Luís Barreira

A minha aventura como emigrante (5)!

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Como afirmei na anterior crónica e associada à minha atividade profissional, colaborava pro bono especialmente com uma das rádios piratas que emitiam em português no Luxemburgo.

No entanto, no ano de 1992, o Governo luxemburguês determinou o seu fecho e abriu algumas frequências em concurso para rádios profissionais em FM, ao qual concorreram várias propostas de portugueses e luxemburgueses, tendo ganho um dos projetos portugueses, com quem eu colaborava: a Société Europèene de Communication Sociale, que dá pelo nome de “Rádio Latina” e que começou a emitir a partir de 5 de outubro de 1992.

Tratava-se de uma rádio comercial que, pelo seu Caderno de Encargos, era obrigada a usar várias línguas de comunicação, tais como: o francês, o italiano, o espanhol, crioulo cabo-verdiano e, maioritariamente, o português, para o qual a rádio deveria ter as diversas equipas de produção e locução radiofónica. Os seus acionistas eram empresários portugueses, associações luxemburguesas de defesa de emigrantes, um sindicato, uma agência de publicidade e, maioritariamente, o Luxembourg Wort (o maior jornal luxemburguês, propriedade da Igreja Católica do país).

No início de 1993 fui convidado pelo acionista maioritário a aceitar, a meio tempo, a direção da empresa, sob a responsabilidade geral de um outro diretor que era acionista. Um pouco mais tarde, um plenário dos acionistas solicitou-me dirigir totalmente a empresa, enquanto gerente e diretor-geral, situação que não aceitei de imediato sem verificar as contas e a forma de ultrapassar as necessidades básicas da empresa. Concluindo que a empresa estava já em falência técnica e os equipamentos necessários eram insuficientes, decidi só aceitar o cargo se os acionistas principais aumentassem o capital social que já estava esgotado. O que veio a acontecer através de alguns investimentos de capital!

Mal sabia eu no que me estava a meter!… O desafio era grande e as dificuldades eram enormes!
Embora com alguma experiência de gestão, mas ignorando como se geria especificamente as particularidades de uma empresa radiofónica no Luxemburgo, para além dos: impostos, alugueres, salários, contribuições, rendas, eletricidade, gás e água, mas outras matérias (leituras anuais de audiência, comissões publicitárias, controlos obrigatórios das difusões, relatórios mensais para o Estado, várias antenas espalhadas pelo país, custo de equipamentos técnicos e um rol de despesas obrigatórias a prazos certos com as comunas locais), apresentavam um quadro que se mostrava difícil, mas não impossível de ultrapassar, a não ser com o empenhamento e alguns sacrifícios dos mais diretos colaboradores.

Uma empresa que viveria, tal como todas as outras rádios do país, apenas dos seus recursos publicitários, junto de uma comunidade como a portuguesa que, na altura, não era ainda suficientemente apelativa para atrair os anunciantes, obrigar-nos-ia ao contacto pessoal com bancos, grandes superfícies, marcas de automóveis e outros, convencendo-os de que os portugueses também eram consumidores, além da pressão permanente sobre a régie publicitária de grandes clientes luxemburgueses e pouco preocupada com as dificuldades de uma rádio multicultural como a Rádio Latina.

Tais circunstâncias implicaram a necessidade de encontrarmos fontes de rendimento paralelas ao trabalho radiofónico, mas com ele interligados, capazes de suprir as curvas negativas dos rendimentos publicitários e ajudar a pagar as despesas. Razão que nos conduziu a fomentar: a realização de grandes concertos musicais, com grandes artistas portugueses; festas promocionais de grandes superfícies comerciais; de marcas de automóveis, de empresas de mobiliário, de festas comerciais de rua, etc. O que veio a acontecer nos primeiros anos da rádio, com a colaboração gratuita de todos os nossos animadores.

Para o mesmo efeito decidi criar e dirigir uma agência publicitária, a “Publilatina”, destinada a aumentar o fluxo de receitas publicitárias, ocupando pessoas que também eram úteis à programação da rádio.

Um outro aspeto não menos importante era o facto de a rádio ter inicialmente um pequeno conjunto de funcionários e colaboradores externos, que ainda não tinham sido profissionalizados nas funções que tinham de desempenhar: locução, produção, técnica, redação e administração. Jovens cheios de boa vontade, mas muito inexperientes, que foram evoluindo com a própria rádio.

Tivemos igualmente de ultrapassar (com longos diálogos…), as exigências de programação não-exequíveis por parte de alguns acionistas minoritários, que se consideravam como “patrões da rádio”, mas sem nenhuma preocupação com os recursos económicos existentes.

As constantes alterações tecnológicas em rádio, que se sobrepunham às já grandes despesas permanentes com a sua manutenção, como a compra dos equipamentos necessários para efetuar a passagem do sistema analógico ao digital e a modernização da rádio com os elementos essenciais ao seu futuro, dotando-a de: vários estúdios ON AIR, gravação, produção, redação, sala de reuniões e escritórios administrativos, onde trabalhavam homens e mulheres de várias nacionalidades com o estatuto de empregados e colaboradores externos remunerados, acresciam as despesas e, naturalmente, as preocupações.

Mas assim se foi tornando realidade uma rádio de expressão maioritariamente portuguesa no Grão-Ducado do Luxemburgo, que teve a honra de ser agraciada pelo Governo português e que entrevistou vários Presidentes da República portuguesa, presidentes da Comissão Europeia; de Timor; ministros e deputados portugueses e luxemburgueses, embaixadores, cônsules, gente das artes e da literatura e tantas outras figuras públicas que nos honraram com a sua presença nos nossos estúdios.

Tudo isto inserido numa grelha de programação de 24 horas por dia, que privilegiava programas de entretenimento, informação, debate, desporto, cultura, música e lazer e que fez da Radio Latina uma companhia permanente da numerosa comunidade portuguesa e das outras comunidades que servia.

Hoje, 30 anos depois, a Radio Latina continua a emitir e, felizmente, já sem as dificuldades de outrora. Se tive algum mérito durante os cerca de 17 anos em que permaneci na direção desta rádio, até à minha reforma, devo-o ao companheirismo de um grupo de funcionários e colaboradores dedicados, que nunca me voltaram as costas aos sacrifícios que lhes pedi, aos acionistas que em mim confiaram e a uma população que nos acarinhava.
Para a semana voltarei com os aspetos finais desta minha aventura como emigrante.

Até lá, um abraço.

Luis Barreira/MS

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