candidatado eleitoral que não lhes mereça a confiança de usufruto total dos seus lucros, ou alguns militares no ativo ou na reforma, que anseiam pela oportunidade de colocar as forças armadas no poder, deixando a situação social descambar até ao limite, para justificar a sua intervenção ditatorial, são duas alavancas reacionárias amplamente conhecidas, que fomentam a insubordinação, que normalmente se associam nos países da América Latina e que não deviam ser ignoradas no Brasil.

Todos estes fatores, aos quais se juntou (pelo bem e pelo mal…) o histórico de Lula da Silva, contribuíram para a arruaça que se tem verificado em alguns Estados do Brasil e que teve na invasão da esplanada dos “três poderes”, pela sua magnitude e simbolismo, um claro exemplo de como se poderia proporcionar um “Golpe de Estado”, obrigando desta vez as forças militares a intervir, uma vez que os acampamentos junto aos quartéis, com solicitações à sua intervenção e rezas ao Senhor, não tinham conseguido.

Felizmente ainda tal não aconteceu, mas que fazer perante um país tão dividido?

Fingir que nada se passou, agora que Brasília foi mais pacificada e que os acampamentos foram desfeitos, não me parece uma solução com futuro, embora alguma oposição ao governo de Lula pretenda uma paz consensual negociada, como forma de atenuar as divisões nacionais, o que não me parece o melhor remédio porque o “vírus” continua lá.

Castigar violentamente por vingança e prender toda a gente que se manifeste contra o governo, era o papel que caberia a uma ditadura militar que se tenta evitar, além de que proporcionaria um aumento das tensões existentes e a continuidade das atuais revoltas.

Agir de acordo com o quadro normativo que regula o país, castigando quem usou, ou não usou os seus poderes, proporcionando a injusta rebelião a que temos assistido, será o comportamento mais adequado, enquanto aplicação de medidas constitucionalmente previstas.

Na minha modesta opinião e depois de ter seguido com mais proximidade a situação no Brasil, a solução para o atual problema político e social no país, passa pela credibilidade popular nas frágeis instituições democráticas brasileiras e pôr fim aos escândalos que vulgarmente as ameaçam, sejam elas nos domínios do executivo, do legislativo ou do judiciário. É essencial dissuadir tanta população de exigir uma ditadura militar!

O povo brasileiro tem de acreditar nas suas instituições democráticas, enquanto elemento essencial à preservação da justiça, do mérito das suas leis, da insuspeição e confiabilidade no seu governo e, sobretudo, na manutenção da sua liberdade responsável.

Além de governar o seu povo, de acordo com as perspetivas que lhe asseguraram a sua vitória eleitoral e o bem-estar dos brasileiros, Lula da Silva terá de reafirmar os valores da democracia do seu país e gerir, atenta e corretamente, as contradições que se avolumaram nos últimos anos. Tarefas que, no seu conjunto, intercedem umas com as outras, fazendo com que uma mal resolvida ponha em causa todas as outras.
Termino desejando que as circunstâncias maioritariamente positivas se associem, a bem desse país maravilhoso que é o Brasil e de todos os brasileiros de boa-fé.

Luis Barreira/MS

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