Luís Barreira

Alguém disse que a pandemia tinha acabado em Portugal?…

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Créditos: DR.

No início de abril, por indicação do governo, Direção Geral de Saúde e a maioria da nossa comunidade científica, Portugal começou a desconfinar por fases.

Apesar dos apelos aos cuidados a ter, os portugueses começaram a respirar algum alívio libertário das medidas restritivas que lhes tinham sido exigidas, os comerciantes começaram a acautelar a abertura dos estabelecimentos e as instalações hospitalares passaram a uma atividade normalizada, face ao número decrescente de doentes Covid. A reforçar a confiança que se instalou na sociedade portuguesa, a vacinação estava finalmente em boa marcha, recuperando dos atrasos na obtenção da vacina.

As diversas fases de desconfinamento foram-se sucedendo com algum sucesso, pese embora alguns casos pontuais em alguns concelhos do país e os portugueses foram ganhando (ou perdendo…) a convicção de que esta epidemia estava a acabar.

Em meados de maio, com a festa do Sporting em Lisboa, surge um primeiro sinal de que muitos portugueses da região e não apenas da capital, estavam a exceder-se, face ao perigo do descontrolo desta pandemia. No entanto, uns dias depois (20.05.21), já o governo sinalizava que havia um aumento de casos em Lisboa, embora não os associasse à citada festa. E no fim do mesmo mês, a final da Champions  na cidade do Porto, com a entrada no país de milhares de ingleses a comportarem-se, entre outras coisas criticáveis, sem nenhum respeito pelas normas de segurança anti-Covid, isso fez crescer o receio entre todos aqueles que, responsavelmente, tinham consciência que a epidemia ainda não tinha acabado.

Entretanto os casos de infeção pela Covid continuavam e continuam a subir até uma média diária que atualmente atinge as oito centenas de casos, quando no mês anterior rondava uma centena, perante um autêntico relaxamento da população mais jovem (20-29), nomeadamente de Lisboa e Vale do Tejo, situação que, para além dos enormes prejuízos causados ao nosso setor turístico, em consequência da decisão do Reino Unido em retirar Portugal da “lista verde”, obrigando os turistas britânicos a retornar ao seu país para não terem de se submeter a uma quarentena obrigatória, levou Lisboa a travar o desconfinamento previsto e, se a situação continuar a piorar, a ter de retroceder às fases anteriores de restrições mais duras.

O que se passou com as manifestações futebolísticas não explica todo o retrocesso que nos está a acontecer, mas é um claro sintoma de que uma parte razoável da nossa população, nomeadamente os jovens adultos, está convencida da sua relativa imunidade à doença ou que ela não os conduz a um estado de saúde crítico, a avaliar pelo atual decréscimo de falecimentos devidos à Covid. Naturalmente que a irreverência dos jovens em aceitar medidas restritivas da sua liberdade, também contribui para um certo relaxamento em relação à sua proteção, mas também não é de desprezar os efeitos de um certo individualismo educativo nesta camada da população porque, como todos sabem, se forem infetados poderão infetar muitos outros.

Para aumentar os riscos que estamos a correr, não podemos igualmente deixar de considerar os apelos à defesa da nossa economia, por todos aqueles com responsabilidades nesta área e que muitas vezes secundarizam a existência deste difícil e persistente vírus às necessidades de recuperação económica, sem considerarem que esse seu objetivo só é possível se caminhar lado a lado com a recuperação da saúde coletiva.

A todos estes somam-se os irresponsáveis e ignorantes de todas as idades: os negacionistas; os “a mim nada me atinge”; os “quero lá saber” e todos aqueles para quem Portugal ter atingido, até ao dia em que este artigo foi escrito, 855.951 casos de infeção confirmados e 17.044 pessoas falecidas por Covid, não lhes afeta o comportamento.

É pois necessário continuar a insistir e a provar que a pandemia Covid em Portugal não acabou. Outras variantes mais transmissíveis deste vírus, como são o caso da chamada Alpha (reconhecida no Reino Unido), responsável por 88,4% dos casos de infeção em Portugal e a variante Delta (encontrada na Índia e que já é predominante no Reino Unido), que é 60% mais transmissível do que a Alpha e que já foi identificada com 92 casos no nosso país (segundo um relatório da DGS e do INSA), são um perigo permanente para a saúde pública, um desafio às nossas autoridades na aplicação de medidas coercivas a todos aqueles que desafiam as medidas restritivas em vigor e um teste às comunidades científicas de todo o mundo, ainda com dúvidas substanciais sobre os efeitos destas novas variantes, na descoberta de vacinas eficazes contra estas e outras mutações deste vírus assassino.

Confessando a minha ignorância sobre esta matéria científica e reconhecendo as dúvidas persistentes e públicas da comunidade mundial de epidemiologistas, disse um dia, neste mesmo local, que teremos de nos habituar a viver durante muito tempo com a Covid. Mas, para viver com este incómodo e traiçoeiro “vizinho”, teríamos de exigir um esforço coletivo de toda a sociedade para conter os riscos da sua propagação.

Por isso e porque a pandemia ainda não acabou em Portugal, deixo mais este meu apelo: sejam prudentes!

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