Luís Barreira

A seleção “vai-se catar”!

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Chegou a hora de jogadores, técnicos, comentadores, treinadores de bancada, adeptos do futebol e todos os milhares de anónimos que viram angustiados a seleção portuguesa perder este último desafio, “despejarem o saco” sobre o que correu mal no seu comportamento.

Marrocos venceu e festejou a vitória como se reeditasse o seu êxito na batalha de Alcácer-Quibir no séc. XVI. Os “mouros” passaram às meias-finais como se tivessem ganho a Copa do Mundo, vangloriando-se vigorosamente de terem ganho a Portugal e, nomeadamente, à equipa de Cristiano Ronaldo, qual D. Sebastião derrotado.

A participação da seleção portuguesa neste Campeonato do Mundo foi tudo menos normal e as anormalidades não se verificaram apenas por causas imputadas aos jogadores, ao treinador ou à qualidade das equipas adversárias, mas a um conjunto de fatores, dentro e fora do campo, que foram condicionando a opinião pública e, naturalmente, os intérpretes desta competição.

Para quem seguiu atentamente o comportamento da nossa seleção e os comentários mais agrestes que foram sendo emitidos, a culpa da nossa derrota foi: o treinador não presta para o atual tipo de jogo das equipas em competição; são bons jogadores, mas não são uma equipa; o ambiente no balneário era de “cortar à faca”; os nossos jogadores não se sacrificavam suficientemente; no relvado eram 10, mais um (Ronaldo); Ronaldo já não está na forma física necessária para este tipo de competição; Ronaldo apenas está nos jogos para defender a sua própria imagem; Ronaldo sozinho no ataque, sem a equipa a jogar para ele, nada faz; Ronaldo é um egocêntrico; Ronaldo foi malcriado para o treinador, Ronaldo,… Ronaldo,… Ronaldo!…

Se fosse dada a possibilidade de, a um mero observador (q.b.) como eu, também opinar sobre quais os problemas que afetaram o percurso competitivo da nossa seleção, eu reafirmaria o que se disse no parágrafo anterior acrescentando, no caso do último jogo Portugal/Marrocos que, o que nos faltou aí, foi a sorte e o engenho capaz de enfrentar a inteligência da estratégia da equipa adversária.

Se isso serve de consolação, grandes equipas tiveram o mesmo destino, mas para muitos de nós e para muitos estrangeiros que, entretanto, exibiam nos estádios a bandeira das quinas, Portugal chegou a ser o favorito. Porque jogávamos melhor? Talvez não. Mas porque tínhamos o campeão mundialmente reconhecido… Cristiano Ronaldo!

De facto, a “marca” Ronaldo, foi o que mais sobressaiu na nossa história do Mundial de 2022 e talvez por isso foi das coisas que mais prejudicaram o comportamento do jogador, dentro e fora dos estádios do Qatar. As pressões, as invejas, o diz que disse, as más-línguas e o enorme ego de Ronaldo acabaram por limitar a sua prestação.

O assumido estrelato de Cristiano, embora já antes do Mundial reduzido a polémicas do seu comportamento, fazia dele o ator principal de um grupo de jovens e habilidosos aspirantes a feiticeiros, que constituíam a equipa nacional, mas talvez a secundarização a que estavam votados pelos media nacionais e internacionais, tivesse contribuído para algum mal-estar entre eles e o líder e vice-versa, prejudicando o companheirismo da equipa. A vitória de 6-1 de Portugal sobre a Suíça, com Ronaldo praticamente no banco de suplentes, veio reanimar a equipa e demonstrar a muita gente que a sua presença em jogo não seria imprescindível para as vitórias nacionais, dando oportunidade a outros jogadores portugueses de demonstrar as suas capacidades. A quase repetição deste plantel no Portugal-Marrocos não resultou, quanto a mim e pelos motivos que já referi, mas também não acredito que, se o Ronaldo tivesse sido titular, o resultado teria sido melhor.

Não sei qual vai ser o destino deste formidável atleta que nos encheu de orgulho ao longo da sua carreira e pela qual Portugal lhe está imensamente reconhecido. Acredito que, depois do calor desta competição, da influência dos comentários pouco ajustados da sua prole familiar nas redes sociais, prevaleça o bom senso do jogador e, na escolha do seu futuro, não estrague o enorme sucesso da sua carreira, na procura de mais recordes que a sua idade já não permite. É hoje detentor de meios económicos suficientes para abarcar imensas atividades, que até podem passar pelo futebol, mas que não ponham em risco a epopeia das suas vitórias e a eterna recordação que os portugueses querem ter de, entre eles, terem tido o maior jogador do mundo.

Para os amantes de futebol: há mais bola para além do campeonato mundial!

Se bem que o orgulho nacional está intimamente ligado a estas competições internacionais, todos aqueles que fazem do futebol o seu desporto favorito, vão continuar a ter excelentes oportunidades de desfrutar destas emoções desportivas, com os campeonatos nacionais e o seu habitual envolvimento com os clubes de quem são adeptos.

Além de tudo, especialmente nesta modalidade desportiva que é o futebol, perder ou ganhar deverá ser sempre assumida como uma consequência sempre provável de qualquer competição.

A nossa derrota não é a morte, mas sim a oportunidade de agora sinalizar e corrigir o que de mal aconteceu com a nossa seleção, jogadores e treinador, sem receio que esta introspeção possa influenciar o rendimento da equipa.

Luis Barreira/MS

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