Luís Barreira

As aventuras do ardiloso Joker e a espada justiceira do Batman!

Já alguém disse, a propósito do assunto que vos trago hoje que, em Portugal, a justiça anda devagar, mas acaba por chegar. Eu permitia-me acrescentar que ela nem sempre chega, por vezes chega tão tarde que acaba por prescrever e, quando chega, não se faz inteiramente justiça.

Vem isto a propósito do tão conhecido e badalado Joe Berardo a quem eu, pelas semelhanças do seu arrastado riso irónico e pelas trapalhadas em que se envolveu em Portugal, apelidaria de “Joker”!

Na passada semana o Ministério Público constituiu como arguidos o “Joker”, entre outros, acusado de ter causado “um prejuízo de quase mil milhões de euros” à CGD, ao Novo Banco e ao BCP. No processo que conduziu à detenção do “Joker” e do seu amigo e advogado, durante três dias nos calabouços da PJ para serem interrogados, está pendente uma acusação de burla qualificada, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, falsidade informática, falsificação, abuso de confiança qualificada e descaminho ou destruição de objetos colocados sob o poder público. Designado como Juiz de Instrução Criminal deste mediático caso está o “super Justiceiro” Carlos Alexandre (o mesmo do caso Sócrates, lembram-se?), que eu apelidaria de “Batman”, conhecido pela forma tenaz de como costuma brandir a espada da justiça!…

A investigação, que dura há quase dois anos e que culminou com uma longa lista de irregularidades cometidas, fazendo já 11 arguidos, entre eles, o ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos e do BCP, Carlos Santos Ferreira, por ter facilitado várias operações de financiamento de muitos milhões de euros ao ainda Comendador “Joker” e que causaram graves prejuízos ao banco, pelo não cumprimento do pagamento das respetivas dívidas.

Todo este processo incriminatório seguiu as pistas deixadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito em 2019, momento em que assistimos às risadas trocistas e em ar de gozo do “Joker”, declarando aos parlamentares da Comissão que não era responsável pelas dívidas, uma vez que quem as tinha feito eram as administrações das empresas (em quem ele manda!..), tal como não possuía bens, nem mesmo as imensas obras de arte alugadas ao Centro Cultural de Belém (CCB) e geridas por uma administração “independente” (em que ele manda!…). Era apenas dono de uma garagem!?… Como se considerava “pobre” (embora com uma vida de milionário…), com apenas uma magra pensão de velhice, parte dela penhorada, o juiz “Batman” decidiu, como medida de coação para o deixar sair em liberdade até ao julgamento e com o passaporte apreendido, que ele pagasse a “módica” quantia de cinco milhões de euros, em 20 dias. A não ser que um qualquer banco lhe empreste o dinheiro (nunca se sabe…) para se libertar, tinha chegado o momento em que se invertiam os papeis e o gozado era ele!…

É bem verdade que a sua detenção provisória durante três noites, não é sinónimo de condenação jurídica e, até à fase de julgamento, muita água sairá desta fonte de problemas em que se transformou a aplicação da justiça em Portugal.

“Joker”, com a sua postura social de “self made man”, enquadrado por uma comunicação social ávida de casos de sucesso, tratou-nos como saloios. E, eventualmente fomos, porque não soubemos (e porventura não sabemos…) distinguir a aparência endinheirada, do caráter de quem a veste!

Renegociando dívidas para obter mais empréstimos e, com eles, obter mais poder, mais pressão sobre os bancos, criar mais de duas dezenas de empresas que controlava indiretamente e mais reconhecimento social e político, “Joker” subiu a um patamar em que a queda lhe parecia impossível de vir a acontecer. Só que a sociedade portuguesa, por acontecimentos anteriores (nomeadamente banqueiros e políticos) que, de alguma forma, até podem estar relacionados com o seu caso atual, já não está tão virgem nestes escândalos financeiros e disposta a “engolir” todas as trapalhadas deste senhor, afirmadas por ele com toda a desinibição e ironia de quem está a ridicularizar o “Zé Povinho” que, no final de tudo isto, é sempre quem paga a conta!

Naturalmente que todo o complexo esquema que “Joker” montou com o seu amigo advogado (que para sair provisoriamente da cadeia teve de pagar um milhão de euros de caução), não podia funcionar sem o auxílio de “amigos” bem colocados e outros dispostos a serem cabeças-de-turco do patrão.

Alguns vão sendo apontados como prováveis, mas é ainda muito cedo para avaliar a dimensão do envolvimento destes e de muitos outros.

Se os meandros da nossa justiça derem a “Joker” a possibilidade de se escapar com as obras de arte que se encontram no CCB e que, só por si, dariam para pagar as suas dívidas e ainda fretar um avião para o reconduzir à Africa do Sul, onde dizem ter enriquecido com os restos do ouro das minas e explorando uma mercearia de frutas e legumes (??), temo apadrinhar uma contraditória solução: suspender o Estado de Direito e arregimentar um batalhão da GNR para defender o CCB contra todo o tipo de roubos, mesmo os disfarçados de imperativos legais!

Luis Barreira/MS

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