Luís Barreira

Ah! Portugal… Portugal!…

Bandeiras-Ucrania-Portugal

 

 

Há certos acontecimentos em Portugal que, por desafiarem o entendimento comum de vivermos numa sociedade controlada e maioritariamente segura para os seus habitantes, começam por me provocar um sorriso de escárnio, seguido de desapontamento e acabando numa atitude de revolta, quando dou conta da sua existência.

Vem isto a propósito de uma situação com que se depararam mais de uma centena de refugiados ucranianos que se dirigiram às instalações da Câmara Municipal de Setúbal, para aceder à sua inscrição nas modalidades de acolhimento e solidariedade que esta Câmara, como tantas outras, colocou à sua disposição.

Embora a Europa em geral e o nosso país em particular, assumam claramente uma posição de apoio à Ucrânia, no conflito provocado pela invasão das tropas russas a este país e seja do domínio geral que algumas câmaras municipais portuguesas são dirigidas por elementos da CDU (PCP), partido que assume claramente uma posição pró-Kremlin, ninguém se questionou se, entre os funcionários camarários e as associações privadas que auxiliam estas câmaras municipais nestas atribuições, haveriam elementos que trabalham em estreita ligação com a embaixada russa em Portugal e com o Governo russo, podendo fornecer-lhes informações particulares sobre os refugiados e respetivas famílias, desafiando o secretismo legal dos dados pessoais destas pessoas e colocando em risco a sua segurança e dos respetivos familiares, que se encontram ainda na Ucrânia. E foi isso que “parece” ter acontecido na Câmara Municipal de Setúbal!

Pese embora a denúncia atempada da embaixadora da Ucrânia em Portugal de que algumas pessoas das associações cívicas russas existentes em Portugal, serviam objetivos de espionagem do regime de Putin, ninguém se incomodou a investigar os eventuais casos, nomeadamente algumas instituições do Estado português como o Alto Comissariado para as Migrações, o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), o SIS (serviços portugueses de polícia secreta), a multitude de organismos designados por Centros Nacionais de Apoio à Integração de Migrantes, ou ainda, neste caso concreto, a própria Câmara Municipal de Setúbal.

Segundo um semanário português de referência, os refugiados ucranianos foram recebidos na Câmara Municipal de Setúbal, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados desta Câmara, por um tal Igor Khashin (um russo com dupla nacionalidade), pertencente à Associação dos Emigrantes de Leste (“Edintsvo”- subsidiada desde 2005 até março passado pela Câmara de Setúbal), antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos e pela sua mulher russa, Yulia Khashin, empregada da mesma edilidade que, segundo as suspeitas, fotocopiaram documentos de identificação desses refugiados, fazendo-lhes várias perguntas sobre os familiares e locais que deixaram na Ucrânia o que, segundo o mesmo jornal, é um trabalho das associações que “podem servir de cobertura a elementos dos serviços secretos” da Rússia.

Sendo que Igor Khashin está ligado a associações que estavam nos sites da Ruskyi Mir e da Rossotrudnichestvo, instituições estatais criadas pelo Kremlin para divulgação da “cultura e do mundo russo”, adensam-se as suspeitas sobre o papel deste casal ao serviço da Câmara de Setúbal, no atendimento de 160 refugiados ucranianos, na maior parte mulheres e crianças, em situação de fragilidade e sem suspeitarem que as informações prestadas pudessem ser reenviadas ao seu inimigo.

A autarquia, pela voz do seu presidente, começou por repudiar “com a veemência, toda e qualquer insinuação de quebra de sigilo no tratamento de dados de cidadãos ucranianos acolhidos nos seus serviços”, acabando por retirar do seu serviço aos refugiados, a mulher de Igor Khashin e afirmando desconhecer esta personagem, o que está em contradição com o facto dessa autarquia, em 2019 e durante o mandato da anterior dirigente comunista desta Câmara, o ter condecorado com o título de “embaixador de Setúbal no mundo”. Por fim e após várias fragilidades do discurso do atual presidente desta Câmara, que afinal acabou por afirmar que “não punha as mãos no lume por ninguém” (!?), os partidos políticos portugueses decidiram querer ouvir, na Assembleia da República, o dito presidente da autarquia, que recebeu os ucranianos por elementos pró-russos. Admirado e irado, por reconhecer que os nossos serviços de Estado, nomeadamente numa situação como aquela que estamos a viver, procedem de uma enorme ingenuidade (…) no reconhecimento das pessoas que fazem parte das centenas (senão milhares) de associações cívicas existentes no país e na vigilância sobre o seu comportamento, sobretudo nas câmaras municipais portuguesas dirigidas pelo Partido Comunista Português, (assumidamente a favor da invasão russa da Ucrânia), tudo isto depois de há alguns meses antes ter sido detetado que a Câmara Municipal de Lisboa informava a Embaixada da Rússia em Portugal, sobre a identidade dos organizadores das manifestações de russos anti-Putin no país, interrogo-me para que servem os nossos serviços de segurança no controlo da intelligentsia russa e demais instituições portuguesas com responsabilidades nesta matéria, pagas e subsidiadas com o dinheiro dos nossos impostos.

Não basta expulsar alguns diplomatas russos, à semelhança do que fizeram outros países (e numa espécie de “Maria vai com as outras”), para afirmar que estamos atentos. Pergunto-me sobre o que seria (ou o que será…) se Portugal entrasse diretamente na guerra que opõe a Ucrânia ao invasor russo?

Sinto-me triste e indignado por acreditar que o meu país ainda preserva traços de uma fraqueza institucional, que se esconde sobre a pomposidade dos nomes de algumas das suas instituições e do desmazelo de quem as dirige!

Luis Barreira/MS

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